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22/08/2019 - 08:56

Mapfre Investimentos: há um céu de brigadeiro sobre o Banco Central

São Paulo — A penúltima semana do mês contempla prévias dos índices de inflação, dados sobre emprego formal e indicadores de confiança. Entre as prévias, estão a do IGP-M e do IPCA-15, os dois índices de inflação mais importantes da economia doméstica, a serem divulgadas hoje e no dia 22. O indicador de confiança da CNI, que mensura o sentimento do empresário industrial, e o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), serão divulgados ao longo da semana, sem data definida. No front externo, contaremos com a Ata do FOMC, no dia 21, e, nos dias 22 e 23, os principais formuladores de política monetária do mundo se encontrarão no Simpósio Jackson Hole, realizado anualmente pelo Fed com o intuito de discutir os desafios para a política monetária.

A ortodoxia econômica coloca a inflação no centro da política monetária. Ela é considerada a função primária do Banco Central das principais economias. No Brasil, que segue a mesma diretriz, a situação é confortável. Isto pode ser observado através da evolução do índice de difusão do IPCA-15, um indicador de tendência que mensura a quantidade de itens com variação positiva no preço.

A média móvel trimestral do índice de difusão rompeu a trajetória altista e caiu mais de 10% desde maio. O resultado de agosto deve manter o indicador próximo ao patamar atual. Este movimento está em conformidade com a sazonalidade do índice, mas a sua amplitude chama atenção. Uma vez ratificada a estabilidade do indicador de tendência trimestral, devemos assistir à consolidação da trajetória descendente do índice anualizado.

Esta é uma boa notícia para a autoridade monetária. Com a inflação sob controle (e com certa folga em relação ao centro da meta, como é o caso), o BCB pode voltar a atenção para suas atribuições secundárias e lançar mão de estímulos que lhe cabem — com poucas restrições - visando 2020.

Empresas e setores: Setor de construção — Dinamismo em análise: entidades de classe da construção sinalizam dinamismo no setor. Segundo o Secovi-SP, as vendas de moradias em São Paulo cresceram 32,2% nos últimos 12 meses ante os 12 meses anteriores. Os lançamentos apresentaram expansão de 46,2% na mesma comparação. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat), as vendas tiveram alta de 2,3% no acumulado entre janeiro e julho de 2019 ante o mesmo período de 2018, já descontada a inflação.

Segundo a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), os preços dos imóveis estão em processo de recuperação lenta, mas consistente. Segundo a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), as vendas de imóveis tiveram expansão de 12,2% no primeiro quadrimestre deste ano ante o mesmo período do ano passado.

Quais as condições que teriam favorecido o dinamismo do setor? Os resultados da Sondagem da Indústria de Construção da Confederação Nacional da Indústria, apresentados na figura abaixo, nos ajuda a responder. Segundo essa sondagem, as condições financeiras, como as taxas de juros elevadas, falta de capital de giro e inadimplência elevada ainda continuam entre os principais entraves ao dinamismo do setor, conforme coluna do meio da figura abaixo.

Interessante observar, entretanto, que a percepção sobre esses problemas é menos relevante do que em meados de 2016, ano em que o setor enfrentou seu momento mais desfavorável. Isso se evidencia pela última coluna da direita na figura abaixo. No caso da visão menos desfavorável sobre a taxa de juros, cabe citar a redução da taxa Selic no período. No caso da visão menos desfavorável sobre a inadimplência, cabe citar o impacto da criação da Lei do Distrato ao final de 2018.

Quais as condições que jogam contra o dinamismo do setor de construção? Vale observar na coluna do meio da figura abaixo que a elevada carga tributária e o excesso de burocracia são os maiores entraves ao setor. Vale notar por meio da última coluna que o peso destes entraves aumentou segundo as empresas do setor na mesma comparação com a percepção de meados de 2016. Em outras palavras, a carga tributária e o excesso de burocracia são cada vez mais os principais obstáculos ao desenvolvimento do setor de construção. Em caso de inciativas para desenvolvimento do setor de construção, a burocracia excessiva e a elevada carga tributária são os problemas a serem enfrentados.

Gestão: a inversão da curva, a virada das expectativas e "desta vez é diferente": os mercados e seus participantes possuem muitas heurísticas (regras de bolso) que, tendo sobrevivido ao teste da história, se perpetuam e são incorporadas como dogmas ao anedotário popular. Uma delas postula que quando as taxas dos vencimentos mais longos da curva de juros negociam abaixo das taxas dos vencimentos mais curtos, ocorre uma inversão da curva, sinalizando recessão à frente.

Os mais otimistas irão dizer "desta vez é diferente", objetando que o quantitative easing (programa de compra de títulos) do Fed distorceu a ponta longa da curva e, portanto, a inversão da curva estaria invalidada. Outras justificativas são igualmente válidas: o PIB americano ainda sustenta crescimento anualizado próximo de 2%, a taxa de desemprego segue próxima das mínimas e o mercado imobiliário não autoriza esta leitura. E mesmo que tudo dê errado, no final os bancos centrais ainda podem cortar mais os juros e prover mais liquidez ao sistema, como o médico que aplica o desfibrilador no paciente com parada cardiorrespiratória.

A questão é: terá o recurso e a dosagem a mesma eficácia de outrora? Fato é que hoje há no mundo um crescimento anabolizado à base de crédito fácil, ativos artificialmente valorizados pela ampla emissão de moeda e mais de US$ 17 trilhões em títulos de dívida com rendimento real negativo, muitos deles absolutamente impagáveis, a não ser em um ambiente de ampla liquidez, juros e inflação extremamente baixos e muita gente que os comprem pela simples existência de algo intangível chamado confiança em seus emissores.

O que houve com o bom senso? Será ele revogado a cada geração ou duas, porque "desta vez é diferente"?? Confesso não saber a resposta. Entretanto, os mercados acusaram o golpe, e na semana passada o Ibovespa recuou cerca de 4%, enquanto o dólar se valorizou cerca de 1,4% e o rendimento dos Treasuries negociou próximo das mínimas históricas com o aumento da volatilidade e da aversão ao risco.

No Brasil, o destaque vai para a divulgação na terça-feira da criação de postos de trabalho em julho pelo CAGED (estimado +34k) e no cenário externo, para a divulgação, nos EUA, das Vendas de Casas Existentes (estimado +2,5% M/M) e Vendas de Novas Casas (-0,2% M/M) na quarta e na sexta-feira, respectivamente.

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