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27/03/2018 - 08:00

Juros ainda envenenam o país

As altas taxas de juros praticadas por anos no mercado brasileiro geraram distorções tanto na postura dos investidores quanto nas dos consumidores e empresários. Os recentes cortes da Selic, que hoje se encontra a 6,5% ao ano, alteram este comportamento pontualmente, mas a cultura pela busca do ganho fácil ainda demorará a ser modificada. A retração dos juros levou ao aumento do consumo e à busca por investimentos alternativos, mas sabe-se que a economia do país é uma gangorra e, muitas vezes, os ciclos de altas e baixas são muito rápidos, o que compromete planejamentos. Vide que os juros reais de longo prazo ainda estão em nível elevado. Não há convicção de que os juros baixos vieram para ficar.

Historicamente, a Selic acima de dois dígitos viciou os brasileiros. Muitos, por exemplo, ao se acostumarem com os elevados ganhos nominais da renda fixa, esquecem os ganhos reais e, ao fazerem esta conta, identificam uma rentabilidade muito menor do que esperada. Hoje, a taxa real de juros no Brasil de curto prazo está ao redor de 3% ao ano. No longo, o percentual fica em 5%.

Esta postura difere muito da realidade mundial, onde os investimentos nominais rendem menos, mas, com preços muito mais estáveis, proporcionam uma remuneração real maior e mais previsível. Nos Estados Unidos, por exemplo, um investimento imobiliário gera um retorno nominal ao redor de 6% ao ano, o que corresponde a um ganho real de 5,5% em dólares. Claro que a conta espelha a realidade brasileira atual. Mas o fato é que, enquanto o estrangeiro prefere um ganho menor e constante, o brasileiro habituou-se à busca por mais e mais, mesmo que em uma gangorra ilusória. Ontem ganhou muito e, agora, é órfão de alternativas.

A Selic sempre foi um fator de controle e de estímulo da recessão no Brasil, vide o que aconteceu nos últimos meses. Após a queda dos juros, o consumo aumentou, inclusive no turismo. O mercado reaqueceu fortemente depois do início do ciclo de cortes. No segmento de aluguel de casas de temporada, por exemplo, há uma recuperação das perdas provocadas pela instabilidade política e econômica dos últimos anos.

Além disso, investidores com perfil conservador, avessos aos riscos da renda variável, passaram a observar oportunidades em outros mercados, como a compra de imóveis no exterior voltados para aluguel de temporada. Os Estados Unidos são um dos principais destinos desses aportes e, não por coincidência, o mercado onde os aplicativos voltados à locação de imóveis mais cresceram. Naquele país, no início de 2016, havia mais de 100 sites especializados em hospedagem por temporada, com mais de 4 milhões de ofertas para locação.

Enquanto mudam o mercado de hospedagem, aplicativos como o Airbnb e seus pares também elevam significativamente a lucratividade de proprietários que destinam seus imóveis para aluguel. Além da remuneração ser bem superior à de um contrato convencional de locação, o uso dessas ferramentas propicia que o tempo de vacância do imóvel seja significativamente reduzido. Em cidades como Orlando, na Flórida, o retorno chega aos 12% anuais.

A busca por ativos desta natureza se intensificou entre os jovens brasileiros, que assumem a administração do patrimônio das famílias e lançam mão da tecnologia para ampliar seus ganhos. Esta é uma pequena mudança de postura para um país envenenado pelos juros altos.

. Por: Ricardo Molina, CEO da Talent Realty.

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