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25/05/2019 - 09:29

As razões da rejeição de Bolsonaro no Nordeste

Depois de quase seis meses no governo, Jair Bolsonaro realiza sua primeira viagem ao Nordeste, única região do país onde ele perdeu as eleições: teve apenas 30,3% dos votos, contra 69,7% dados ao candidato Fernando Haddad (PT). Também no Nordeste Bolsonaro amarga atualmente os maiores índices de desaprovação, segundo as pesquisas.

Muitos poderiam interpretar essa rejeição ao atual ocupante do Planalto como uma atitude antidemocrática; afinal, Bolsonaro chegou à Presidência de maneira legítima, referendado pela maioria da população em um pleito cuja lisura não foi contestada, embora a campanha tenha sido manchada por ações antidemocráticas como a disseminação de fakenews pelos bolsonaristas e a recusa do então candidato a participar dos debates.

Só que a democracia não é apenas o consenso da maioria; ela implica também o direito da minoria de se opor, dentro dos limites da lei, ao projeto vitorioso nas urnas. Num Estado Democrático de Direito, a minoria deve ter a liberdade de se expressar para tentar convencer o eleitorado de seu programa, possibilitando, assim, a alternância de poder.

Mas, afinal, por que a “hostilidade” dos nordestinos a Bolsonaro? Porque já é evidente que as medidas que seu governo vem adotando representam um retrocesso nas conquistas recentes da região. Nas últimas décadas, o Nordeste – antes esquecido por sucessivos governos – experimentou um processo de desenvolvimento econômico com inclusão social. Em 2002, mais de 21,4 milhões de nordestinos viviam em situação de pobreza; em 2012, esse número caiu para 9,6 milhões, segundo o IBGE. As ações federais na região geraram trabalho: no mesmo período, o número de empregos formais dos nordestinos cresceu de cinco milhões para quase nove milhões. E entre 2001 e 2012 o nordestino teve o maior ganho de renda de todas as regiões do país, fazendo com que a participação do Nordeste na base da pirâmide social caísse de 66% para 45%.

Na verdade, não é apropriado falar em “hostilidade” do Nordeste a Bolsonaro. Ao contrário, foi o presidente quem sempre afrontou os nordestinos. Ainda como candidato, ele cansou de repetir clichês preconceituosos contra os habitantes da região. Dias depois de ter tomado posse, Bolsonaro declarou que esperava que os governadores do Nordeste não viessem lhe pedir ajuda: “Para estes aí, o presidente deles está em Curitiba”, disse, em referência ao ex-presidente Lula.

Mas não foi só isso. O povo brasileiro que nasceu no Nordeste não aceita quando um ministro, tendo a chancela do próprio presidente, abre a boca para dizer a bobagem de que no Nordeste não devia haver cursos de filosofia e sociologia. O povo brasileiro no Nordeste reage a um presidente que entra no sexto mês de governo e não tem um investimento sequer para uma região historicamente discriminada, mas que tem um potencial extraordinário em varias áreas, entre as quais, geração de energia limpa e turismo, e que deu um grande salto na qualidade de seus sistemas de governança. Na administração pública, observem, o Nordeste deixou de ser o “problema”. Esse está em outras regiões.

E essa posição que se expressou nas eleições de uma forma uniforme não pode ser vista como uma postura coletiva advinda da “dependência do povo a programas assistenciais”. Santa ignorância! Se isso fosse verdade, essa população seria a mais vulnerável ao discurso e conteúdo simplista e rasteiro da mensagem eleitoral bolsonarista de violência e criminalização dos conceitos de tudo o que esteja dentro do “politicamente correto”.

A maioria do povo nordestino, portanto, se une a amplos setores democráticos na luta contra um governo que se mostrou inepto, intolerante e abertamente hostil às conquistas e à inclusão social e que, acima de tudo, tem flertado perigosamente com o autoritarismo.

. Por: Ricardo Coutinho, Ex-governador da Paraíba (2011-2018), atual presidente da Fundação João Mangabeira, do Partido Socialista Brasileiro (PSB).

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