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06/05/2021 - 10:20

O aprendizado em tempos de disrupção algorítmica


Nossos dias são preciosos; Mas com alegria os vemos passando; Se no seu lugar encontramos; Uma coisa mais preciosa crescendo: Uma planta rara e exótica,Deleite de um coração jardineiro, Uma criança que estamos ensinando, Um livrinho que estamos escrevendo, — Hermann Hesse.

O mundo das pessoas precisa de mais ensino.

A sociedade, para ser melhor, precisa que seus membros escutem, falem, estudem e aprendam. E não se aprende de modo instantâneo, nem por atalhos ou passe de mágica. Exige-se esforço, concentração e atenção, além de vontade, dedicação e apreço pela e para uma transformação evolutiva. É uma atividade exclusivamente humana, geradora de resultados que esculpem peças e lições culturais. Instrumento para descoberta de novos mundos. Mecanismo de construção e afirmação social do diferente; da diversidade. Farol que nos entrega luz para enxergar dentro da escuridão, fornecendo-nos sabedoria para sair da prisão da ignorância, que cega o sentido da alteridade.

Não há como se aprender artificialmente.

Não existe inteligência artificial humana. Não há como comparar o aprendizado humano com o “aprendizado de máquina” (machine learning).

Um ilumina. O outro replica, sem sentimento.

Algoritmos não fazem parte da complexa mente humana. Máquinas não sentem. O máximo que conseguem transmitir são mensagens decifradas para uma funcionalidade lastreada em dados. Máquinas não amam, logo, não aprendem. Máquinas não conseguem entender a sobrevida imortal que deriva das lições repassadas por um professor. O alcance conjunto, envolvente e bilateral, na mesma proporção de quem ensina, para aquele que aprende e torna-se outro. E, ambos, tornam-se melhores. Máquinas apenas ajuntam dados e informações para uma determinada programação.

Não é possível à máquina traduzir o sentido das palavras de um professor, que ensina por acreditar que “ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma continuamos a viver naqueles cujo olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O professor, assim, não morre jamais” (Ruem Alves).

Aprender é evoluir.

E a evolução humana não se dá somente de modo genético, em razão e mudanças hereditárias, de uma geração para outra, como acontece com outros animais. Ela é diferenciada, em razão da experiência do aprendizado que ocorre entre seus pares.

E aprendizado não se confunde com o simples fato de se ter um eventual acesso a um determinado número de informações.

Por vezes, até cometemos o autoengano de achar que são a mesma coisa. Não são. O ser humano não é máquina. Seu aprender tem escopo evolutivo e não, pura e simplesmente, replicante.

A máquina e seus algoritmos podem fornecer informações para composição do modus operandi do processo de

Mas, não o substituir.

Aprendizado não é sinônimo de acesso à informação. Esse último, pode advir exclusivamente da máquina, a fim de auxiliar o ser humano a caminhar pelo caminho do conhecimento cumulativo dos dados que são oferecidos por um site de busca que cospe informações.

Todavia, não há como para aprender, sem filtrar e/ou direcionar o senso de conhecimento do saber necessário. Um amontoado de dados, sem a devida mineração de conteúdo, reveste-se de um nada dentro de um tudo.

Aprender é uma conquista.

Máquina não conquista. Não fracassa. Não se revolta, quando compreende que o status quo não atende àquilo que é melhor ao ser humano, em virtude do que este descobriu existir e ser possível, em decorrência do que aprendeu.

O homem é o único ser que se recusa a ser o que ele é (Albert Camus, O homem em revolta).

Aprender é fazer revolução.

O ser humano faz revolução por meio das lições do seu aprendizado.

E o Direito, por meio dos seus representantes, que beberam da fonte do seu aprendizado, são atores principais deste processo revolucionário.

“Isso ocorreu, por exemplo, quando Lutero pregou que a interpretação da Bíblia era tarefa de cada um, por meio de um exercício individual. O homem ganha nova dimensão. Outra revolução se deu com Copérnico, que explicou nossa posição no universo. Jamais seríamos os mesmos. Descartes abre nossa percepção ao mostrar que, quando pensamos, certificamo-nos de que existimos. Isso nos obriga a refletir, a fim de que a nossa existência ganhe significado. Quando Cromwell lidera a decapitação do rei sob o argumento de que ele havia traído a própria autoridade com base em sua genealogia. No momento da Declaração de Independência norte-americana afirma categoricamente, pela lavra de Thomas Jefferson, a verdade evidente de que ‘todos os homens são criados iguais’, opera-se outra mudança de paradigma. Lutero, Copérnico, Descartes, Cromwell e Jefferson receberam formação jurídica” (José Roberto de Castro Nesse, Como os advogados salvaram o mundo).

E a Academia tem a missão de decantar e encantar esse universo de aprendizado. De manter a tradição revolucionária. Discutir ideias, propostas e projetos para um mundo e vida melhores. Deve servir como uma espécie de bússola para essa viagem.

Na área do trabalho o desafio é ainda maior, pois atravessamos um momento histórico-disruptivo de transformações em velocidade espantosa, onde o que era certo, torna-se incerto e o novo atropela sem respeito o velho, como se fosse o ideal e o correto para condução dessas mudanças estruturais, sem parar, conversar, escutar e discutir um “como” viável desta travessia.

É preciso, é certo, “saber fazer”, que é a profissionalização, neste instante de mudanças, mas, também é preciso dar o peso devido ao “saber pensar”, para um melhor aprendizado (Cláudio de Moura Castro).

A Academia se apresenta atenta e preparada para enfreamento deste desafio. Seus acadêmicos sabem da importância que têm neste momento histórico e não se furtam a trabalhar com aquilo que têm de melhor: vontade de lecionar e de aprender. De modo preciso e humano e não por algoritmos.

. Por: Antonio Carlos Aguiar, presidente da Academia Paulista de Direito do Trabalho.

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