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24/11/2020 - 07:30

Empreendedorismo feminino rompe barreiras e inova na pandemia


Desde 2014 o dia 19 de novembro passou a ser o Dia Global do Empreendedorismo Feminino, iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU) que reflete o crescimento da presença ativa das mulheres no empreendedorismo e na criação de valor na sociedade contemporânea, mas também alerta sobre as dificuldades adicionais que as mulheres encontram para firmar seu espaço em um mundo onde ainda prevalece uma mentalidade masculina.

O empreendedorismo é comumente caracterizado pela combinação de uma ideia inovadora com os meios para a sua realização. E quando falamos do empreendedorismo feminino é preciso falar de habilidades e competências adicionais, sobretudo de uma disposição para romper barreiras socioculturais que ainda persistem em graus variados nas mais diversas sociedades.

Se já são muitos os desafios para mulheres empreenderem, o que dizer sobre o empreendedorismo feminino em tempos de pandemia?

Pesquisa recente realizada pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) apontou que empreendedoras no Brasil, que são cerca de 24 milhões, na pandemia se viram diante de dificuldades ainda maiores como a de conciliar o tempo demandado pela atividade profissional e o das novas configurações das responsabilidades domésticas e familiares, desigualmente divididas com os homens.

Mas a pesquisa revelou também que ao mesmo tempo em que enfrentam maiores dificuldades, as mulheres são mais flexíveis e inovadoras que os homens na gestão de seus negócios.

No tocante ao uso das tecnologias digitais de informação e comunicação como ferramentas para a gestão em meio às restrições impostas pela pandemia, a referida pesquisa mostrou que 71% das empreendedoras brasileiras usaram as redes sociais e diferentes aplicativos de internet para divulgar e vender seus produtos, enquanto entre os homens foram 63%.

Se no Brasil as mulheres empreendedoras estão rompendo barreiras, na Itália, país com o qual temos históricos laços culturais, as mulheres também lutam para demarcar seus espaços.

Importantes setores como o automobilístico no qual a Itália fez história com marcas que vão desde a popular Fiat até a sofisticada Ferrari foram fundados e se desenvolveram a partir de fortes associações com o universo masculino. E se observarmos o setor da moda, outra importante fonte de receita e projeção da imagem do país, tem suas mais renomadas grifes ostentando nomes de estilistas masculinos como Giorgio Armani, Valentino, Salvatore Ferragamo, Dolce & Gabbana, entre outros.

É no contraste com essa cultura que ganha interesse as trajetórias de jovens profissionais como a da estilista italiana Agnese Ante, de 28 anos, formada pela renomada Next Fashion School, de Bolonha.

Em fevereiro passado Agnese obteve a licença para comercialização de sua marca Agnese Ante, superando entraves burocráticos que ainda inibem a criação de pequenas e médias empresas no país. Poucos dias depois foi decretado o lockdown pelo governo a todo o país em função do avanço da pandemia de coronavírus mas Agnese não desanimou e passou a reformular seu plano de marketing com atenção à estrutura de comercialização e aos meios mais adequados para alcançar os clientes considerando as restrições de mobilidade. A aposta foi no e-commerce, utilizando as redes sociais e aplicativos de internet. Agnese diz que “para promover minha marca, eu uso as redes sociais, como Instagram e Facebook, diariamente, uma vez que atingem um público que de outra forma seria inacessível”.

Depois dos meses em que a Itália foi o primeiro país europeu a enfrentar a explosão de casos e mortes pelo coronavírus veio o declínio da curva de contágios e a gradual reabertura das atividades econômicas. Dando novos passos em seu negócio, em 15 de outubro Agnese abriu sua primeira loja física à 180 metros da Catedral de Modena e, poucos dias depois se defrontou com um novo decreto impondo restrições diante do avanço da segunda onda da pandemia.

Diante dessa situação Agnese passou a incorporar ao seu portfólio os serviços de reparos e reformas de alfaiataria, na contramão da fast fashion, como um dos meios de ampliar as oportunidades de captação de clientes e aumento de receitas. No contexto da pandemia, a confecção de máscaras artesanais também foi uma boa decisão.

Ao comentarmos o caso de Nancy Pelosi, a poderosa presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos que incorporou o uso de máscaras de proteção contra a Covid-19, combinando com as roupas, para conscientizar a população e reforçar sua posição política em relação à pandemia em oposição a postura do governo de Donald Trump, Agnese saudou o fato de “na Itália, o governo, desde o início da pandemia, tem defendido a importância do uso de equipamentos de proteção individual, como máscaras, encontrando pouca oposição política sobre o assunto. No que diz respeito aos negacionistas, pessoalmente sempre respeitei as prescrições e recomendações de especialistas e penso que esta é a única forma de superar uma crise sanitária sem precedentes.”

Sobre qual mulher gostaria de vestir com sua grife, Agnese Ante citou a astronauta Samantha Cristoforetti, “que ingressou na Agência Espacial Europeia como a primeira mulher italiana. Ela é um modelo de mulher forte e independente, ao escolhê-la realço meu desejo de ver minhas roupas usadas por pessoas que não são necessariamente modelos porque quero valorizar as particularidades que se transformam em méritos”.

Indagada sobre com qual tipo de empreendedor ela mais se identifica citou o “empreendedor nato” que é aquele descrito como visionário, otimista, à frente do seu tempo.

A jovem estilista italiana tem apostado em seu sonho e acredita que assim está contribuindo para que seu país, de tantas tradições e contradições, possa ver suas melhores energias – como a de seus jovens – pavimentando os caminhos para um futuro melhor.

Arnaldo Francisco Cardoso, pesquisador e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie. | E-mail: [email protected]

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