A síndrome do satélite

A recente odisséia do satélite espião desgovernado, que exigiu verdadeira logística de guerra e sofisticada operação de navios e mísseis para sua destruição no espaço, suscita reflexões sobre a aplicação correta e adequada da tecnologia. O artefato, lançado em 2006 pelos Estados Unidos, jamais foi utilizado, não funcionou e, fora de controle, se tornou séria ameaça, conforme reconheceu o próprio governo norte-americano em comunicado às Nações Unidas. Caso caísse na Terra, especialmente em áreas povoadas, a hidrazina, substância altamente tóxica de seus tanques, colocaria em risco a vida de pessoas. Felizmente, a destruição em órbita teve sucesso, mas o prejuízo foi enorme, somando o investimento inicial equivocado, a impossibilidade de amortizá-lo por meio do uso intensivo e o imenso custo de sua desativação.

O episódio suscita interessante analogia com o processo de atualização tecnológica das empresas, pois nem sempre um investimento realizado responde adequadamente à sua necessidade quanto à melhoria da qualidade, redução de custos, melhor adequação à demanda e respostas mais eficazes às exigências dos clientes e dos mercados. Obviamente, um erro nesse processo provoca grave ônus, ameaçando a estabilidade financeira, o fluxo de produção e até mesmo o posicionamento da organização no mercado.

O investimento em máquinas, equipamentos, hardware e software jamais deve ser realizado sem um cuidadoso estudo prévio, de modo a garantir a eficácia das aquisições quanto ao funcionamento, à capacidade de atendimento às necessidades técnicas e também à adequação do fluxo de amortização ao perfil da dívida referente ao financiamento. Muitas vezes, é fundamental buscar ajuda abalizada, para evitar um erro cuja reparação é sempre complexa e altamente dispendiosa.

Neste momento que antecede à Drupa, maior feira mundial de máquinas e equipamentos para a indústria gráfica, o alerta é muito pertinente para os empresários brasileiros do setor, que, em 2007, investiram US$ 1,43 bilhão em máquinas e equipamentos importados, valor 241% acima dos US$ 419 milhões aplicados no mesmo período de 2006. O evento, realizado a cada quatro anos, em Dusseldorf, na Alemanha, delimita os próximos passos da tecnologia. É sempre o fator que desencadeia um fluxo global de investimentos em atualização tecnológica. Sua vitrina é fascinante! Máquinas e equipamentos futurescos, processos mirabolantes de TI, um universo digital quase mágico e soluções revolucionárias aguçam o interesse de todos os que amam e lidam com as artes gráficas.

Assim, para que a Drupa realmente signifique uma oportunidade positiva de agregar valor e eficiência às empresas, é preciso racionalizar, por mais que o seu apelo lúdico desperte avassaladoras paixões em empresários e técnicos de uma atividade que, a despeito de todo o racionalismo da economia contemporânea, não consegue desvincular-se totalmente da emoção (felizmente...). Com o intuito de ajudar os visitantes da feira a terem a exata dimensão da aplicabilidade — no nicho de mercado e escopo de atuação de cada gráfica — das soluções, máquinas, equipamentos, software e hardware expostos em Dusseldorf, a Associação Brasileira de Tecnologia Gráfica (ABTG), que é uma Organização da Sociedade Civil de Direito Público (OSCIP), estará presente ao pavilhão da Messe, na cidade alemã, durante toda a realização do evento, de 29 de maio a 11 de junho.

Trata-se de uma consultoria sem custos, prestada no já tradicional estande da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf) na Drupa e também em seminários posteriores ao evento. Um trabalho, de fato, bastante útil para o setor, pois investir corretamente em novas tecnologias é necessário para o sucesso dos negócios e aumento da competitividade. Entretanto, é vital evitar desastre análogo à síndrome do satélite espião norte-americano, pois erro similar pode colocar uma empresa em órbita...

. Por: Reinaldo Espinosa, presidente da Associação Brasileira de Tecnologia Gráfica (ABTG).