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13/01/2022 - 07:14

É a economia, estúpido! O que esperar para 2022


Cunhada pelo estrategista político da campanha de Bill Clinton para presidência dos Estados Unidos em 1992, James Carville, essa é uma das minhas frases preferidas sobre economia. Além da questão eleitoral intrínseca a ela, a afirmação chama atenção de que, entre muitos aspectos que impactam a vida de cidadãos comuns (assim, eleitores), a economia é um dos principais. Ou seja, por mais longe e abstrato que possa parecer da realidade de muitos, o cenário econômico é um dos principais fatores que determinam as nossas vidas.

Não é diferente com os investimentos. No Brasil, assim como foi em 1992 nos EUA, o ano de 2022 será marcado por eleições presidenciais. Isso certamente trará maior volatilidade e incerteza aos mercados, pedindo cautela e destacando – mais do que nunca – a importância de uma carteira de investimentos bastante diversificada, tanto entre classes de ativos, quanto entre geografias.

Ao mesmo tempo, muitas vezes acreditamos poder “tocar o barco” (dos investimentos) sem antes checar a “previsão do tempo”. Assim, achei importante começar o ano lembrando a importância da economia para os investimentos e trazendo algumas das principais projeções para o cenário deste ano.

A batalha entre juros e inflação — A inflação foi um dos principais destaques do cenário econômico de 2021, com índices de preço registrando recordes de alta não somente no Brasil, mas no mundo todo. Por motivos que envolveram desde a falta de insumos para produção global, às questões climáticas como a falta de chuvas, e aos próprios estímulos monetários massivos com juros baixíssimos no Brasil e no mundo.

Por aqui, terminamos 2021 com inflação muito acima da meta de 3,75% do Banco Central – flertando com nosso passado de dois dígitos.

Para este ano, boa parte dessa pressão deve perder força. Commodities perdendo força no mercado global, juros subindo no mundo, e uma economia doméstica mais fraca (com menos demanda por bens e serviços) devem ajudar os preços a subirem mais devagar ao longo do ano.

Além disso, a batalha contra a alta de preços também contará com os juros em elevação por aqui. Nossa taxa básica de juros (a famosa taxa Selic) deve atingir 11,50% em março deste ano, onde deve ficar até no mínimo as eleições – com um objetivo claro: evitar que a alta de preços disseminada deste ano contamine expectativas de preços futuros, envolvendo-se em uma bola de neve.

Com isso, devemos ver nosso principal índice de inflação (o IPCA) cair para 5,2% até o final deste ano. Mas lembre-se! Não espere sentado a queda dos preços, porque com algumas exceções (como energia elétrica), os preços apenas passarão a subir mais lentamente, e não efetivamente cair.

A atividade fraca e os riscos — Depois de um ano de recuperação do PIB em relação à queda da pandemia, a economia já mostra sinais de desaceleração. É certo que alguns setores ainda devem seguir se beneficiando da reabertura econômica, como serviços como restaurantes e academias. Além disso, devemos ter uma forcinha do setor do agronegócio, com expectativas de boas safras.

Mas, os impactos dos juros altos tanto no crédito à população quanto as empresas (mais endividadas, podendo comprar e investir menos), da inflação ainda pressionada, e das incertezas vindas do cenário político, além da desaceleração da economia global como um todo, devem fazer com que nosso PIB fique no zero a zero em 2022 (crescimento 0%).

É claro que surpresas positivas podem nos empurrar mais próximo do território positivo, como um desempenho ainda melhor do agronegócio ou um mercado de trabalho melhor do que o esperado. Mas os riscos, infelizmente, pesam para o negativo, especialmente diante de um cenário fiscal ainda incerto e um ano eleitoral.

Depois de um ano de discussões fiscais que levaram à mudança da regra do teto de gastos, maiores mudanças nas regras fiscais podem prejudicar ainda mais a economia. A proximidade das eleições aumenta a chance de “apostas políticas” nessa direção.

E o dólar? Por último, mas não menos relevante, vem aquela pergunta que não quer calar no começo de todos os anos: e o dólar?

Como comentei neste espaço em outras ocasiões, nossa moeda se afastou bastante dos fundamentos desde o início da pandemia, por conta da percepção de risco doméstico, especialmente fiscal.

Em outras palavras, o real poderia estar mais valorizado neste momento, de acordo com o que tem entrado e saído de moeda estrangeira no país por vias comerciais e de investimentos e do nível da nossa taxa de juros. Porém, não está devido ao risco que é visto em investir por aqui — especialmente por conta das escolhas de política fiscal, ou seja, de gastos públicos e dívida em alta.

Essa tendência deve continuar ao longo deste ano. Assim, mesmo com a nossa taxa básica de juros chegando ao patamar de dois dígitos (o que, em tese, poderia atrair mais capital estrangeiro para cá, dado os juros ainda menores no restante do mundo), a incerteza vinda do cenário político em um ano eleitoral seguirá pressionando nossa moeda – que deve girar em torno de 5,70 reais por dólar até o final do ano.

É a economia, estúpido! Essa parte é simples de entender. O desafio é lembrar disso ao investir em 2022!

Mas, assim como Bill Clinton tinha seus truques, também podemos ter os nossos: cautela, diversificação e respeito ao perfil de investidor serão seus melhores amigos nos mares revoltos que guardam este ano — só não se esqueça de checar a previsão do tempo!

. Por: Rachel Borges de Sá, Chefe de Economia da Rico Investimentos (@raborgesdesa) | Investing

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