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09/02/2019 - 05:45

Professor da FGV analisa os 30 primeiros dias do governo Bolsonaro

O professor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas (FGV Ebape) Carlos Pereira diz que o governo Jair Bolsonaro vive um problema comum do presidencialismo nos seus primeiros 30 dias de gestão, quando uma elite política substitui outra.

"Essa nova elite chega com muita vontade e um voluntarismo grande, mas expertise muito baixa. O paradoxo do presidencialismo é exatamente este. Quanto mais o tempo passa, mais o governo adquire experiência, mas também comete erros e trava embates internos que, com o passar do tempo, gera perda de capital político. A causa está na decisão equivocada de montar uma coalisão minoritária dentro do Congresso Nacional e ignorar as lideranças partidárias", analisa Carlos Pereira.

Pereira afirma que é fundamental ter uma maioria estável no Congresso não apenas para aprovar o que deseja, mas para vetar o que não quer. "Se o governo não perceber rapidamente a necessidade de ter base sólida de sustentação política dentro do Congresso, seu poder de barganha pode passar para as mãos das lideranças. O governo passa a ter dificuldade em estabelecer os termos das negociações, que se tornam mais difíceis, e a própria solvência do governo fica questionável", alerta.

O cientista político lembra ainda que a perda de capital político ocorre também em função da série de eventos que já começam a fragilizar sua governança. "As acusações que pairam sobre um dos filhos do presidente, eleito para o Senado Federal, são um desses eventos", afirma Pereira.

Erro de avaliação — Carlos Pereira ressalta que a equipe do governo Jair Bolsonaro associou, durante a campanha, presidencialismo de coalizão à corrupção. Ao fazer isso, aprisionou suas próprias mãos e não conseguiu se distanciar desse discurso, continuou como se estivesse no palanque, de acordo com a avaliação do professor.

"O governo esperava fazer conexões diretas com a sociedade, especialmente com seus eleitores, para que pressionassem o Congresso, deixando-o vulnerável e propenso a votar favoravelmente ao governo. Mas um escândalo de corrupção deixou o governo muito frágil. Essa estratégia gera benefícios apenas imediatos, mas a longo prazo cria animosidades com as lideranças ignoradas", explica o cientista social.

Prioridades –— O professor da FGV afirma que o governo não soube aproveitar a fase de transição para criar um diálogo aberto com a sociedade e desenvolver propostas concretas. "Até agora não sabemos de fato, por exemplo, quais são os termos da reforma da Previdência. Há mensagens contraditórias que sinalizam falta de clareza em relação aos grupos do governo que de fato vão ditar o ritmo", argumenta Carlos Pereira.

Para o cientista social, apesar de o presidente Jair Bolsonaro não ter um discurso muito elaborado, ele é carismático e sabe dialogar com seus eleitores. "O presidente poderia ter reconhecido que, apesar de sua vontade de fazer uma nova política, o sistema político brasileiro não mudou e que o Brasil continua com presidencialismo de multipartidarismo hiperfragmentado. Neste cenário, sem maioria, ele terá que negociar e estabelecer trocas", indica o professor da FGV.

Por fim, Carlos Pereira frisa que Bolsonaro em vez de demonizar as trocas que os governos anteriores fizeram, deveria estabelecer seus parâmetros ao traçar seus objetivos. "Se tivesse agido assim teria menos riscos e maior chance de aprovar seus projetos. Espero que ele se reinsira no cenário político brasileiro, apesar de sua vontade de governar de forma diferente."

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