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23/06/2018 - 08:01

Rebanho Brangus cresce mais de 80% no Brasil em dez anos


Nos últimos dez anos, o número de registros de bovinos da raça Brangus cresceu mais de 80% no Brasil, passando de cerca de seis mil para 10.785 animais registrados, conforme a Associação Brasileira de Brangus (ABB). O pesquisador da Embrapa Pecuária Sul (RS) Joal Brazzale Leal acredita que o número está aquém da realidade observada no País, já que muitos pecuaristas não registram seus animais. Reconhecida por fornecer carne com gordura entremeada valorizada por mercados exigentes, a raça encontra-se em franca expansão de norte a sul do País.

“A maior parte dos animais Brangus está nos rebanhos de produtores comerciais, que são a grande maioria no País, e somente as cabanhas especializadas em produzir animais com genética superior é que costumam registrá-los nas suas respectivas associações”, detalha o cientista que também preside o Conselho Técnico da ABB. Para ele, a expansão da raça Brangus é fruto de esforço de pesquisa.

Mais de meio século no Brasil — Os primeiros experimentos para formação do Brangus, raça composta de bovinos taurinos (Aberdeen Angus) com zebuínos (Nelore), no Brasil, começaram no ano de 1946, no Sul do País. Leal conta que o empenho da Embrapa na formação do rebanho-base e na organização da associação de criadores desses animais foi fundamental, pois deu o suporte necessário à ampliação do Brangus para outras regiões. Com o passar do tempo, a raça ganhou prestígio entre pecuaristas de diferentes partes do Brasil e também por um nicho de mercado formado por consumidores mais exigentes, ávidos por uma carne mais marmorizada, macia e suculenta.

O desenvolvimento do Brangus uniu características das raças zebuínas, como rusticidade, resistência a parasitas, tolerância às variações climáticas e habilidade materna, com vantagens verificadas nos taurinos, como qualidade da carne, precocidade sexual, elevado potencial materno e fertilidade. “Além de produzir uma carne de qualidade, a habilidade materna, que é a capacidade de criar bem seus bezerros até o desmame, é o ponto mais forte do Brangus, como também, a menor suscetibilidade ao carrapato”, aponta Leal.

A maior parte do rebanho Brangus registrado ainda está no Rio Grande do Sul, porém, a raça é vista desde o extremo sul até o extremo norte do País, nos estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Tocantins e Pará. Desde o início da ABB, até o ano de 2016, foram registrados 425 mil animais da raça, explica a Superintendente do Serviço de Registro Genealógico da ABB, Renata Pereira. Aproveitamento de sêmens de Angus em Nelore

Esse crescimento do Brangus também pode ser percebido pelo fato de a raça formadora Angus ter se tornado a principal raça de corte usada para inseminação artificial no Brasil, predominante em 14 estados brasileiros, pelos dados da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia). Com isso, muitas vezes o sêmen é utilizado em vacas Nelore para aproveitar os benefícios do melhor desempenho dos filhos em relação aos pais, utilizando o melhor de cada raça (heterose). Brangus tem mercado milionário

Segundo Joal Brazzale Leal, o Brangus tem gerado anualmente ao setor produtivo centenas de milhões de reais. “Por ano, são vendidos cerca de dois mil touros Brangus de, em média, R$ 8 mil cada, o que dá R$ 16 milhões. As fêmeas, vendidas a R$ 3 mil por cabeça, são cerca de cinco mil, o que dá R$ 15 milhões. Isso sem mencionar as incontáveis vendas particulares. Há ainda que se adicionar à conta o processo do abate, do qual não se tem controle exato, mas se estima em algumas centenas de milhões de reais”, aponta o pesquisador.

Enquanto a soma de exportações de doses de sêmen de bovinos de corte no Brasil (66.976), em 2014, caiu 25,6% em relação a 2013, as exportações de sêmen da raça Brangus foram de 7.952. Isso representa um crescimento de 98,8% nesse mesmo período, de acordo com a Asbia. A produção de sêmen total de Brangus (pelagem preta) aumentou 32,5%, com um total de 99.004, e o Red Brangus (pelagem vermelha) aumentou 166,6%, com total de 61.114 doses produzidas.

“A venda de sêmen Angus (mais de três milhões de doses) tem sido majoritariamente utilizada para inseminar vacas zebuínas, em todo o Brasil, gerando Brangus meio sangue. Fiz um cálculo estimado de que 70% de nascimentos por meio dessa inseminação artificial nos daria de 700 mil a um milhão de fêmeas Brangus meio sangue nascendo no País. Essas vacas podem ser usadas para gado comercial ou para avançar em ganhos de geração para fazer registro”, conta o pesquisador da Embrapa Pecuária Sul Joal Brazzale Leal.

