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30/04/2008 - 11:22

Alimentos: inflação de preços ou demanda?

Após um período de muitas discussões e debates televisivos sobre a nova Selic, o Brasil vai voltando a sua normalidade. O presidente viajou para o Exterior. Os políticos estão imersos em seus debates sucessórios e variados temas de pouca relevância para as finanças pessoais dos cidadãos. Os agentes financeiros comemoram a receita adicional que virá nos próximos meses. Especialistas calculam que cada 0,5% na taxa básica de juros equivalham a um desembolso adicional anual de R$ 10 bilhões, em despesas financeiras para o erário. Isto representa mais do dobro do orçamento da saúde. Quase três vezes o da educação e quase quatro vezes o investimento direto do Governo Federal em obras de infra-estrutura. Apenas para qualificar as principais áreas estratégicas a qualquer programa de desenvolvimento de um país.

Afinal, esse esforço é necessário para segurar a inflação no centro da meta. Certo?. Errado, pois nenhuma medida voltada à questão central do problema foi até o momento anunciada. Nos últimos doze meses, a inflação geral medida pelo IPC-FIPE foi de 4,3%. A relativa ao item alimentação subiu 11,2%. Esta situação tem a ver com uma disparada dos preços agrícolas no exterior, que se reflete diretamente na mesa do brasileiro comum.

Muitas são as causas do crescimento dos preços. Os grandes investidores com problemas nos títulos hipotecários norte-americanos que afetaram as Bolsas voltaram-se para os mercados futuros, inflando os preços das commodities ali comercializadas. Mudanças climáticas, como seca, excesso de chuva, furacões e frio rigoroso, dependendo da região produtora, geraram quebra das safras. O biocombustível passou a fazer parte da matriz energética de alguns países. Com isto, calcula-se que mais de 120 milhões de toneladas de grãos foram consumidos, sem uma ação planejada para reposição dos mesmos para consumo alimentar. O custo dos insumos agrícolas, como sementes, fertilizantes, combustíveis e defensivos, aumentou cerca de 59% no ano passado. Países como a China e Índia, os mais populosos, estão alimentando-se mais e melhor.

A questão brasileira, além dos aspectos acima identificados, sofre o impacto de uma espiral crescente na formação dos custos de produção, devido a deficiências localizadas, como a perda na produção de grãos: das mais de 150 milhões de toneladas produzidas, cerca de 10 a 15% são desperdiçadas por mau armazenamento, transporte inadequado, pragas e outras questões. É fácil imaginar o que significaria na oferta uma redução de 5 a 8% no desperdício. O péssimo estado da malha viária, os congestionamentos nas grandes cidades, nos portos e aeroportos e a falta de segurança nas cargas transportadas elevam sobremaneira os custos de deslocamento dos mais variados produtos, com impacto no preço final pago pelo consumidor.

A estrutura tributária anacrônica existente sobre os produtos e entre os estados, distorce a formação do preço final. No tocante a produtos tradicionais para a nossa mesa, como milho, trigo, soja e carnes. dentre outros, compete ao governo criar mecanismos de incentivo para que o campo tenha interesse em produzi-los. Seria demais esperar que os agentes de produção autonomamente se engajassem em uma cruzada visando à solução desse problema em escala planetária. É chegada a hora de colocarmos esse imenso exército de milhares de assentados para produzirem os alimentos que faltam na mesa dos brasileiros. Cabe ao governo, que através dos impostos vem mantendo esse contingente humano no campo, dar uma orientação mais precisa e começar a cobrar resultados objetivos desse agregado humano, no momento praticamente improdutivo. Um choque de gestão com qualidade no campo é fundamental. Um choque de eficiência e racionalização na logística produzirá economias visíveis para o país.

Enquanto essas ações de governo não ocorrerem, o trabalhador continuará tendo o seu salário corroído pelos reajustes conduzidos pelo centro da meta e será obrigado a desembolsar bem mais para poder continuar alimentando-se. Segundo dados da FIPE, em março, era de 168,3% o aumento acumulado do preço do feijão nos últimos doze meses; 22,7% para o leite tipo B; 44% nos óleos comestíveis, 19% na carne bovina; e 17,6% na farinha de trigo. Portanto, estamos frente a uma conjunção de preços e demandas com forte impacto na capacidade de o brasileiro poder manter seu atual padrão de alimentação.

Pela sua abrangência e complexidade, essas questões não se resolvem com discursos, interpretação de planilhas, proibição de exportações, mudanças na Selic e regulação de preços, dentre outras medidas de caráter político-econômico. Chegada é a hora de se formular uma agressiva política de incentivos para o setor agrícola. Precisamos consolidar neste país a consciência quanto à importância da pesquisa genética para produção de mais e melhores alimentos. Precisamos entender que produção, armazenamento, transporte e preços compõem uma equação única, que caminha junto. Não devem ser dissociadas por interesses ou motivações de cunho político-ideológico.

. Por: Carlos Stempniewski é mestre em Administração e professor das Faculdades Integradas Rio Branco.

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