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06/05/2008 - 18:51

Os desafios da Petrobras para produção na região pré sal, diz Maurício Werneck

A seguir, a íntegra da entrevista do coordenador do Programa de Desenvolvimento Tecnológico de Sistemas de Produção em Águas Profundas da Petrobras (Procap).

A Petrobras é reconhecida mundialmente por sua expertise no desenvolvimento de soluções tecnológicas para produção em águas profundas e ultra-profundas. Na edição 2008 da OTC, a Companhia apresenta alguns de seus projetos para operar de forma eficiente em condições adversas. Nesta entrevista, o coordenador do Procap (Programa de Desenvolvimento Tecnológico de Sistemas de Produção em Águas Profundas), Maurício Werneck, fala sobre as tecnologias já empregadas pela Petrobras e também sobre desafios futuros, como o desenvolvimento de soluções para produção na região pré-sal.

. Entre os projetos apresentados pela Petrobras na OTC 2008, quais se destacam?

Werneck: Estamos apresentando basicamente um bloco de trabalho sobre o projeto da fase atual de Roncador, que inclui P-54 e P-52, e dois trabalhos separados da parte de vida à fadiga de riser (equipamento utilizado para levar óleo e gás natural do poço à plataforma): um enfocando riser de perfuração e outro SCR (riser rígido em catenária para produção). O grupo de trabalhos sobre Roncador tem uma seqüência sobre reservatório, poços, sistema de exportação, sistema submarino e das unidades recém-instaladas (P-52 e P-54). No que diz respeito ao Procap, temos alguma participação no trabalho sobre sistema de exportação. O sistema de exportação da P-52, instalado a 1.800 m de profundidade, utiliza o sistema de Riser Híbrido Auto-Sustentável, o RHAS, pelo qual toda produção de óleo coletada na P-52 é enviada para a PRA-1 (Plataforma de Rebombeio Autônomo, unidade destinada ao escoamento da produção de plataformas instaladas na Bacia de Campos).

. Como foi o desenvolvimento do riser híbrido auto-sustentável?

Werneck: Essa tecnologia, o conceito de ter um riser vertical suspenso por elemento flutuante e ligado à unidade de produção via linha flexível já existe com outras configurações, o que foi feito foi um projeto de dimensionamento iniciado no Cenpes, e depois desenvolvido por firma contratada, que fez todo o detalhamento interagindo com o Cenpes, a Engenharia e a unidade de serviço submarino trabalhando em Roncador.

Roncador tem características que são específicas, que obrigaram a equipe a desenvolver projetos especiais...

Roncador está localizado em uma profundidade desafiadora, a mais profunda da Petrobras por enquanto, entre 1500 a 1900 metros, o que já é um desafio bastante grande. A instalação da P-52 em maior profundidade com linhas flexíveis, suspensas em catenária exigiu esforço grande de qualificação, equipamento e materiais. Para conseguir essa instalação e que ela seja operada com padrões de garantia de integridade adequados, foi necessário um grande comprometimento do corpo técnico da companhia, independentemente de ser um recorde.

. Que novidades você espera encontrar na OTC deste ano?

Werneck: Há várias instalações sendo feitas no Golfo do México em grandes profundidades, inclusive já será introduzido pela Petrobras, o conceito de FPSO, até então não utilizado naquela área. Várias tecnologias que estão sendo implementadas nos desenvolvimentos em águas profundas devem ser apresentadas no evento e são nosso interesse maior.

. O Procap está envolvido hoje em algum projeto especial ligado ao desenvolvimento de novos conceitos de plataforma? Há algum projeto relacionado à produção no Golfo do México?

