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14/09/2018 - 08:13

Os benefícios do trabalho flexível para a saúde mental

Os problemas de saúde mental dos profissionais estão causando uma perda de bilhões na receita das empresas, e o trabalho flexível pode ser uma das soluções para isso.

O fantasma das doenças mentais está presente em peso no espaço de trabalho. De acordo com a Mental Health Foundation, praticamente uma em cada sete pessoas já teve uma experiência com doença mental: 12,7% de todas as faltas ao trabalho no Reino Unido são consequência de doenças mentais. Segundo previsões, melhorar o suporte à saúde mental pode gerar uma economia de 8 bilhões de libras todos os anos ao Reino Unido.

Um fato interessante é que cada vez mais evidências mostram que o trabalho flexível pode ajudar a aliviar esse peso. Um estudo realizado em 2010 pela Universidade de Durham descobriu que os acordos de trabalho flexível que "aumentam o poder de escolha e o controle dos profissionais" têm impacto positivo sobre uma série de indicadores de saúde, como qualidade do sono, nível de cansaço e alerta, pressão arterial e saúde mental, além de apresentar resultados "secundários" como o senso de comunidade e o apoio social nos espaços de trabalho.

Outro estudo, realizado pela Universidade de Kingston a pedido do Chartered Institute of Personnel and Development (CIPD), descobriu que profissionais com contratos flexíveis tendem a estar mais envolvidos emocionalmente, mais satisfeitos com o trabalho e mais propensos a falar bem de suas organizações, além de estarem menos propensos a pedir demissão.

O governo do Reino Unido também emitiu um relatóri que incentiva as empresas a oferecer opções de trabalho flexível por esses mesmos motivos, e o ministro da saúde do país descreve isso como algo "fundamental para o bem-estar". Pensando nessas relações entre trabalho flexível e saúde mental, muitas empresas do Reino Unido se perguntam como implementar práticas de trabalho flexível.

O expediente padrão vai mudar — Tradicionalmente, os horários dos escritórios são fixos, e as jornadas mais comuns vão das 9h às 17h ou das 8h às 18h. Agora, as empresas estão permitindo que seus funcionários façam jornadas em horários diferentes, muitas vezes trabalhando mais horas por dia para trabalhar menos dias por semana, ou iniciando ou encerrando o expediente mais tarde.

A Mind, instituição sem fins lucrativos do Reino Unido que estuda a saúde mental, indica que os horários flexíveis, que proporcionam mais controle aos funcionários sobre as horas trabalhadas, podem "ajudar a equilibrar melhor a vida pessoal e profissional, evitar os custos e o desconforto do transporte público e possibilitar a ida a consultas médicas", fatores importantes para garantir uma boa saúde mental.

Poder começar o dia de trabalho mais tarde também pode ser uma vantagem para quem tem dificuldade em acordar cedo (por exemplo, devido a remédios para dormir).

Em geral, o trabalho flexível também pode "ajudar as pessoas a equilibrar as demandas do trabalho e da vida pessoal com mais eficiência", explica a professora Gail. "As pessoas que aproveitam o trabalho flexível afirmam que se sentem melhor e estão mais satisfeitas com o trabalho", ela diz.

Jornada reduzida — A redução na jornada também evita o esgotamento que, segundo algumas pesquisas, pode ter impacto sobre mais de meio milhão de pessoas só no Reino Unido. Um estudo de 2015 descobriu que reduzir a jornada de trabalho tem um efeito positivo sobre o sono, a memória, emoções negativas, a sonolência, a fadiga e a exaustão. Outro estudo indica que as empresas poderiam reduzir a jornada de trabalho dos profissionais que apresentam problemas de saúde mental para "diminuir o desgaste da doença mental na população trabalhadora".

Trabalho remoto — Mudar a jornada não é a única forma de melhorar a saúde mental no espaço de trabalho. Uma mudança no ambiente, que permita que os funcionários trabalhem de outros locais, também pode ajudar. Uma pesquisa mostra que o trabalho remoto pode ser bom para a saúde mental e melhorar o bem-estar, além de aumentar a satisfação com o trabalho. De acordo com um estudo, trabalhar de casa, de um escritório compartilhado ou de um espaço de coworking também pode diminuir os casos de esgotamento, estresse e sofrimento psicológico.

Gail Kinman, professora de psicologia ocupacional na Universidade de Bedfordshire, aponta que o estresse causado pelo deslocamento para e do trabalho pode elevar consideravelmente os níveis de tensão de muitos profissionais, principalmente daqueles que usam medicação ou precisam equilibrar o trabalho com a vida em família.

Uma pesquisa mostra que 33% das pessoas que enfrentam deslocamentos longos (mais de 60 minutos por trecho) estão mais propensas a apresentar quadros depressivos. Elas também estão 40% mais propensas a ter preocupações financeiras e 12% mais propensas a apresentar problemas devido ao estresse relacionado ao trabalho.

A Mind também indica que os profissionais que enfrentam longos deslocamentos para e do trabalho podem apresentar altos níveis de estresse e, consequentemente, gerar custos significativos. Eliminar esse estresse pode proporcionar o alívio necessário para as pessoas que têm problemas relacionados à saúde mental.

Bom para todos — Quando o assunto é o trabalho remoto, os gerentes podem precisar de treinamento. "Nem sempre os gerentes têm as habilidades para oferecer o suporte necessário [à equipe]", afirma Almuth McDowall, professora sênior de psicologia organizacional da Birkbeck, Universidade de Londres. Ela ressalta a "cultura do presenteísmo", que avalia o desempenho com base no tempo que o funcionário trabalha, e não na qualidade que ele apresenta. "Isso precisa mudar", ela afirma. "Às vezes, as melhorias no bem-estar psicológico são pequenas porque é necessário implementar a flexibilidade da forma certa".

A professora Gail concorda: "Alguns gerentes têm dificuldade em lidar com equipes remotas, e acreditam que os encontros realizados pessoalmente são produtivos e que os funcionários podem fazer corpo mole se não forem monitorados de perto", ela diz. "Eles precisam de mais treinamento para desenvolver as habilidades necessárias."

"As intervenções precisam ser sistemáticas. É necessário identificar os fatores que causam estresse no trabalho e administrá-los diretamente", Gail afirma. "Precisamos diminuir as demandas e aumentar o controle e suporte. No final das contas, as equipes precisam de ajuda para se tornarem mais resilientes e aprenderem a gerenciar as demandas do trabalho com eficiência."

Possibilidade de escolha — Obviamente, quando o assunto é trabalho flexível, assim como no caso da saúde mental, não há padrões. Para algumas pessoas, principalmente para quem tem dificuldade em criar uma estrutura própria, o trabalho flexível não é tão atrativo.

"É muito importante que os funcionários possam escolher se querem aderir ao trabalho flexível e qual será o seu padrão de trabalho", a professora Gail salienta. "Nem todos os profissionais querem aderir ao trabalho flexível. Alguns preferem trabalhar nas instalações da empresa e ter um expediente definido. Ter controle e opções quanto aos padrões de trabalho é essencial para colher os frutos da flexibilidade."

A pesquisa reforça: para ter uma boa saúde mental, os profissionais precisam poder tomar as suas próprias decisões, em vez de terem apenas a opção de trabalho flexível. | Emily Reynolds.

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