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08/05/2008 - 12:06

Etanol: a favor da profissionalização e contra o protecionismo

O ano de 2003 marcou o renascimento da indústria brasileira sucroalcooleira. O surgimento dos carros bicombustíveis, naquele ano, se tornou o símbolo da mudança de mentalidade que tomou conta de todo o planeta. Cada vez mais, o mundo percebe a necessidade da substituição gradual do petróleo por fontes alternativas de energia. Três fatores contribuíram para potencializar a busca por combustíveis renováveis: o aumento contínuo do preço do petróleo, a pressão crescente da sociedade por combustíveis renováveis e menos poluentes e a certeza de que o petróleo vai.

Para se capitalizar, algumas empresas optaram pela abertura de capital. Outras fizeram parcerias para receber investimento direto, principalmente do exterior. Mais do que recursos, os investimentos estrangeiros trouxeram a profissionalização do setor. Esse é um movimento sem volta. A pequena usina com administração familiar, que determinava a produção – açúcar ou álcool – ao sabor das oscilações de preço, deu lugar a empresas profissionalizadas, com estrutura de administração responsável, gestão com foco na governança corporativa e responsabilidade contratual. A profissionalização do setor sucroalcooleiro traz transparência para a sociedade em relação às práticas utilizadas na produção, segurança ao investidor sobre a aplicação dos recursos e garantia aos (potenciais) mercados consumidores de cumprimento de contratos.

O bom momento ajudou também na construção de pontes entre o mercado financeiro internacional e o produtivo setor sucroalcoleiro nacional. Foi o que aconteceu, por exemplo, com a Comanche, multinacional da qual sou conselheiro. Com a certeza de que o Brasil é a terra da oportunidade e que aproveitar o potencial agrícola é a chave para o desenvolvimento da indústria do etanol, eu e meus sócios fomos em busca de investidores que acreditassem nesse projeto. Encontramos um grupo de investidores-parceiros, com know how no setor de energia e disposição para trabalhar. Com essa injeção de capital, a empresa cresceu e ganhou musculatura para competir. Pudemos também criar uma estrutura de governança e gestão, com capital social pulverizado e foco exclusivamente na produção de álcool e biodiesel. Agora, o controle da empresa é dividido com os demais sócios e ganhamos em tamanho, estrutura e gestão.

Com a crise nos Estados Unidos, é forçoso reconhecer que o cenário internacional mudou. Após perdas financeiras, os investidores estão mais conservadores. A boa notícia é que a reação foi extremamente positiva. Os investimentos foram mantidos porque o setor sucroalcooleiro requer visão de médio e longo prazo, já que necessita de investimentos vultosos e o retorno do capital não se dá em curto prazo. Por isso, o investidor de biocombustíveis não altera seu planejamento estratégico devido a oscilações momentâneas de mercado. Ele sabe que as perspectivas para a expansão dos biocombustíveis permanecem as mesmas – o petróleo vai acabar e vai continuar poluindo –, assim como as boas condições agrícolas do país.

A profissionalização do setor também ajuda a enfrentar o protecionismo das nações desenvolvidas, que agora tem o etanol como alvo. Fruto de desconhecimento e de informações equivocadas, governos de países europeus, influenciados pelos poderosos lobbies protecionistas, estudam reduzir a demanda pelo etanol. Desconhecimento por argumentarem sobre uma inexistente dicotomia entre produção de etanol e de alimentos; desinformação devido à tentativa de estigmatizar o álcool como combustível poluente, sob alegações fantasiosas de que a produção de cana-de-açúcar desmata a Amazônia A boa notícia é que a Comissão Européia não cedeu às pressões e manteve a proposta de misturar 10% de etanol à gasolina da região até 2020.

A razão para a cruzada contra o etanol é o fato de a indústria automobilística do velho continente ser lastreada no diesel. A preferência desses segmentos é a adoção do biodiesel. É de conhecimento público que também nesse combustível o Brasil tem um potencial vasto. Logo, há um mercado para ser explorado, no qual podemos mostrar toda a nossa produtividade. O que não pode acontecer é o Brasil assistir passivo à tentativa de transformar o álcool em vilão, por motivos meramente financeiros, e abortarmos a futura expansão de uma indústria que se baseia em um combustível limpo, renovável e economicamente viável.

. Por: Delmo Vilhena, integrante do conselho de administração da Comanche Clean Energy

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