A história e o íntimo do Jardim Botânico

Bairro mais icônico e referenciado do Rio de Janeiro vira obra através do olhar de referendada historiadora carioca.

Famoso reduto de ilustres cariocas como Tom Jobim e Machado de Assis, o bairro do Jardim Botânico tem a aura e o DNA do carioca. Uma história que se inicia como um bairro proletário, pensado para abrigar imigrantes que sofre drásticas transformações e, hoje, torna-se a fotografia da famosa “elite carioca”, com mansões, biodiversidade preservada e muitas histórias a serem descobertas. Histórias essas, em sua maioria, compiladas em “Histórias do Jardim Botânico: Um recanto proletário na Zona Sul Carioca” (Editora Telha), pelas mãos da doutora em História pela UERJ Luciene Carris.

Aqui, os acontecimentos históricos que moldaram a linha do tempo do bairro se entrelaçam com as histórias pessoais da autora, moradora do Jardim Botânico há 40 anos, de uma forma que mescla romantismo e informação numa só obra. “Histórias do Jardim Botânico” traz fatos desse bairro tão icônico da zona sul que muitos moradores dele sequer devem conhecer.

— Sou moradora do Jardim Botânico há quase 40 anos. Por coincidência estudei História na UERJ e tive a oportunidade de realizar um estágio pós-doutoral com o professor Antonio Edmilson Martins Rodrigues, especialista na história do Rio de Janeiro. Daí surgiu a oportunidade única de estudar a história do meu bairro e, posteriormente, escrever sobre ele — Luciene Carris, Historiadora e autora de “Histórias do Jardim Botânico”.

O leitor descobrirá que o bairro já foi visitado no passado por Albert Einstein e a Rainha Elizabeth II, que a criação da instituição que também nomeia o bairro partiu de Dom João VI e, ainda que muitas disputas políticas, ideológicas e manifestações tomaram as ruas de pessoas em busca de mudanças.

Hoje abrigando o Jóquei Clube e o Jardim Botânico, com uma vizinhança abastada, finos restaurantes, a rua Pacheco Leão tomada de mansões, enfim. A história de hoje ainda se funde — e confunde — com o que um dia foi o bairro. Para Luciene, em sua caminhada, uma combinação de autobiografia com história.

“Histórias do Jardim Botânico: Um recanto proletário na zona sul carioca” versa a história urbana, social e política sem que a autora solte nossa mão, numa escrita leve e fluida, que nos faz ler o livro como quem de fato realiza um passeio profundo pela cidade e sua história.

— Quando se fala do Jardim Botânico se pensa, evidentemente e com razão, nesse passado imperial, com a criação do Jardim Botânico após a vinda de D. João VI. Também é visto como o “bairro dos artistas”, um bairro aristocrático. Pouco se conhece desse passado rural, do movimento operário, das fábricas e dos imigrantes — Luciene Carris.

Editora Telha: a Telha é uma editora independente voltada à publicação de obras críticas sobre temas contemporâneos.

A autora: Luciene Carris é mestre e doutora em História pela UERJ. Realizou estágios pós-doutorais no Laboratório de Geografia Política, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (2013) e no Departamento de História da PUC-Rio (2019). Autora de livros como Intelectuais, miliares, instituições na configuração das fronteiras brasileiras (1883-1903) e coautora de obras como Lições do tempo: temas em história e historiografia do Brasil Republicano, entre outras obras.

Livro: Histórias do Jardim Botânico: Um recanto proletário na zona sul carioca pela Editora Telha, 250 páginas, pelo preço: R$ 59,00.