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15/05/2008 - 10:27

Paulo Alberto, um cavalheiro


Estou longe do Rio e recebo a triste notícia do falecimento prematuro do jornalista e escritor Paulo Alberto Monteiro de Barros, o consagrado Artur da Távola. No momento mesmo em que o seu corpo está sendo enterrado, no cemitério São João Batista, resolvo prestar-lhe esta homenagem, uma forma de demonstrar solidariedade à esposa Mirian Ripper e aos seus três filhos.

O nosso conhecimento tem meio século. Nasceu nas lides universitárias e se robusteceu quando, eleito deputado, foi sempre um grande defensor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, coerente com a sua preocupação de priorizar o ensino público e gratuito. Isso tem uma explicação: genro e admirador de Anísio Teixeira, incorporou as idéias avançadas do sogro, extraordinário educador que trouxe para o Brasil os princípios pedagógicos do pensador americano John Dewey.

Lembro que, ainda Paulo Alberto, uniu-se a um grupo de jovens deputados (Alberto Rajão, Ciro Kurtz e Everardo Magalhães Castro, de tendências ideológicas distintas), para arrancar da Assembléia a aprovação da primeira Secretaria de Ciência e Tecnologia do país. Tive o privilégio de ser o seu ocupante, no inesquecível Governo Negrão de Lima. Uma prova de arrojo e antevisão da importância do tema.

Apaixonado pela música clássica, Paulo Alberto escrevia programas para a Rádio MEC, mas não eram raros os seus pronunciamentos sobre educação, setor que considerava fundamental para os projetos de desenvolvimento do país. Esse arrojo talvez tenha lhe custado a cassação do mandato. Foi obrigado a deixar o Brasil, vivendo tristes anos no exílio sobretudo no Chile. Lá foi professor da Universidade de Santiago, esmerando-se em obter adeptos para as nascentes tecnologias educacionais.

Retornou ao Rio de Janeiro em 1968. Procurei por ele, para uma conversa de amigos. Tinha medo de ser preso, não sabia o que fazer. Ofereci-lhe o emprego de redator na revista “Fatos & Fotos”. Ele nunca esqueceu. “Você foi o primeiro a ter essa coragem. Muita gente fingia que não me conhecia, na ocasião, para não se comprometer. Devo-lhe a minha gratidão eterna.” Foi muito comovente quando lembrou o fato, numa solenidade em Nilópolis, quando inaugurávamos uma escola na Baixada fluminense. Chorou de emoção. Eu, também.

Como escritor, foi um cronista primoroso. Tive o privilégio de editar o seu livro “Arte de Ser”, retratos muito bem costurados, do ponto de vista acadêmico, do cotidiano das pessoas – e a importância do amor nessas relações. Curioso que muita gente pensava que ele tinha formação na área da Psicologia, tamanho o seu talento para penetrar nos mistérios da alma humana. Profissionalmente, entretanto, nunca desejou ser mais do que um jornalista bem sucedido, como demonstrou nos muitos anos de crítico de TV.

Senador da República, de grande prestígio, Artur da Távola deixou em Brasília uma série de discursos memoráveis, focalizando principalmente as agruras da educação brasileira. Brilhou também como deputado federal. Quando o coração falhou, exercia o cargo de diretor da Rádio Roquette Pinto, na luta incessante pela valorização do artista brasileiro. Perdi um grande amigo. Deixou-nos um verdadeiro e emblemático cavalheiro.

. Por: Arnaldo Niskier da Academia Brasileira de Letras (ABL) e presidente do CIEE/RJ | Contato: [email protected]

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