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16/06/2020 - 08:59

“Entre Paredes” — As relações familiares no confinamento

O Projeto “Pandemia Pandemônio” surgiu pela necessidade de estudar este momento de grandes e novas provações, de significativas alterações nas atitudes a partir do isolamento social.

O presente estudo - “Entre Paredes” é fruto de uma parceria entre a Mediator Pesquisa e Consultoria, Contexto Brasil Estudos de Comportamento e Mercado e Colhedata, visando levantar informações preliminares específicas sobre relacionamento afetivo e familiar neste período.

A pesquisa traz revelações positivas, apesar da negatividade inicial - medo, irritabilidade, estresse, impaciência e conflitos nos lares. Surge a preservação como novo e importante valor: 90% dos entrevistados declaram respeitar a quarentena e sair apenas por necessidade (mercado, farmácia, médico): a preocupação e o cuidado aumentaram desde o início do isolamento.

Entretanto, esta “necessidade de sair” é algo subjetivo (pode ser diária) e 21% admitem visitar/receber familiares. Dos que namoram, somente 40% mantêm o isolamento e 62% se inclinavam a burlar a quarentena no dia dos namorados.

Os que moram sozinhos (12%) expressam mais solidão, depressão e tristeza, particularmente mulheres – os homens são mais pragmáticos, falam em contrariedade (não ver/abraçar amigos, insatisfação com governo, difícil ir ao mercado etc.). Porém, 60% dos solitários se sentem seguros e amparados pela solidariedade (em alta nesta nova vida) de amigos e vizinhos e 40% tiveram momentos difíceis (angústia, mal estar, pânico).

Entre os que convivem, o grande ganho é o aumento de companheirismo e diálogo, em caráter definitivo. Abre-se uma espécie de umbral: mais entendimento mútuo e vista grossa para os defeitos, mais valorização do self made sobre o delivery e de antigos hábitos como mesa posta com capricho e jogar cartas, que convivem com a tecnologia digital.

A grande perda é privacidade (“nem para falar no celular, nem para dormir”). Crianças e adolescentes invadiram o espaço dos pais: não há mais: “este é o meu quarto”, “bata antes de entrar”, “dá licença que eu estou falando” – uma brecha que dificilmente será sanada. Alguns contornam com criatividade: delimitação de áreas no dormitório, encontros marcados e até “namorar escondido atrás do sofá”. A educação infantil também foi prejudicada pelo descontrole, o relaxamento das regras (“hora de dormir”, “de estudar”, “de TV ou internet”, “não comer doces” etc.)

Quanto à vida sexual, para a grande maioria o clima de romance se mantém e, para alguns (25%), teria até aumentado – não propriamente em qualidade/intensidade das relações físicas: o foco é o carinho, cumplicidade e a união para vencer dificuldades; basicamente recém-casados/em união estável compulsória aprimoram a performance sexual. Na verdade, apenas 14% afirmam aumento no desejo (geralmente homens), enquanto que 11% (maioria mulheres) aponta até redução – atribuída a cansaço, falta de privacidade/clima, dificuldade em se cuidar (baixa autoestima). Há uma possível sobrecarga de trabalho feminina: para 48% da amostra, a distribuição de tarefas em casa estaria “igual” – o que sugere a manutenção de um padrão machista, mesmo que os homens sejam hoje mais participativos.

Assim o estudo buscou entender esse isolamento social, medir o impacto das emoções e comportamentos sobre as relações familiares e seus possíveis desdobramentos para o futuro.

A metodologia foi quantitativa: 500 entrevistas por telefone e internet, nas cidades do Rio de Janeiro e de Niterói, de 20 a 25 de maio, com homens e mulheres a partir de 16 anos, classes A/B/C/D/E – além de 10 entrevistas em profundidade detalhando algumas percepções.

. Por: Maria Nazareth Barcellos, publicitária e Diretora da Contexto Brasil Estudos de Comportamento e Mercado.

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