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10/04/2008 - 09:09

A Crônica do Alexandru Solomon


Eis uma fórmula batida. De certa forma, os autores querem se ver livres de problemas. Esses problemas vão desde pequenas desavenças até processos por injúria ou difamação. É claro, dirão, existe a liberdade de expressão, garantida pela Constituição. No entanto, essas garantias não colocam o autor numa redoma, imune à reação do público. Muito bem. Na semana passada, dirigi-me a uma hipotética donzela, ao dedicar-lhe a tal paixão serôdia.

É preciso deixar claro um conceito, que a mim parece elementar. Não é preciso ter vivido uma experiência para descrevê-la. Invocar o testemunho de um ente, produto da ficção, não significa, necessariamente, passar um recado a seres, por sua vez, produtos de um ventre materno. Recebi algumas mensagens, fazendo menção à ambigüidade das palavras introdutórias. "Toda e qualquer semelhança".... Qual seria a semelhança? Quem seria a donzela? Pois bem. Em primeiro lugar, não estou seguindo os cânones do realismo socialista. Conflitos, sentimentos, sensações, podem experimentar, em qualquer grau, um descolamento total da realidade. Se esse foi o caso, deixo a resposta aos meus biógrafos, admiradores ou detratores. Está bem assim?

A paixão do indivíduo maduro por uma donzela é um fenômeno razoavelmente comum, ou pelo menos, não é uma violação das leis da natureza. Há quem diga que as leis naturais sofrem, nesse caso, uma interpretação benevolente em demasia. Pura bobagem. Para os amadores da teoria dos conjuntos, é possível falar num conjunto intersecção na vida de cada um dos integrantes do tal casal. Um parêntese temporal. Enquanto estiverem transitando naquele espaço, de atmosfera rarefeita talvez, a diferença de idade pouco importará. Será, como já disse alguém, a junção da juventude madura com a maturidade juvenil. E se não disse, digo eu. É óbvio que a extensão de um tal conjunto, teoricamente, é menor do que a usual, que corresponderia à associação comumente esperada e por essa razão menos exótica de seres pertencentes à mesma faixa etária. Teoricamente? Claro. Viver uma "eternidade", digamos, cinco anos, nas condições da idade desbalanceada, pode ser melhor que uma reclusão perpétua à qual estariam condenados diversos casais convencionais. O Diabo pede licença para falar: "E quem garante qualquer duração?", diz ele. Ponto para o Diabo. Segue-se um longo debate acerca dos méritos e deméritos de experiências mornas de longa duração, comparadas com paixões intensas de curta duração. Um matemático discorreria sobre a constância do produto intensidade x tempo.(T x I= K) fica claro que a um T menor, corresponde um I maior, já que o produto é constante. Para um T tendendo a zero, I tende a infinito (aquele oito deitado). Então, se de fato existe essa constante universal, teoria da qual não sou adepto, ela requer uma demonstração não matemática. Os franceses, bem antes de serem os arrogantes de hoje, cunharam a expres­são "coup de foudre". Seria a paixão instantânea, a combustão espontânea. Na poesia "Paixão serôdia", de minha autoria, cuja condenação à posteridade parece duvidosa, salientei apenas alguns aspectos cômicos, presentes, naquilo que imagino ser uma relação "desbalanceada". A dança ritual em volta do amor cabana é tratada de forma humorística.

Um outro ponto a ser revisto é a tal "mensagem". Modismo ou não, qualquer que seja a obra, segue de imediato "uma colocação analisando a mensagem". Mensagem essa contida num texto ou na sua apresentação. A quem porventura achar que lanço mão desse artifício para transmitir recados, admoestações ou súplicas, tenho de voltar ao início e dizer que não há recados, muito menos ambigüidades. Depois que Pilatus lavou as mãos, ótima idéia e bastante higiênica, surgiram legiões de seguidores e praticantes. Dito isso, é claro que se cada leitor achar que algo lhe foi dedicado, tanto melhor, pois significa que de alguma forma identificou-se com alguma parte do texto. Marcar o leitor é sempre um sucesso. Quantos autores poderiam se vangloriar de tal proeza, mesmo sabendo que toda e qualquer coincidência não passa de um capricho do destino? Para quem aspira à fama, há apenas duas alternativas. A primeira consiste em causar impacto. A segunda alternativa inexiste.

Um último reparo, dedicado aos pensadores alinhados com o ditado: "Os opostos se atraem". Trata-se de uma proposição que, a meu ver fica incompleta sem o adendo: "mas não conseguem conviver". A recíproca desse teorema é de difícil formulação, pois pressupõe o fim da coexistência. Então, às vozes maviosas que murmuram: "Partir é morrer um pouco" só pode ser contraposta reflexão: "Ficar é viver um pouco". Naturalmente, sem procurar semelhanças, paradigmas ou modelos.

. Por: Alexandru Solomon, escritor, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas. Tem seu recente romance´Não basta sonhar` (Ed. Totalidade) disponível nas livrarias Cultura (www.livrariacultura.com.br), Saraiva (www.livrariasaraiva.com.br) e Laselva (www.laselva.com.br). | [email protected]

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