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14/10/2020 - 07:26

Transformações tecnológicas e ambiente de incertezas demandam novas competências


Os sucessivos avanços das tecnologias digitais de informação e comunicação que desde meados da década de 1990 impuseram um acelerado ritmo de mudanças nos modos de produzir, distribuir e consumir bens e serviços geraram correspondentes mudanças nas formas de sociabilidade, com destaque para aquelas relacionadas ao mundo do trabalho. Novas habilidades e competências passaram a ser valorizadas e requeridas pelo mercado de trabalho mundial tornando-se assim fator de empregabilidade.

Nas edições de 2019 e 2020 do Fórum Econômico Mundial, evento que se realiza anualmente na cidade suíça de Davos e que reúne lideranças empresariais, políticas e intelectuais, o foco das mais importantes discussões voltou-se aos processos de automação e transformação digital no âmbito da 4ª Revolução Industrial e seus impactos sobre o futuro do trabalho. Novos modelos empresariais e organizacionais intensivos em tecnologia têm revelado a necessidade de profissionais com domínio de tecnologias, mas também de outras habilidades. Nesse contexto as melhores escolas de Administração e Negócios, bem como de outras áreas de formação, vem enfrentando o desafio de incorporar e/ou aprimorar ferramentas pedagógicas para o desenvolvimento de um conjunto de habilidades não-técnicas, chamadas também de soft skills.

Thereza Rubim, professora do curso de Administração da Universidade Presbiteriana Mackenzie Alphaville com formação e experiência na área de comportamento organizacional nos ajuda a compreender tais desafios.

AFC - Afinal, o que são as soft skills? Qual é sua importância? MTRS - As soft skills são as competências e habilidades comportamentais, que complementam a formação e a atuação de profissionais. Estão relacionadas ao posicionamento do profissional frente aos desafios. Podem também ser denominadas de habilidades sociais, competências não cognitivas e competências transversais.

Por muitos anos a educação formal reforçou a importância do conhecimento e competências técnicas nas mais diferentes áreas, ou seja, as hard skills, que são importantes, no entanto não suficientes para a atuação dos profissionais e principalmente para os gestores.

Em um contexto tão complexo e dinâmico, são necessárias competências complementares que possibilitem ao profissional se relacionar e interagir com todos os elementos envolvidos em sua realidade. São elas: comunicação, foco em resultado, agilidade, resiliência, flexibilidade, empatia e colaboração. São competências diferenciadoras e relacionadas com a percepção do ambiente de negócios e a utilização da criatividade, inovação e novas formas de resolver e propor soluções para os problemas. Enfim, podemos considerá-las como competências diferenciadoras.

AFC - Diante do atual quadro de mudanças, as escolas estão preparadas para o desafio de formar as novas gerações? MTRS – Na área da Administração, as universidades sempre tiveram foco em formar especialistas com o domínio do conteúdo técnico. No entanto, frente à necessidade das organizações e do mercado de trabalho, as escolas têm direcionado esforços para promover a formação de líderes, revendo seus programas e incluindo métodos de ensino, pesquisa, aprendizagem e o desenvolvimento de soft skills.

No atual cenário não basta que os profissionais sejam bons tecnicamente, é necessário desenvolvê-los como líderes transformacionais, que saibam analisar o presente, olhar o futuro e propor soluções inovadoras e sustentáveis, que irão impactar em toda a sociedade.

AFC - Como desenvolver essas habilidades em jovens em processo de formação? MTRS - Para tal, disciplinas como empreendedorismo e desenvolvimento de habilidades gerenciais, presentes nos cursos de Administração do Mackenzie, abordam os temas e a prática de comunicação, trabalho em equipe, tomada de decisão, inteligência emocional, resolução de conflitos, criatividade e resolução de problemas, adotando metodologias práticas de ensino. São estimulados também o autoconhecimento, empatia e persistência, fundamentais para um líder moderno.

Tais competências são desenvolvidas por meio da prática e do exercício, como por exemplo, a liderança e o empreendedorismo. Desta forma, são realizadas oficinas, workshops, pesquisas científicas, análise e discussão de estudo de caso de situações reais, dentre outras.

Assim, as universidades tornam-se espaços integrados de análise, debate e reflexão do contexto atual e de criação de possibilidades futuras, estimulando o olhar para soluções inovadoras e coletivas.

AFC - Muito se tem falado da importância das redes de relacionamentos profissionais. Afinal, por que o networking é tão importante? MTRS - O networking é consequência de uma inteligência interpessoal de estabelecer relacionamentos saudáveis com profissionais e pessoas das mais diferentes áreas e culturas, assim como interagir, entender e relacionar-se com os mais diversos grupos de interesse/stakeholders.

AFC - Nos anos 1990, a partir de artigo publicado por Peter Salovey e John D. Mayer ganhou destaque o conceito de inteligência emocional definido como “(…) a capacidade de perceber e exprimir a emoção, assimilá-la ao pensamento, compreender e raciocinar com ela, e saber regulá-la em si próprio e nos outros.”. Hoje estamos vendo ganhar importância o conceito de inteligência social. Que mudança está contida na ascensão desse novo conceito? MTRS - A inteligência emocional associada à inteligência social contribui para que o profissional consiga perceber, entender e responder ao contexto e às adversidades existentes, não apenas relacionadas ao negócio, mas também aos impactos relacionados ao seu entorno. A inteligência social possibilita, portanto, buscar soluções e reagir adequadamente ao ambiente global no qual está inserido.

AFC - O que será necessário para que as conquistas tecnológicas hoje acumuladas se convertam em verdadeiras fontes de vantagens para as gerações presentes e futuras? MTRS - O profissional do futuro deverá estar preparado para alavancar as mudanças tecnológicas, com soluções inovadoras para um contexto novo e imprevisível, possibilitando resultados não apenas para a organização, mas também para a sociedade.

A presente análise nos parece oportuna tendo em vista a atual conjuntura em que o mundo se encontra e diante da certeza de que o pós-pandemia exigirá de todos, amplos e novos esforços para uma recuperação com soluções responsáveis e inovadoras para velhos e novos problemas.

Paradoxalmente, as medidas de segurança sanitária adotadas no Brasil e no mundo que implicaram em restrições de mobilidade puseram em movimento forças poderosas que se expressaram através de inovações e empreendedorismo, mitigando alguns dos impactos negativos da pandemia. As melhores realizações tiveram como marca a combinação de habilidades técnicas e comportamentais.

Isso nos faz recordar a avaliação feita pelo escritor holandês, Rutger Bregman, convidado especial da edição de 2019 do Fórum Econômico Mundial de que “Não é a tecnologia em si que determina o curso da história. No fim, somos nós humanos, que decidimos como dar forma a ela, e assim ao nosso futuro.”

. Por: Arnaldo F. Cardoso e Maria Thereza Rubim são professores e pesquisadores do curso de Administração da Universidade Presbiteriana Mackenzie, campus Alphaville.

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