Produtor busca carne de melhor qualidade — O objetivo dos pecuaristas que têm utilizado o Brangus é obter maiores ganhos nas características mais desejáveis pelo mercado e pelos consumidores. “Estive no Texas (EUA) e vi que o Brangus vem crescendo muito lá. É uma forma de ter um sangue Angus, que é a melhor raça para carne, em função de maciez, marmoreio, sabor e suculência. Do Paraná para cima, sem ser por intermédio da monta natural, a única forma de termos isso é com o Brangus”, conta Carlos Eduardo Ribeiro do Valle (conhecido como Cadu), vice-presidente da ABB e produtor com fazendas no Mato Grosso e no Pará, com 170 e 250 animais Brangus registrados, respectivamente.

No Pará, onde a raça foi introduzida há três anos, ela vem ganhando cada vez mais importância e a produção é quase toda destinada à exportação. “Grupos exportadores do estado enviaram recentemente 12.500 bezerros de 180 a 300 quilos para a Turquia, que exigia animais sem cupim e pretos, exatamente o Brangus, pagando R$ 6,10 o quilo vivo, enquanto o normal seria pagar em torno de R$5,00. Esse diferencial está incentivando o produtor a trabalhar com a raça”, relata Cadu.

O criador lembra que, em um leilão realizado no ano passado, a média de venda dos touros Brangus foi de R$14.600,00 (em parcelas) e as fêmeas, R$9.500,00. “Esse é um resultado muito bom. E a maior parte dos compradores era do Pará, visando essa compra para a exportação”, informa.

Melhoramento genético da raça — Especialmente nos últimos 30 anos, as pesquisas com melhoramento genético bovino vêm trabalhando as características de maior interesse do setor produtivo. Segundo o pesquisador Marcos Yokoo, da área de melhoramento genético da Embrapa Pecuária Sul, o objetivo é gerar mais ganhos para o pecuarista e para o consumidor.

O trabalho científico busca características demandadas pelos produtores: animais mais resistentes a carrapato, mais produtivos e mais dóceis. “Além disso, a pesquisa visa resgatar a linhagem original do rebanho Brangus-Ibagé, raça formada no ano de 1946, no Brasil, no município gaúcho de Bagé”, conta Yokoo, responsável pela pesquisa.

Desde 2013, a Embrapa Pecuária Sul (RS), em parceria com a Embrapa Pecuária Sudeste (SP), vem trabalhando em um novo projeto para dar bases científicas à criação de critérios para a expansão da raça de uma forma mais sistematizada, visando a sua consolidação no Brasil.

História do Ibagé a Brangus — A contribuição do melhoramento genético, nas últimas décadas, foi fundamental para o aprimoramento das raças bovinas. No Brasil, os trabalhos iniciais para a formação e desenvolvimento do Brangus começaram 70 anos atrás, na Fazenda Experimental Cinco Cruzes, no então Departamento Nacional de Pesquisa e Experimentação Agropecuária (DNPEA), onde hoje funciona a Embrapa Pecuária Sul, em Bagé (RS).

Na década de 1950, os pesquisadores obtiveram os primeiros resultados dos cruzamentos. Em 1979, foi fundada a Associação Brasileira de Ibagé (ABI) e, em 1981, foi registrado o primeiro animal, de tatuagem “547”, de nome “Anú das Cinco Cruzes 547 38I”, de propriedade da Embrapa. O rebanho Ibagé foi o primeiro a participar do programa genético Promebo, da Associação Nacional do Criadores (ANC).

No ano de 1988, a associação passou a se chamar Associação Brasileira de Brangus-Ibagé e, posteriormente, Associação Brasileira de Brangus (ABB), visando facilitar o intercâmbio em nível internacional. Após dez anos operando nas dependências da Embrapa Pecuária Sul, a sede da ABB foi transferida para Campo Grande (MS).

Batizada inicialmente de Ibagé, posteriormente chamada de Brangus, a raça começou a ser criada comercialmente de forma mais intensa na década de 1970. Os primeiros trabalhos procuravam obter animais mais eficientes e mais aptos a pastejos em forragens grosseiras, muito comuns na Região Sul. Outro objetivo era gerar bovinos com mais adaptabilidade a variações climáticas, e mais resistentes a carrapatos, problema mais comum nos bovinos de origem europeia, como Angus e Hereford.

“Até os dias atuais, há 13 gerações de Brangus aqui dentro da Embrapa Pecuária Sul. O rebanho da Embrapa é o de maior avanço geracional no País, senão da América do Sul”, explica Joal Brazzale Leal. “O Brangus é um exemplo clássico de desenvolvimento de pesquisa. É importante destacar que, ao longo desses anos, a raça Brangus não ficou somente na pesquisa científica, mas também no desenvolvimento com os criadores, formando um elo forte com a cadeia produtiva, comprovado pelo sucesso da raça no País, demonstrado pelos números”, afirma Leal.

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