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11/10/2018 - 08:50

Para onde caminhamos no enfrentamento da questão da obesidade?

Apesar de reconhecermos a importância e a urgência de medidas eficazes para controlar a obesidade, este grande fenômeno de saúde pública, assistimos uma ênfase na implantação de medidas que buscam, teoricamente, impacto de curtíssimo prazo, apesar de não termos evidências sólidas de sua eficiência e ou eficácia, como é o caso da possibilidade da imposição da adoção de rótulos de alerta em alimentos.

Taxar produtos com alta densidade calórica, rotular de forma diagnóstica produtos com teores elevados de macronutrientes específicos, inspirados no modelo chileno de rotulagem, têm sido uma das estratégias enfatizadas em nosso país.

Temos que focar em iniciativas mais educativas. O que temos feito para massificar o conhecimento sobre nutrição e alimentação adequadas? Que conteúdo curricular tem sido proposto visando educar nossos jovens para que possam fazer escolhas alimentares apropriadas? Os professores, que lidam com nossas crianças, têm sido capacitados para proporcionar uma educação transformadora, do ponto de vista nutricional, para as futuras gerações?

Não podemos continuar fantasiando que os nutricionistas, médicos e demais profissionais de saúde vão dar conta desta batalha sozinhos. Temos um problema de magnitude catastrófica. Não podemos crer que medidas superficiais vão atingir o cerne da questão!

Evidências mostram que o consumidor, na hora da compra, é muito mais atraído pelos preços e estratégias de marketing do que pelas informações existentes nos rótulos. Somado a isso, não há como comprovar que rótulos que destacam um nutriente como excessivo seja capaz de proporcionar um direcionamento para um padrão alimentar saudável.

O que faremos com o quilo de açúcar? Com o quilo de sal? Ou o litro de óleo? Os octógonos pretos, modelo do rótulo adotado no Chile, não irão dar conta de assegurar que as preparações caseiras (que é a grande maioria dos alimentos consumidos pela população brasileira) sejam apropriadas, pois o percentual de açúcar e sal consumido via produtos industrializados, é certamente inferior ao consumido nas preparações caseiras. Desta forma não podemos assegurar que em países como o nosso, esse modelo vai gerar mudanças substanciais no padrão alimentar de nossa população.

Desafortunadamente, medidas impositivas não orientam, exceto se a população já tem um grau de informação nutricional que a possibilite decidir de forma apropriada.

É possível termos um alimento com excesso de um determinado macronutriente e mesmo assim construirmos uma dieta adequada, conquanto que estes nutrientes, já consumidos em excesso, não sejam consumidos em outros alimentos ao longo do dia.

Da mesma forma podemos, desequilibrar a dieta consumindo nutrientes em excesso, apesar da composição adequada de cada porção industrializada. Isto acontece se comermos o “adequado” de forma abusiva!

Em outras palavras, alimentos com teores “adequados” de carboidratos, por exemplo, se consumidos em excesso levará, ao final, a uma dieta com excesso de carboidratos.

Assim como no Chile, podemos ser submetidos a uma experiência, que muito provavelmente estará fadada ao insucesso. Não podemos descuidar das nossas crianças se queremos ter adultos saudáveis no futuro!

. Por: Dr. Hugo da Costa Ribeiro, pediatra especializado em doenças metabólicas e infecciosas, Fellow em Nutrologia Infantil pela Universidade de Cornnel em New York e professor Associado do Departamento de Pediatria da FMB da Universidade Federal da Bahia. Tem experiência na área de Medicina, com ênfase em Nutrologia Pediátrica, atuando principalmente nos seguintes temas: doenças diarreicas, obesidade, alimentos funcionais, micronutrientes, gasto energético e alimentação complementar. Também foi consultor da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde.

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