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Santo Amaro festeja a tradição do Bembé do Mercado


O xirê - a saudação em circulo a Iemanjá e Oxum - movimentou no dia 13 de maio (terça-feira), cedo no mercado municipal da cidade de Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano. Às 8 horas, babalorixás, ialorixás, filhas e filhos-de-santo de 42 terreiros de várias nações - todos vestidos de branco como manda a tradição centenária do “Bembé do Mercado”, única cerimônia do candomblé realizada fora do terreiro e ao ar livre -, dançavam em circulo, ao som dos atabaques e cantavam em iorubá, em homenagem aos orixás das águas. No meio do circulo os balaios com as oferendas, espelhos, flores, perfumes que depois da cerimônia seguiram em cortejo pela cidade até a praia de Itapemba, no distrito de Acupe.

São três noites de agradecimento à liberdade, com homenagens aos orixás. O evento começou no dia 10 deste mês e terminou na manhã do dia 13 com a entrega das oferendas no mar. Antes da saída do cortejo, a convidada ilustre Dona Canô - mãe de Caetano Veloso e Maria Bethânia - partiu o bolo decorado com as cores de Iemanjá (azul e branco), que foi oferecido aos participantes e colocado nos balaios. Acompanhada de seu filho Rodrigo Velloso, Dona Cano - que há 15 anos parte o bolo para as oferendas - lembrou que esta é uma festa alegre e que todos os participantes estão ali movidos pela fé.

No roteiro do turismo étnico - O evento vai fazer parte do roteiro oficial do turismo étnico. Para o coordenador de Turismo Étnico da Secretaria de Turismo da Bahia, Billy Arquimimo, o compromisso com ancestralidade, a resistência em preservar a cultura afro e a sua forte identidade mostra a importância da festa, que passa a integrar o calendário turístico do Estado.

À frente da cerimônia este ano, José Raimundo Lima Chaves, Pai Pote, 42 anos, Babalorixá do Ilê Axé Oju Onirê, com 32 anos de santo, explicou que o xirê é o circulo da vida é o momento também de saudar os antepassados antes da saída das oferendas. Para ele, o “Bembé do Mercado” é a cerimônia que mostra a resistência do povo de santo, além da celebração da liberdade. “Começou com os pescadores há 119 anos e nós continuamos até hoje”, ressaltou pai Pote.

Depois de percorrer as principais ruas da cidade, o cortejo formado por dois ônibus e vários carros seguiu para o distrito de Acupe. Na praia de Itapemba, a emoção e a religiosidade ficaram mais evidentes, incluindo a manifestação dos orixás, através das filhas e filhos-de-santo. Os balaios foram colocados em um barco e levados para serem “arriados” no mar.

Na terra, todos esperaram a volta do barco para realizar o último ritual: encerrar a cerimônia com cânticos a Oxalá. A filha-de-santo, Ana Nery da Silva, 60 anos, do terreiro Ilê Axé Omin J Jarun, mostrava satisfação ao seguir com sua neta Niele de 10 anos. Lembrou que “com certeza os orixás das águas Iemanjá, Oxum e Naná ficaram contentes depois das homenagens”.

O casal de professores norte-americanos, Robert e Diane Port, ambos com 65 anos, estavam encantados. Eles ensinam na Universidade de Indiana nos Estados Unidos e queriam conhecer uma autêntica celebração do candomblé. “Nós nos casamos na África, a cultura afro nos interessa muito e, por isso, escolhemos assistir a cerimônia”, afirmaram.

Também foi o interesse pela riqueza cultural da festa que levou a historiadora Ana Rita Araújo Machado a pesquisar a manifestação desde o seu surgimento no ano da abolição da escravidão no Brasil em 1889 até os dias atuais. ”Trabalho com o tema desde 1997 com a intenção de mostrar a memória da festa como forma de resistência, o que deixou de ser explorado pela historiografia oficial”, ressaltou.

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