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19/04/2008 - 10:23

Quem é a mulher do pai?

A trágica morte da menina Isabella Nardoni, em que o próprio pai e a madrasta são os principais suspeitos do assassinato, trouxe à tona o debate sobre o papel das mulheres que assumem a função de mãe nos fins de semana. O triste episódio serviu para alimentar a desconfiança de ex-mulheres (mães de crianças que passam o fim de semana com o pai e com a nova mulher do pai) em relação às novas “madrastas” (que passam os finais de semana e férias com os filhos do marido). Os medos de ambas as partes, reais ou imaginários, encontram terreno fértil em situações como essa, predispondo a reações em massa de natureza violenta defensiva.

Os inevitáveis conflitos nessa delicada relação aumentam na medida em que crescem o número de novas famílias que se formam depois da separação. A mulher do pai, sempre identificada como a “madrasta bruxa”, sofre com o preconceito e, principalmente, com estranha posição em que ela se encontra na família.

No livro A mulher do pai, lançado pela Summus Editorial, a filósofa Fernanda Carlos Borges ajuda a compreender essa estranha posição nas famílias pós-divórcio. Posição tão estranha que nem sequer é adequada ao lugar da madrasta, já que a concepção servia à mulher que casava com pai viúvo e que herdava da mãe, direitos e deveres, assim como seu mérito social. Embora também fosse tida como imperfeita, havia certa compreensão sobre seu papel.

“A atual mulher do pai, ao contrário, não tem mérito social e ninguém sabe sobre seus deveres e direitos. Simbolicamente, a mulher do pai “não é ninguém”: ela está na família, mas não pertence à idéia de família nuclear (mãe, pai e filhos e a madrasta, como substituta, quando a mãe falta), que ainda norteia o imaginário sobre o que é família”, afirma Fernanda.

Os conflitos desta nova situação familiar são diferentes e ainda pouco compreendidos. O objetivo de Fernanda com o livro, que é mãe, ex-mulher e mulher do pai, é amparar a mulher que vive essa situação, ajudá-la a compreender a natureza dos muitos momentos conflitantes com os quais depara e trazer algum conforto para quem se vê nessa posição tão difícil e ignorada. “A lacuna existente sobre o assunto nas publicações sobre a família revela o abandono e o desamparo que cercam a mulher do pai”, diz a filósofa.

Escrito em linguagem fácil, a obra é recomendada para toda a família. É também útil para profissionais, como psicólogos e professores. A despeito da simplicidade da forma, a autora não deixa de se apoiar em um amplo referencial teórico, permitindo assim a leitura em diversos níveis de aprofundamento.

Tendo a autora vivido a experiência de ser mulher do pai e convivido com outras mulheres que passaram pela mesma situação, não faltam no livro exemplos de situações cotidianas delicadas e seus correspondentes dilemas, que normalmente requerem mais do que apenas boa vontade para serem resolvidos a contento.

“A obra favorece reflexões para a elaboração simbólica da mulher do pai, investigando os rumos dos novos arranjos familiares formados a reboque da desagregação da família nuclear tradicional, composta pela tríade pai–mãe–filhos”, afirma Fernanda. Embora a família tenha mudado, explica a autora, idealmente ainda pensamos nela como a família nuclear. “E a mulher do pai perturba esse ideal: está na família sem pertencer à idéia de família e vive o conflito de uma posição marginal”, diz.

Se os novos tempos favoreceram a liberdade na busca da felicidade fora dos padrões da família nuclear, trouxeram também novas relações ainda não suficientemente definidas e com as quais não é fácil lidar. “Esse é o caso das relações da mulher do pai, instáveis e carentes de referências simbólicas capazes de orientar a construção de laços afetivos e efetivos que a envolvam dentro do novo contexto familiar”, conclui Fernanda.

A autora - Fernanda Carlos Borges é filósofa formada pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), com mestrado em Ciências da Motricidade pela Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) e doutorado em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo. Sua tese de doutorado, sobre o jeito do corpo e o “jeitinho brasileiro”, foi transformada em livro e publicada pela Summus, em 2006, sob o título A filosofia do jeito: um modo brasileiro de pensar com o corpo. Seu interesse pelo corpo acabou aproximando-a da psicanálise reichiana e do teatro, onde se formou atriz. Atualmente, leciona em cursos de graduação e pós-graduação da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), em São Paulo.

A mulher do pai – Essa estranha posição dentro das novas famílias | Autor: Fernanda Carlos Borges | Editora: Summus Editorial, 136 páginas, ISBN: 978-85-323-0399-8 | Preço: R$ 27,90 | Atendimento ao consumidor: (11)3865-9890 | Site: www.summus.com.br

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