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21/05/2008 - 09:07

Casa da Bóia comemora 110 anos no comércio brasileiro


Os desafios da sucessão familiar, do mercado em constante atualização e como atravessar os séculos com fôlego para se manter ativo, uma casa mais antiga que o Teatro Municipal e a Estação da Luz.

Neste mês de maio está acontecendo uma comemoração especial para o comércio paulista e brasileiro. Data que marca os 110 anos de atividades da primeira fundição de cobre do Brasil serão comemorados no casarão centenário da Rua Florêncio de Abreu, 123, Centro de São Paulo.

A Casa da Bóia Comércio e Indústria de Metais foi a pioneira na fabricação de peças de cobre no Brasil. Isto em decorrência das habilidades do imigrante sírio Rizkallah Jorge Tahan, que, ao contrário da grande maioria de imigrantes árabes no séc XIX, não sabia trabalhar com a venda de tecidos. Mas sim, conhecia como poucos a manipulação dos metais.

Nos idos de 1800 a indústria brasileira engatinhava, já que a economia era basicamente agrária e a população estava distribuída nas fazendas de borracha no norte do País e de café no sudeste.

Por outro lado, a cidade de São Paulo começava o seu processo acelerado de urbanização. Era um cenário propício para novos negócios, mas nada fácil para um imigrante recém-chegado de um país extremamente distante, geográfica e culturalmente.

Sem saber falar português, Rizkallah Jorge empregou-se como faxineiro em uma empresa que vendia peças de metal. Aos poucos, vencendo a barreira da língua, foi mostrando ao seu patrão que era um hábil artesão. Prosperou, comprou a empresa e, em apenas três anos de Brasil, fundava a “Rizkallah Jorge e Cia”, que viria a ser a primeira indústria brasileira a produzir peças de cobre.

A empresa prosperava, fabricando peças de decoração, como corrimãos, arandelas, lustres, caixas de correio, etc. Todavia, a oportunidade de crescimento veio mesmo com os surtos de febre amarela que assolaram os cidadãos nos finais do século XIX e início do século XX.

Com a doença avançando sobre os centros urbanos como São Paulo era preciso melhorar as condições de higiene da população.

Um novo mercado surgia - A demanda por material hidráulico crescia. Crescia também a necessidade de equipar as casas com caixas d’água que precisavam das bóias para regular a entrada de água.

Assim a empresa começou a ser conhecida como “a casa que tem a bóia”, “a casa das bóias”. O nome informal pegou. A Rizkallah Jorge e Cia se rendia à força do mercado e assumia em sua razão social o nome popular. Assim surgira a “Casa da Bóia”.

Já corria o século XX e a Casa da Bóia experimentava um crescimento constante – de seus fornos saíam peças manufaturadas que abasteciam todo o Brasil.

A esta altura a segunda geração dos Rizkallah já assumia responsabilidades na empresa. Foi por volta das décadas de 20 e 30 que a primeira sucessão foi sendo preparada. Entravam na gestão do negócio os filhos do fundador, Jorge, Nagib e Salim Rizkallah.

Momento de mudar - Os tempos, entretanto, mudam. Na metade do século XX a concorrência aumentara, o plástico começava a substituir os metais nos encanamentos. O perfeccionismo do artesão sírio não encontrava mais mercado para suas peças detalhadas.

Visionário, Rizkallah Jorge liderou a estratégica mudança da empresa e junto dos filhos foi gradativamente transformando a fundição em um distribuidor das novas indústrias. Assim foi que a Casa da Bóia se transformou em uma grande fornecedora de material hidráulico, chapas e fios de cobre, latão e bronze para a indústria brasileira.

Com o falecimento de Rizkallah Jorge, em 1949, os filhos assumiram em definitivo o negócio da família. A gestão da empresa nunca saiu das mãos da família. Rizkallah Jorge teve 3 filhos, 12 netos e vários bisnetos e o processo sucessório respeitou muito as vontades pessoais.

