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Nossas ricas cidades médias

A última lista do IBGE sobre nossos maiores PIBs (conjunto de bens e serviços produzidos) confirmou que a concentração de capitais em cidades médias é mais um sinal claro de que a riqueza cresce na razão inversa do aumento da pobreza dos municípios menores. Sem dúvida, vivemos a tragédia do desequilíbrio entre os dois extremos da renda da sua população: de um lado, a abundância de algumas cidades, devido ao petróleo, agropecuária e interiorização da indústria. De outro, a falta de perspectiva, e até, de futuro das pequenas comunidades.

Seria supérfluo destacar os efeitos sociais, morais e psicológicos causados pelo abismo que, hoje, separa o Brasil rico do Brasil pobre. Grosso modo, é como se a riqueza do primeiro impedisse o progresso do outro, ou seja, as cidades pobres, de 20 mil habitantes, que não atraem empresas nem geram capitais produtivos, têm renda limitada pela desvalorização do trabalho; as mais ricas, com investimentos e oportunidades, têm situações de mercado que criam empregos mesmo para quem não tem escolaridade.

São Paulo, a maior megalópole brasileira, continua nesse último grupo, embora com perda de mais de 20% de participação no PIB nacional nos últimos seis anos. Se considerada apenas a Capital, sua fatia no PIB estadual caiu de 33,1% para 29,4%, enquanto os municípios fora da região metropolitana aumentaram sua participação, de 35,5% para 36,8%.

Mas o fato é que continuamos divididos em dois: pela pesquisa do IBGE, em 2003, os 556 municípios mais ricos (10% do total) geravam um PIB 19,9 vezes maior que a metade mais pobre de nossas cidades; em 2004, essa desigualdade aumentou 20,4 vezes. Não por acaso, poisque os brasileiros das pequenas cidades – mais da metade da pirâmide social e econômica – se entreguem ao desânimo e ao ócio, pois 35% de nossos municípios dependem dos governos estaduais e federal, responsáveis por um terço de seus PIBs.

Não se atribua isso apenas ao petróleo, apesar de seu poder de atrair capitais, pois sem investir em outros segmentos, não haverá competição, emprego, renda e consumo, nos quais se apóia a atividade econômica, e assim inverte-se a espiral do crescimento e do bem-estar. Se, de um lado, cidades como Macaé (6o maior PIB), Campos (também 6º) e Duque de Caxias (10º) são, hoje, municípios do Brasil rico, graças ao aumento da produção industrial no setor de equipamentos petrolíferos, é preciso lembrar que os recursos do petróleo não são inesgotáveis. Maracaibo, na Venezuela, é uma gigantesca cidade pobre, cercada de barriadas, como lá são chamadas as favelas, conspurcada pela alta taxa de migração de trabalhadores que, sem emprego nas indústrias locais, perambulam ou esmolam pela cidade. Além disso, ninguém pode prever, com segurança, até quando durarão as reservas mundiais dessa mercadoria cujo preço, mesmo “administrado” pela Organização dos Países Produtores de Petróleo – OPEP, é cada vez mais sensível à interação da oferta e da demanda.

Nesse cenário, quem contempla os programas de transferência de renda dos governos Fernando Henrique e Lula, inclusive o Bolsa Família, terá uma idéia concreta de que, para se desenvolverem, ainda há, no Brasil rico, vastas regiões à espera de educação, saneamento, saúde, etc. Por isso, são necessários, sobretudo, programas viáveis de desenvolvimento econômico e social, que estimulem o crescimento, por meio de investimentos maciços em atividades produtivas, especialmente nos municípios pequenos e médios, para se criar novos vetores de expansão da economia. Esse é o único meio de desconcentrar renda, de reduzir a distância entre ricos e pobres e de sermos socialmente mais homogêneos, sem depender da sorte de boa parte das cidades médias, nas quais o petróleo de hoje garante seus orçamentos.

. Por: Miguel Jorge, jornalista, é vice-presidente de Recursos Humanos e Assuntos Jurídicos e Corporativos do Santander Banespa

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