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15/12/2021 - 08:51

Hotel Acolhedor


Antônio Carlos Valério

Em busca de uma nova vida, ex-moradores de rua ganham apoio do Estado.

Como tantos que já viveram nas ruas, o ambulante Antônio Carlos Valério, de 35 anos, e o artista plástica Pierre Coelho Rodrigues, de 43, compartilham trajetórias de dificuldades. Agora, também passaram a ter em comum um apoio para enxergar novos horizontes desde que conheceram o Hotel Acolhedor, uma iniciativa do Governo do Rio de Janeiro voltada para pessoas em situação de rua ou de extrema vulnerabilidade. Inaugurado em 30 de agosto, o programa já realizou mais de cinco mil acolhimentos em suas duas unidades, no Centro do Rio de Janeiro e no Catete, na Zona Sul carioca.

O Hotel Acolhedor do Catete, que tem capacidade para 130 pessoas, de 18 a 59 anos. No Centro, são 170 vagas. As unidades funcionam de 19 às 7 horas da manhã, e oferecem duas refeições: jantar e café da manhã. Durante o pernoite, os hóspedes têm direito a um quarto coletivo, com banheiro. Também recebem um kit de higiene pessoal, com sabonete, xampu, desodorante, sabão em pó para lavar roupas e máscara cirúrgica contra a Covid-19, além de barbeador ou absorvente.

Essa acolhida significou uma transformação para Antônio que, entre idas e vindas, viveu três anos nas ruas. Após a morte da mãe, vítima de câncer, ele se entregou à bebida, perdeu o emprego, ficou sem renda e viu a companheira e os filhos se afastarem. Sem alternativa, foi parar nas calçadas.

— Eu dormia no Largo do Machado, vendo ratos e baratas, passando frio e exposto a covardias. Eu só bebia e trocava o dia pela noite — lembra o ex-morador de rua.

No início de setembro, ao saber da abertura do Hotel Acolhedor na  Rua Pedro Américo, 173, no Catete, Antônio procurou agentes do ‘Segurança Presente’, que o encaminharam para o abrigo. Após pouco mais de dois meses no local, ele já tem uma ocupação e consegue até juntar dinheiro para fazer seu pequeno negócio de venda de doces crescer.

—Estou superbem. O Hotel Acolhedor caiu do céu. Sou muito grato. Hoje, ando limpinho, tenho um canto e alimentação. Conheci uma pessoa que fornecia doces gourmet no Largo do Machado, ela confiou em mim. Primeiro foram três caixinhas, que eu vendia na mão, andando na rua. A cada venda, eu economizava e depois fui investindo. Comprei um cavalete, uma tábua, tudo arrumado e higienizado — conta, comemorando a nova rotina: —Saio do hotel, monto a minha barraca às 7 horas e fico lá até dar o horário de retornar para dormir todos os dias. Não quero ficar aqui para sempre. O que eu mais quero é alugar um lugar pra mim e poder ajudar os meus filhos.

Pierre

Pierre é uma pessoa trans e trabalha fazendo pinturas com spray há 18 anos, quando assinava como Maria Gardênia, seu nome de batismo. Sem apoio da família para sua orientação sexual, saiu de casa e acabou ficando sem teto. Há cerca de um mês, conheceu o Hotel Acolhedor por intermédio de outro morador de rua e sua vida mudou.

— Faço parte de um grupo de pessoas que ficou desamparado. Agora, com o apoio que estou recebendo, vou juntar um dinheiro para alugar uma casa ter a minha vida social de volta. Aqui no Hotel Acolhedor eu me alimento, tomo banho quente, tenho uma toalha limpa, um lençol limpo, descanso e no dia seguinte vou à luta de novo — diz ela, acrescentando: - O tratamento dos educadores é maravilhoso, eles são bem compreensivos com a história de cada um que está aqui dentro. Todos os dias eu consigo cerca de R$ 50 com o meu trabalho e, com isso, me mantenho sem precisar pedir dinheiro nas calçadas, tentando levar uma vida digna.

A assistente social Carol Guido, de 35 anos, que atua no programa Hotel Acolhedor, diz que a principal missão do programa é retirar as pessoas em vulnerabilidade da condição de invisíveis à sociedade e ajudá-las a garantir cidadania.

—Quando fui convidada para trabalhar no Hotel Acolhedor, fiquei muito feliz. É um enorme desafio, pois cada pessoa precisa de um olhar além daquilo que se percebe. Uma atenção sem preconceito, sem discriminação. A gente tem que romper essas barreiras e fazer com que a pessoa se sinta valorizada e respeitada – afirma.

O Hotel Acolhedor, vinculado à Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, recebe pessoas que são atendidas nas bases do Segurança Presente, pelo programa RJ para Todos e pela Fundação Leão XIII. Entre os abrigados no hotel, 90% voltam para pernoitar, e 10% são de novas entradas. Dos acolhidos, 18% têm entre 18 e 29 anos, e 82 % de 30 a 59 anos. | Sandra Proença.

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