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27/11/2021 - 07:30

A resiliência da construção civil

Impactos da pandemia impediram que houvesse um crescimento econômico condizente com a menor taxa de juros da história. Mesmo num quadro de baixo crescimento e consequente perda de poder aquisitivo, a inflação foi ganhando força, fazendo o Banco Central retomar, de forma ininterrupta, a elevação da Selic em março último. Agora, com o IPCA acumulando alta superior a dois dígitos nos últimos doze meses e com o câmbio pressionado, a autoridade monetária sinaliza que os juros continuarão a subir, só que num novo ritmo, como observado no final de outubro, com o acréscimo de 1,5 pp à taxa básica, que foi a 7,75% ao ano.

Essas variáveis indicam clara piora do cenário econômico. A inflação em alta força a elevação dos juros, o que afasta empresas de todos os portes e segmentos da tomada de crédito, adiando planos de investimento. A preocupação maior concentra-se nos setores que têm sua atividade mais dependente da tomada de financiamentos.

Era de se esperar, portanto, que a construção civil, que apresentou franca recuperação diante do movimento que levou a Selic a 2% ao ano, interrompesse o ciclo ascendente. Na verdade, ele já perdia força. Dados compilados a partir dos balanços do terceiro trimestre de quatorze incorporadoras listadas na B3 apontam que, no período, houve alta de 19,2% no número de lançamentos na comparação anual, enquanto que as vendas cresceram apenas 1,7%.

Há quem aponte esses resultados como consequência de uma oferta significativamente maior que a demanda, o que só se ajustaria após meses. Essa interpretação, porém, não é unânime. O período foi marcado pelo repasse da disparada dos materiais de construção aos preços dos imóveis em planta o que, em paralelo à alta dos juros, fez muitos adiarem decisões de compra.

Se a perda de ritmo, de fato, refletir as variações do período, a queda da atividade do setor poderá ser, no médio e longo prazos, consideravelmente menor. A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), por exemplo, acaba de elevar 4% para 5% a projeção de crescimento da construção civil em 2021, o melhor resultado em dez anos. Embora manifeste preocupação com juros e elevação de preços e falta de materiais de construção, a entidade estima que, apenas para repor as perdas registradas entre 2014 e 2019, a expansão anual terá de se manter no atual patamar até 2028.

É preciso observar que, além dos fatores que impactaram a construção civil no terceiro trimestre, o setor vive um quadro que se formou ao longo de anos. A crise vivenciada até 2019 represou demanda significativa de diferentes públicos, desde o de baixa renda – que compõe a maior parcela do déficit habitacional de 5,8 milhões de residências, conforme estimativas da Fundação João Pinheiro – às classes média e alta, que, a partir da disseminação do trabalho remoto ou híbrido, buscam unidades maiores para acomodarem, num mesmo espaço, vida pessoal e profissional.

É certo que juros mais altos impactarão a construção civil. Porém, ao mesmo tempo em que muita gente quer comprar o primeiro imóvel ou mudar para outro, a Selic permanecerá, ao menos nos próximos meses, ainda em níveis históricos baixos. Vale lembrar que, entre novembro de 2013 a maio de 2017, a taxa permaneceu acima de dois dígitos.

Tanto as sinalizações do Copom quanto os fatores que as motivam são claros. Ocorre que o crescimento aguardado para 2022 é pífio ou mesmo negativo, como acaba de estimar o maior banco país. Nesse cenário, a autoridade monetária poderá rever o ritmo com que eleva os juros.

No que se refere a investimentos, as altas sucessivas da Selic fizeram bancos retomarem esforços para a oferta de produtos de renda fixa. Porém, diferente da época em o país tinha uma das maiores taxas de juros do mundo, as opções sugeridas proporcionam remuneração de 200% do CDI, percentual necessário para se garantir algum ganho real. Fica evidente que, mesmo com a alta contínua da Selic, o investidor precisa diversificar e, pelo comportamento observado até agora, a construção civil permanece entre os segmentos mais promissores.

A bolsa reflete, com sua instabilidade, as preocupações do BC e várias outras. Nela, são negociados os produtos mais tradicionais ligados à construção civil, os fundos de investimento imobiliário (FIIs). Estes, além de refletirem as oscilações do mercado, têm o bom desempenho restrito a carteiras que priorizam, basicamente, galpões logísticos, bastante demandados por conta do crescimento do comércio eletrônico a partir da pandemia. A maior parcela dos FIIs padece ainda do esvaziamento de escritórios, também acelerado pela Covid.

O mercado se diversificou e diversas alternativas surgiram nos últimos anos. Uma que tem registrado rentabilidade expressiva, o crowdfunding imobiliário, permite que se invista em empreendimentos específicos, algo bem prudente quando não se sabe qual será o comportamento da construção civil como um todo. Na modalidade surgida no país em 2005, o investidor pode escolher, a partir de descrições e projeções de rentabilidade, um ou mais projetos para aplicar valores.

Embora haja fintechs do segmento que proporcionaram remuneração média de 16% ao ano com direito a taxa indexada à inflação,, é uma opção indicada apenas a quem está disposto a se expor a riscos. A fim de aumentar a adesão ao modelo, as plataformas buscam elevar a segurança ao investidor. Algumas, por exemplo, adotam critérios rigorosos quanto às empresas que ingressam em suas plataformas em busca de recursos via captação coletiva.

Levará tempo para que o país apresente crescimento consistente. Há, porém, segmentos específicos que podem continuar registrando bom desempenho. Dentre esses, a construção civil tem papel fundamental. Maior gerador de empregos e impulsionador de diversas cadeias, atrai recursos com sua resiliência. Desta forma, pode, ao proporcionar boa remuneração a investimentos, financiar suas atividade e manter seus efeitos multiplicadores por toda a economia.

. Por: Eduarda Fabris, sócio e COO da fintech de investimento imobiliário Urbe.me.

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