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12/04/2008 - 11:30

PAC x A obesidade crescente da máquina


Temos PAC. Teclados frenéticos cuspiram pareceres que oscilam entre o apoio franco à posição do Governo - era o que se poderia fazer, respeitando a democracia - e considerações menos elogiosas, nem por isso, desprovidas de sentido. Mais uma vez, fica evidente o perigo de se usar metáforas num discurso que se diz sério. Está certo, quod licet Jovi non licet bovi. O que é permitido ao presidente, talvez não o seja ao comum dos mortais. Mesmo assim, que tal tentarmos ilustrar com metáforas essa admirável listagem de propósitos semi-novos? Quem começou foi nosso grande Guia ao afirmar que não desejava entrar na Rua Augusta a 120 por hora, pobre Hervé Cordovil! Como entrar a 120 por hora se "o carro não tem breque, não tem luz, não tem buzina, tem três carburadores todos os três envenenados. Só para na subida quando acaba a gasolina. Só passa se tiver sinal fechado". Em suma, é um pobre de um veículo estropiado, que, a menos que o piloto o queira ver desconjuntado, não pode se dar ao luxo de pegar uma multa de trânsito, por excesso de velocidade. Tem mais. Ao colocar na lista dos investimentos, tidos como novidade, alguns já planejados ou em curso- por exemplo os da Petrobrás - é como se, para impressionar a platéia com um número altissonante, 500bi, o mesmo motorista afirmasse que se as quatro rodas estiverem andando a 30 por hora, a velocidade do bólido seria de 120 por hora. Os peritos em multiplicação entenderão esse chiste.

Aí, entra a turma dos entendidos em funilaria - continuamos com a metáfora - e afirmam que é preciso dar um trato na lataria antes de pisar fundo. Por enquanto, o nosso Fórmula I está roncando nos boxes, ou para ser mais exato, a equipe está rugindo, imitando o som do motor à toda.

Surge um entendido em estabilidade aerodinâmica e diz que é preciso acertar o aerofólio da Previdência. Nova tertúlia à vista! E agora, estão liberadas as metáforas. Apertem os cintos! Fala-se num rombo de 42bi no tanque de gasolina. Isso porque há uma torneirinha que abastece o tanque - as contribuições dos futuros aposentados e dos seus empregadores - e uma torneira maior por onde se escoa o precioso combustível necessário a uma legião crescente de aposentados, cujo maior pecado consiste em viver mais do que deveriam. Não! Exclamam outros, na sua bondosa confecção, a Constituição de 88 definiu que haveria outros beneficiados que para tanto nem precisariam ter contribuído. Esse problema é do Tesouro, não da Previdência.

Rebatizemos, pois, o buraco. Ele é não é só da Previdência. Ufa! Que alívio! (Claro que não é bem assim, pois mesmo sendo da Previdência, do Tesouro ou do convento das carmelitas mais próximo, essa gasolina, perdão, dinheiro faltante tem de sair de algum lugar, mas é evidente que mexer no bolso dos velhinhos pode não bastar). Existem renúncias fiscais, por exemplo o estatuto da P&M empresa, que desobriga o empregador a ligar sua torneirinha nesse tanque insaciável. Daí, querem uns, isso é outro problema do Tesouro.

E o Tesouro tira de onde? Tem mais. No basquete, existe a marcação homem a homem e a marcação por zona. No nosso caso, poderia haver uma marcação recurso a desembolso. A Cofins e a CSLL foram "escaladas" para cuidar disso. Só que os treinadores optaram pela marcação por zona. Zona mesmo. Marcação flutuante, como o tal IPMF, que trocou de camisa, virou CPMF, trocou do P de provisório para P - de possivelmente permanente - e virou as costas para a Saúde, que era para ser marcada. A Cofins e a CSLL foram tapar outros buracos e os velhinhos do campo levam a culpa.

Por fim, a decisão do COPOM não poderia ficar sem comentários.

É claro que os juros servem de acelerador e freio do crescimento. Aceleram na medida em que uma política de juros menos apertados implica uma conta menos pesada do lado da dívida. O freio é evidente. Dinheiro caro estrangula a demanda e breca o crescimento. Mas não são apenas os juros. Imaginemos por um instante que o famoso depósito compulsório acabasse. Sobraria dinheiro no mercado. Dinheiro abundante significa oferta maior aos tomadores e queda de juros. Dinheiro abundante significa também inflação à vista, com a necessidade de aumentar os juros, dentro de uma política responsável. Com o imposto inflacionário, os penalizados serão os do "andar de baixo". Sem desmerecer a gloriosa equipe econômica, o COPOM , e as leis da Economia é forçoso admitir que não existe modelo suficientemente preciso para definir uma taxa ideal de juros. O papel das expectativas que se criam vai muito além do valor de uma taxa SELIC. Quando o COPOM opta por um corte de 0,25 ao invés de 0,5%, na verdade, sinaliza haver uma curva perigosa na frente, nada mais. 12% ou 13% não mudam os rumos da Economia.Quem quiser falar em algarismos significativos que o faça agora, ou se cale por um tempo. Mesmo os defensores de um corte maior não têm a mais remota idéia do impacto que uma ou outra taxa de juros podem causar, portanto os discursos não passam de rugidos políticos.

A postura melhor é tentar ser oráculo às avessas e declarar nada poder dizer sobre o futuro. O importante é acabar com bobagens como "fim da era Palocci", o olhar enternecido em direção ao calote, ou imaginar que tudo se resolve com vontade política.

O risco do excesso de velocidade com nosso urutu estatal é nulo.

. Por: Alexandru Solomon é escritor, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas. Tem seu recente romance´Não basta sonhar` (Ed. Totalidade) disponível nas livrarias Cultura (www.livrariacultura.com.br), Saraiva (www.livrariasaraiva.com.br) e Laselva (www.laselva.com.br). | [email protected]

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