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10/11/2020 - 09:47

Mudança organizacional em ambiente de incertezas


O atual contexto de contínuas inovações tecnológicas e ambiente de incertezas - agravado pela atual pandemia do coronavírus - tem levado muitas organizações a pôr em curso processos de mudanças extensas, visando ganhos de produtividade e competitividade no enfrentamento da concorrência. A lógica da "destruição criativa", do novo que se sobrepõe ao velho, inspiradora de muitos desses processos já foi criticada por estudiosos da Administração como Eric Abrahamson, professor da Columbia Business School e autor de livros como "Mudança Organizacional", traduzido para o português em 2006. Alertando sobre os riscos de mudanças radicais, por vezes desnecessárias, Abrahamson defende a "recombinação criativa" através do uso de ferramentas práticas e técnicas para a identificação e revalorização de cinco elementos organizacionais: pessoas, processos, estruturas, cultura e redes sociais.

A percepção de necessidade de correção de fraquezas e aproveitamento de oportunidades pode desencadear mudanças positivas nas organizações, mas pode também levar o estresse para as organizações e fragilizar seus fatores de força.

Sobre os principais cuidados que os gestores devem tomar em contextos de elevado grau de incertezas para a realização de mudanças organizacionais, evitando os voluntarismos e modismos, ouvimos a professora e consultora Denise Curi, pesquisadora da Universidade de Aveiro, em Portugal, que fez as seguintes ponderações:

"Eu já vi alguns consultores que, sem realizar uma análise mais profunda, sugeriram à empresa abrir um novo negócio ou nova atividade, simplesmente porque a empresa possuía alguma competência. [...]. Quando a reengenharia estava no auge, muitos consultores indicavam a reconstrução da empresa, desconsiderando todo o seu passado. Muitas empresas fizeram isso, e acabaram entrando em apuros".

Denise Curi complementou: "Em momentos como este que estamos vivendo, penso que a melhor alternativa é a cautela e observar as oportunidades que podem surgir, mas sem perder muito o foco do negócio".

O fenômeno dos modismos em Administração foi caracterizado por Clau Sganzerla como sistêmico e cíclico no recente artigo, Como filtrar modismos, publicado na revista GV Executivo da Fundação Getúlio Vargas. Nas palavras do pesquisador "a criação, seleção, produção e disseminação tanto da moda quanto dos modismos da Administração são um fenômeno sistêmico e cíclico, e se renovam com estímulos externos (condições de mercado, incerteza tecnológica, sucessão de novos estilos) e internos (frustração com tentativas passadas de inovar, desejo de diferenciação) ". No que tange aos resultados, o autor avalia que "inexiste evidência científica da relação causa e efeito entre a adoção de modismos e o aumento de desempenho das empresas".

Como os tempos da tecnologia, do mercado e da ciência são diferentes, as escolas de Administração enfrentam o desafio de compatibilizar com a excelência do ensino, a atualização de conteúdos e métodos de ensino e aprendizagem, para a capacitação de jovens universitários para o dinâmico mercado de trabalho.

Quanto aos conhecimentos essenciais na formação acadêmica de administradores, a experiente professora Denise Curi avalia que as universidades devem valorizar "os conhecimentos relacionados às disciplinas clássicas como estratégia empresarial, finanças, marketing e economia global". Avalia ainda que as universidades devem promover a "visão de futuro" atenta às "tecnologias da informação (e aqui entra a questão de gestão de dados), conhecimentos orientados para os aspectos sociais (principalmente no tocante à relacionamento interpessoal) e aspectos ambientais (estamos falando em transição energética, economia verde, mudanças climáticas) ". Denise salienta que "é necessária uma formação mais humana, porque tudo o que puder ser informatizado, será, portanto, as funções operacionais desaparecerão".

Em países desenvolvidos do Hemisfério Norte, especialmente aqueles que tem registrado o aumento de pressões demográficas, tem ganhado crescente atenção acadêmica e estímulos para pesquisa as temáticas ligadas à juventude e o futuro do trabalho.

Pesquisas sobre objetivos de carreira com jovens estudantes de Administração e áreas correlatas tem revelado como quesitos valorizados "trabalhar em algo que tenha propósito e faça diferença no mundo", "que seja útil e que beneficie a sociedade e o planeta" e expressam a preocupação com o "equilíbrio entre vida pessoal e profissional". Ao mesmo tempo, essas pesquisas mostram admiração dos jovens por grandes empresas globais, que em sua maioria adotam métodos agressivos de gestão e intensa competição interna, muitas vezes estabelecendo metas que exigem dedicação intensa ao trabalho, demandando viagens e rotinas estafantes.

Tendo em perspectiva essas aparentes contradições perguntamos à professora Denise Curi se esse tipo de contradição passou a ser mais explícita entre os jovens profissionais das gerações Y e Z. Se esses jovens profissionais formados em ambientes mais complexos, com maior acesso à informação, com competências técnicas e comportamentais despertadas, estão diante de conjuntura propícia para assumir o protagonismo em processos de mudanças organizacionais positivas. Há pesquisas que alertam sobre os riscos desses jovens qualificados serem absorvidos por grandes corporações, num contexto de crise do trabalho, sem que suas potencialidades sejam bem aproveitadas. Denise Curi avalia que "os jovens estão muito mais ligados às questões sociais e ambientais. E a ambição desses jovens não está focada nos retornos financeiros e sim na qualidade de vida. Esse ambiente mais intenso vale a pena enquanto trouxer benefícios pessoais que estão muito mais relacionados a "aproveitar a vida" do que "acumular bens." Hoje o protagonismo juvenil está orientado para um mundo com mais qualidade, mais equitativo e sustentável".

. Por: Arnaldo Francisco Cardoso, professor e pesquisador da Universidade Presbiteriana Mackenzie, campus Alphaville.

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