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14/05/2008 - 11:11

Da competitividade à sustentabilidade – o grande desafio do etanol

Tornar-se competitiva, foi o grande desafio da indústria sucroalcooleira nos últimos 30 anos. A elevação média de produtividade à taxa de 3,7%/ano resultou de investimentos continuados em pesquisa, apesar da insistência de que o etanol não era competitivo com a gasolina. Mas o tempo veio demonstrar a competitividade empresarial do etanol, que hoje tem o custo médio de produção de US$ 1,6 por galão, contra US$ 2,8 do galão de gasolina no mercado livre.

Vencido o desafio da competitividade, resta o da sustentabilidade, do ponto de vista social, ambiental e econômico. Cabe-nos enfrentar uma batalha acirrada contra o etanol no âmbito midiático, onde não faltam matérias comprometidas por vieses e relatórios controversos. Questiona-se o tratamento ao trabalhador rural e o uso da terra.

O trabalhador rural da cana é o mais bem pago, e o cultivo ocupa apenas 7,8 milhões ha no Brasil, dos quais 4,4 milhões para álcool. Isto é muito menos que os 24,5 milhões ha ocupados com soja, os 12 milhões ha com milho, e os 211 milhões ha com pastagens. É verdade também que a cana avança lentamente sobre pastagens muitas vezes degradadas. Mas estes argumentos não bastam, e nossos interlocutores estão cansados de mapas mostrando que o cultivo da cana está a 2500 km da região amazônica. Colocam em questão, agora, os impactos diretos e indiretos do uso do solo. A pastagem substituída pela cana não estaria, indiretamente, levando a fronteira agrícola, e as pastagens, para a Amazônia? Temos de nos preparar para este tipo de argumento. A resposta é ‘não’, mas exige explicação e comprovação.

A taxa de ocupação da pecuária, de 0,8 cabeça/ha, ainda é muito baixa. Porém, São Paulo já ultrapassa 1,2 cabeça/ha. Um aumento de 50% basta para liberar mais de 70 milhões de ha de pastagens, quase 16 vezes a área atual ocupada com cana para álcool. Há casos em que se usa parte do bagaço excedente para alimentação animal no período crítico de seca, com capacidade de engorda superior comparada à pastagem.

O Consenso de Biocombustíveis Sustentáveis, concluído em março por 17 pesquisadores independentes de 12 países, reunidos no Centro de Bellagio, Itália, da Fundação Rockefeller, resultou em documento que diagnostica e desmistifica várias bobagens. E recomenda a formuladores de políticas energéticas a produção e uso de biocombustíveis de forma sustentável.

Acusações contra o etanol de cana produzido segundo o modelo brasileiro não se sustentam. A nível global, a acusação de que biocombustíveis incrementam o preço dos alimentos pede melhor análise. Dos 13,2 bilhões ha de terras no mundo, 1,5 bilhão ha são ocupados pela agricultura e 3,5 bilhões com pastagens para a produção de carne, leite e lã. Biomassa para biocombustíveis ocupa apenas 0,025 bilhão ha; no Brasil, 0,0044 bilhão ha.

Claro que o etanol de milho ou de trigo produzido nos EUA e na Europa impacta o preço destas commodities, mas não é o único fator. Investimentos especulativos, condições climáticas adversas em regiões produtoras importantes (China, Índia e Austrália) e o aumento na demanda por alimentos (China e Índia) são fatores bem mais relevantes.

Desta forma, tanto no Brasil como no resto do mundo, o desafio deixa de ser a conquista da competitividade, já obtida, para a conquista ou comprovação da sustentabilidade.

. Por: Plinio Mário Nastari, Ph.D. em economia agrícola, e presidente da Datagro, é um dos autores do Consenso de Biocombustíveis Sustentáveis, elaborado em Bellagio.

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