Werneck: Para o Golfo do México existem alguns desenvolvimentos na área de cascos “riser friendly” – com movimentação pequena quando comparados com os cascos convencionais – FPSO BR – casco similar ao de um navio, alongado - e MONO BR, casco cilíndrico, denominado mono coluna, que foram desenvolvidos considerando-se todos os aspectos de hidrodinâmica e que se aplicam muito bem a ambientes em condições bastante severas. Atualmente, temos algumas tecnologias em desenvolvimento cuja utilização vem sendo considerada para o desenvolvimento de Chinook e Cascade, como bombeio no leito marinho, utilizando BCS (Bombeio Centrífugo Submerso) em skid. A parte de desenvolvimento de linhas e risers, embora não esteja voltado diretamente para aplicação no Golfo do México, atende com pequenas modificações a diversos cenários de águas profundas, e o que puder ser selecionado para ser aplicado nesses desenvolvimentos também o será.

. A profundidade ainda é o maior desafio?

Werneck: A profundidade nunca deixa de ser um desafio. Aumentando a profundidade, aumentam as cargas que irão atuar naquela estrutura. Só por esse aumento já se necessita de todo um processo, no mínimo de qualificação de equipamento, para fazer essa instalação. Optando por uma configuração alternativa, por exemplo, o riser híbrido ou a bóia de sustentação de riser, tipos de configuração que isolam o movimento do riser do movimento da plataforma flutuante, de qualquer forma deve ser desenvolvido um trabalho na engenharia desse sistema,pois ele trabalhará em condições de carga, de correnteza e ondas bastante severas. Isso precisa ser estudado detalhadamente.

. De que forma o Procap contribuirá para o desenvolvimento dos projetos na região do pré-sal?

Werneck: Essas alternativas de riser, que foram desenvolvidas para uma lâmina d’água menor do que as da área do pré-sal da Bacia de Santos podem ser utilizadas como ferramentas para concorrer nas opções de desenvolvimento. São elas: bóia de sustentação de riser, o RHAS, o sistema de “Riser Tower” - muito similar ao RHAS, mas que envolve o sistema de coleta, que ao invés de um duto único, é composto por vários dutos unidos ao longo de um tubo estrutural único, vertical, sendo sustentado por uma bóia. Todas essas alternativas serão ofertadas como opções para o sistema de pré-sal. Mais especificamente, citando tecnologias que possuem gaps tecnológicos a serem vencidos, estamos trabalhando mais fortemente nas unidades de completação seca e nos sistemas de riser resistentes a fluidos corrosivos. Nessas duas áreas os projetos do Procap têm trabalhado especificamente reorientados para área do pré-sal.

. O que mais se pode destacar em tecnologias de plataforma e desenvolvimento de campos?

Werneck: Muita coisa nova vai surgir, como o FPSO Cidade do Rio das Ostras, instalado na área de Siri, Campo de Badejo. Esse tipo de unidade, apesar de ser uma profundidade muito rasa, tem uma característica muito importante que é a produção de óleos pesados. Essa área de Siri já era conhecida há muito tempo e só começou a ser produzida esse ano, primeiro pela atratividade – elevação do preço do petróleo – e segundo pelo desenvolvimento de tecnologias de processamento primário, que permitem o tratamento desse tipo de óleo de uma forma rentável. É o óleo mais pesado que a Petrobras produz e que qualquer empresa produz offshore atualmente, está abaixo de 13º API, bastante viscoso, além de denso. Para separação adequada de gás e água, é necessário um aumento muito grande de temperatura, desenvolvimento de equipamentos com materiais específicos para trabalhar nessa situação. Toda essa planta que está operando esse primeiro sistema de Siri tem uma série de inovações que estão sendo avaliadas para servirem de referência para outras descobertas que a Petrobras já tem que também possuem óleos bastante pesados.

. Com relação ao grau API, qual será o sistema para o pré-sal? A Petrobras já tem know how para lidar com petróleo leve?

Werneck: O petróleo leve é uma bênção. Ele normalmente apresenta menos desafios que os óleos pesados, do ponto de vista de processamento. O que precisa ser visto são todos os outros componentes que estão envolvidos. Verificar se algum outro fluido produzido junto com o óleo, natural do reservatório, necessita ser tratado e separado antes de podermos exportar o óleo ou se apresenta impacto para o sistema de coleta, por se tratar de fluido mais agressivo, do ponto de vista de corrosão, por exemplo.