O comando hoje está nas mãos de um neto, Mário Roberto, que defende a concentração de poder numa empresa, como fator determinante para a continuidade de empresas familiares de pequeno ou médio porte.

"O crescimento das famílias é geralmente maior do que o crescimento das empresas. Se o poder não for concentrado corre-se o risco de se exigir uma lucratividade exagerada das empresas, para que ela possa acomodar um grande número de parentes em sua gestão", explica Mário.

Hoje, 110 anos após a sua fundação, o principal foco da empresa continua sendo as vendas à indústria, mas não abandonou, em nenhum momento, as vendas que faz diretamente ao consumidor que visita seu prédio centenário que ouve explicações de vendedores que chegam a ter mais de quarenta anos de empresa.

Confiança e tradição - “Em um mercado competitivo como o nosso é claro que só a tradição não garante vendas. Estamos focados em acompanhar as mudanças dos tempos, como telemarketing, internet, etc., mas o que oferecemos como valor maior é a confiança na origem de nossos produtos, a certeza de oferecer produtos adquiridos diretamente da indústria, uma logística de entrega eficiente e, por fim, a honestidade no que fazemos. Nunca a Casa da Bóia teve qualquer reclamação de um cliente que não tenha sido atendida. Jamais tivemos uma reclamação nos órgãos de defesa do consumidor”, ressalta Mário Roberto Rizkallah, que destaca, ainda, a importância da preservação da memória.

“A Casa da Bóia tem uma tradição enorme no comércio paulista. É importante para o desenvolvimento industrial brasileiro. Sua sede é um dos poucos casarões do começo do século XX que você pode encontrar restaurados no centro de São Paulo. Tenho motivos de sobra para reverenciar a história da empresa que meu avô fundou”.

A reverência a este passado de pioneirismo levou o empresário a montar um museu nas salas superiores do casarão histórico, tombado pelo IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

O Museu da Casa da Bóia foi inaugurado em 1998, quando a empresa completou 100 anos de atividades. Passou por uma ampliação em 2003, época de seus 105 anos e hoje conta com três salas nas quais o visitante pode ver peças fabricadas pela empresa no início do século XX, documentos e fotos originais, ferramentas antigas, plantas e um rico acervo documental da história da empresa.

Para comemorar os seus 110 anos, a Casa da Bóia dá continuidade a seu resgate histórico. Desta vez será a loja que passará por uma restauração. “Ao observarmos antigas fotos, vimos pinturas nas paredes que não estavam mais lá. Resolvi investigar e prospectando as camadas de tinta descobrimos os desenhos originais que restauramos para comemoração dos 110 anos. Agindo desta forma, acredito que as pessoas que entram na loja sentem, primeiramente, que na Casa da Bóia existe o respeito à suas raízes, um respeito com a memória, com a história. Eu acredito que isso também contribua para passar a informação de que somos uma empresa séria, que, mesmo centenária, continua atuante, continua trabalhando do jeito moderno, exigência dos nossos tempos, mas com os conceitos de respeito e seriedade que foram implantados por meu avô, há 110 anos”, finaliza Mário Rizkallah.

A homenagem - No dia 19 de maio acontecerá o evento de comemoração dos 110 anos da Casa da Bóia. Além de uma missa na igreja de São Bento, um coquetel na loja marcou também o lançamento de um carimbo comemorativo dos 110 anos da empresa pelos Correios, além da exposição dos itens do museu e de um documentário com imagens da empresa em 1928.

Programação das comemorações dos 110 anos da Casa da Bóia.: Em 19 de maio de 2008 aconteceu umaissa solene na Igreja de São Bento, com participação do organista Ricardo Pistori e da soprano Manuela Freua, e às 19 horas, coquetel na loja, com lançamento do carimbo postal comemorativo dos 110 anos pelos Correios.

E de 20 a 31 de maio, de segunda a sexta das 9h às 17h e sábados das 9h às 12h, haverá exposição do acervo do museu da Casa da Bóia, na Rua Florêncio de Abreu, 123, no Centro de São Paulo (SP). | Site: www.casadaboia.com.br

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