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20/11/2020 - 08:56

Medo do desemprego é maior entre negros


Betânia Pêgo, psicóloga e empreendedora

Racismo estrutural dificulta ascensão de negros no mercado de trabalho.

No segundo trimestre de 2020, o índice de desemprego geral atingiu 13,3%, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua do IBGE. Quando estratificado esse dado com base na cor da pele, a taxa de desemprego de pretos ficou em 17,8%, de pardos, 15,4%, e de brancos, 10,4%. “Os setores onde está tendo a maior redução de postos de trabalho e como consequência o aumento de desemprego, são setores onde majoritariamente empregam pessoas negras -— a construção civil e o comércio, que também apresentam característica de salários mais baixos em relação aos outros setores — explica o professor de economia da Una, Cleyton Izidoro.

No dia 20 de novembro se celebra o Dia da Consciência Negra, com o crescimento do debate sobre racismo estrutural e institucional e o seu reflexo no mercado de trabalho. Para a professora de Direito da Una Núbia Elizabette de Jesus Paula, negros não podem se contentar com os papeis que estão arraigados no imaginário social, ocupando somente funções de baixa remuneração e que exigem pouca escolaridade. — O racismo estrutural está enraizado na sociedade brasileira. Eu, mulher negra, não vejo problema em ser profissional de serviços gerais, babá, empregada doméstica ou gari. São profissões dignas e de extrema importância. O problema é quando um grupo de pessoas brancas entendem que essas profissões são destinadas a negros, e não existe outra alternativa — diz.

Núbia incentiva a luta para exigir políticas de igualdade e acesso no Brasil e defende que não basta não ser racista, é preciso ser antirracista. — Ficar em cima do muro já não adianta. Não é preciso ser negro para compreender a violência que o racismo representa. Neste sentido, mais que a utilização da igualdade tal como proposto na Constituição Federal, precisamos da utilização da equidade, da abertura de oportunidades, tornando-as mais justas para todos — diz.

A ascensão do negro no mercado de trabalho está intimamente ligada à educação. Programas de diversidade, políticas públicas, e a democratização do ensino superior precisam ser vistas como parte da governança das empresas e estarem nas metas governamentais.

A psicóloga e empreendedora Betânia Pêgo, 27 anos, se formou na Una, com bolsa de 100% do Prouni. —Os meus grandes desafios durante a graduação foram de ordem econômica, adaptativos e de saúde mental. O fato de não pagar faculdade todo mês, não eliminava a angústia de não ter dinheiro necessário para arcar com todas as outras despesas essenciais como alimentação e transporte — conta.

Betânia é a primeira pessoa da família a conquistar um diploma de ensino superior. —De repente me tornei a filha psicóloga, a tia psicóloga, a irmã psicóloga, os meus pais falam disso com orgulho, mostram fotos, guardam cartões, se alegram, sempre que estamos juntos recordamos dos tempos difíceis, de onde moramos e o que passamos—.

O desejo dela é que pessoas pretas tenham recursos e liberdade para sonhar e realizar. “Eu não quero ser só a história trabalhada no mês da consciência negra, embora saiba que seja importante. Eu me considero uma boa psicóloga, mas ser a melhor, ser excelente, ser duas vezes melhor, sempre está na minha cabeça pelo fato de ser uma pessoa preta, são coisas que me proponho e que sigo às voltas com minha analista”, diz.

Se a escolha da carreira profissional é difícil para os jovens, é mais para os negros. Muitas vezes o caminho tomado foi definido para tentar driblar o medo do desemprego. Antes de entrar para o curso de Gastronomia da Una, Júlio César Cândido de Souza, 22 anos, tentou Nutrição. Já no terceiro período enfrentou ansiedade e depressão. Trancou a faculdade e voltou para a casa dos pais em Betim para realizar o sonho da gastronomia. — Quando saí do Ensino Médio, já gostava da cozinha, mas eu escutava que essa era uma área para gente rica. E eu como homem, já tinha que ter uma profissão direito —diz.

Hoje, Júlio César conta com o apoio da família e investe na criação e produção de doces. O empreendimento, por enquanto, é divulgado no Instagram. Segundo ele, falta representatividade no setor. — É uma área seletiva, que não atrai negros. Não tenho professores negros, assim como não vejo chefes famosos na TV da minha cor — diz.

Júlio se inspira em João Diamante, chef e empreendedor social que tem se destacado no cenário gastronômico do Rio de Janeiro. — Ele é premiado, mas não se distanciou da culinária raiz e não se afasta das suas origens —diz.

Essa é a meta de Júlio, crescer na gastronomia e aumentar a representatividade no segmento. —Quero que as pessoas se identifiquem comigo porque a gastronomia é para todo mundo. Quero que mais negros venham para a gastronomia. No Instagram tenho postado receitas fáceis de serem executadas. Os pobres e pretos ainda têm muito receio. Espero ser referência para essas pessoas e reconhecido pelos meus pares — diz.

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