. E como está o andamento dos trabalhos do Procap?

Werneck: O Procap está dividido em três grandes áreas: sistema de riser, sistema de processamento e bombeamento submarino e os sistemas de instalação de equipamentos sem uso de recurso crítico (instalação a cabo de árvores de natal e manifold). A parte de riser chama mais atenção porque tem conceitos bastante inovadores que começamos a aplicar agora. A parte de processamento e bombeamento vem ganhando interesse no resto do mundo e provavelmente num prazo razoavelmente curto teremos aplicações interessantes dessas tecnologias. A instalação a cabo de equipamentos já está sendo usada para instalação de manifold, mas está sendo aprimorada para utilizar ainda menos recursos críticos. No restante dos equipamentos, estamos trabalhando no sentido de desenvolver unidades específicas para esse trabalho, o que vai representar um ganho substancial para a Petrobras.

. O que são recursos críticos?

Werneck: No caso da instalação, por exemplo, é a sonda de perfuração, que, além de ter taxa diária altíssima, não se encontra, não tem disponibilidade muito grande para uso. Outro tipo de recurso crítico são guindastes de alta capacidade, existem poucos no mundo, nenhum aqui no Brasil. Para alguns tipos de instalação, teria que mobilizar um recurso desses do golfo do México ou da Europa, com custo bastante grande. A idéia é adaptar as operações que a Petrobras precisa fazer aos recursos disponíveis, com grau de inovação bastante alto.

. Dentro da carteira de projetos do Procap há alguns já desenvolvidos em função de Tupi?

Werneck:Especificamente para o pré-sal não. Alguns projetos que tinham um cenário razoavelmente hipotético foram reorientados para serem desenvolvidos para o cenário de Tupi. Nesta parte de unidade de completação seca já trabalhávamos com desenvolvimento razoável, mas a abrangência do projeto aumentou muito e o cenário considerado também é outro. A parte de linhas resistentes para serviço corrosivo também tinha foco diverso, olhávamos características do campo de Marlim, hoje o campo de Tupi, com pressão mais alta, tem características especiais.

Os outros projetos, como são de Engenharia (ainda não estão eleitos para nenhum protótipo ou piloto), já estão sendo feitos para um cenário de profundidade maior, são razoavelmente independentes das condições de poço e reservatório. É questão de fazer cálculos para o cenário de profundidade, correnteza, onda.

. A Petrobras tem projetos mais avançados em subsea?

Werneck: Está sendo dedicado grande esforço ao grupo de projetos que tratam de processamento e bombeamento submarino. Apesar de ainda estarem sendo desenvolvido independentemente e focados em cenários existentes, trata-se do desenvolvimento de pequenas ferramentas que quando colocadas em conjunto podem se transformar em solução - ou para uma nova área ser produzida com processamento primário no fundo do mar e escoando para terra ou unidade próxima da terra, ou pode ser um processo de revitalização de alguma área onde se desmobilizam as unidades existentes para transformar em conceito de processamento submarino e bombeamento para longa distância. A vantagem é que a operação desse sistema pode apresentar vantagens de custo. Apesar de requerer um investimento inicial alto, uma vez instalado e operando a logística envolvida é menor que a necessária em unidades de superfície. As ferramentas estão sendo desenvolvidas e o que precisamos para concretizar esse tipo de aplicação é um cenário adequado. Esse tipo de conceito está sendo utilizado na Noruega em locais normalmente muito insalubres para unidades de superfícies, como temperaturas muito baixas e ameaça de choques de icebergs. Normalmente há fluidos produzidos que se mostram mais favoráveis a esse tipo de configuração. A opção, requer uma combinação adequada de todos fatores: atratividade no ambiente, o fluido produzido e o tipo de equipamento para instalar no fundo.

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