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25/04/2008 - 13:52

SELIC redobrando os esforços para o nada

Mais uma vez, nos defrontamos com o inexplicável, a taxa SELIC subiu de novo e bem acima das expectativas gerais. A decisão de cuidar do sintoma, e não da doença, deixa no ar uma terrível sensação de que nossos governantes, tendo perdido de vista os objetivos do Brasil como um todo, convocam os brasileiros a redobrar seus esforços para o nada. A partir de agora, todos estão obrigados a trabalhar mais para ajudar a pagar a conta que ficou mais cara. Sabemos que as commodities estão no epicentro da volatilidade do atual índice inflacionário e, como a atual decisão não contempla esta questão, ela não contribui para a solução do problema, portanto, qualquer esforço ou contribuições tornam-se inócuas ou sem efeito.

Na ânsia de tentar entender o funcionamento dos mecanismos econômicos e poder melhor simular e prever o futuro, os economistas tentam criar um mundo virtual paralelo ao real e nele, por meio de modelos macro econométricos, introduzir variáveis que corrijam os efeitos dos comportamentos do mercado. Infelizmente o que tem funcionado nas planilhas não reflete o mundo real.

O Banco Central americano, embora em direção oposta ao brasileiro, vem tentando corrigir a rota de deterioração da economia por mudanças nas taxas de juros. Esta estratégia, que sempre funcionou no passado, tem se mostrado incapaz de alterar os acontecimentos naquele país. Em breve, veremos a mesma situação aqui no Brasil. Foi-se o tempo em que aumento nos preços do petróleo podia ser corrigido com a equivalente derrubada dos preços das commodities. O mundo está mais complexo e os capitais migram das Bolsas de Valores para as de Futuro com extrema velocidade, antecipando-se e anulando a eficácia das políticas públicas.

Caso ainda não haja convencimento sobre a inutilidade dos esforços para pagar, mais esta conta, é necessário prestar atenção às conseqüências, em nível macro, como a ausência de decisões voltadas à problemática das commodities, que forçará a manutenção dos índices inflacionários em patamares elevados; como guardiães da moeda, o Banco Central se virá obrigado a produzir uma nova elevação na taxa de juros; o real apreciado forçará, ainda mais, a queda do valor do dólar; as importações devem crescer; o resultado das exportações deve reduzir-se, apesar do preço em dólar dos principais produtos ser ascendente; a balança de pagamentos deve ter seu desequilíbrio acentuado; as importações pressionarão as indústrias locais, desestimulando novos investimentos e reduzindo a expectativa de geração de novos empregos e, por fim, a economia como um todo deverá crescer menos.

No espectro operacional do governo, haverá necessidade de elevar o superávit primário para fazer frente às novas despesas de juros; com menos dinheiro em caixa programas de investimentos como o PAC, Educação, Saúde, Infra-estrutura, entre outros, deverão ser condicionados a geração de maior arrecadação fiscal; o excesso de dólares, trazido pelo capital especulativo, deverá aumentar nossas reservas externas, que em boa parte, permanecerão aplicadas em títulos do tesouro americano que rende, hoje, juros negativos, e o valor da dívida interna também ficou maior.

No fronte das pessoas físicas, pequenas e médias empresas, a nova taxa SELIC é a senha para os bancos subirem com os juros do cartão de crédito, do consignado, do cheque especial, do desconto de duplicata; do capital de giro; de carnês, entre outras modalidades. Tudo isto depois de as tarifas bancárias já terem subido quase 150%, em alguns casos, recentemente. Portanto, um “seqüestro” da renda que iria para o consumo vai aumentar ainda mais o lucro dos agentes financeiros, os grandes beneficiários finais desta decisão.

Apenas com Paz, Trabalho, Tecnologia e Capital investido no campo serão possíveis superar este momento delicado da nossa economia e dar uma contribuição para o problema em nível mundial. Para nós, modestos cidadãos, entender que as conseqüências da decisão tomada pelo COPOM e a ausência de uma visão mais abrangente da questão continue sendo ignorada pelos nossos governantes e técnicos de plantão, somente pode causar temor e apreensão em relação ao futuro.

Os grandes beneficiários desta decisão continuarão sendo os investidores externos que, em conjunto com as instituições membro do sistema financeiro, obterão ganhos maiores em seus papéis de renda garantida, podendo desta maneira, melhorar as posições de seus fundos hoje depreciados pelas fortes oscilações das bolsas e dos títulos americanos da categoria sub-prime.

. Por: Carlos Stempniewski é mestre em Administração e professor das Faculdades Integradas

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