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27/04/2022 - 09:02

NFT da educação e o case ucraniano


Ao celebrar seus 75 anos de fundação no final do ano passado, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) iniciou, em janeiro deste ano, a venda de uma coleção de mil tokens não fungíveis (NFTs) na plataforma Ethereum. O valor da venda delas, criada pelo artista digital e cientista de dados, Nadieh Bremer, tem um destino certo: promover o acesso à internet para alunos em escolas em todo o mundo, além de financiar outros projetos do órgão da ONU. Contudo, esse é só um exemplo de como as NFTs podem contribuir para potencializar a educação.

Se você não está familiarizado com a sigla, NFT, não tem problema, a maioria das pessoas ainda não está. É uma tecnologia relativamente nova na praça e no setor educacional. Por isso, ao entrar na seara do aprendizado, nada mais justo do que explicar o que são esses ativos digitais, e como eles incorporam uma série de benefícios à educação.

As NFTs ganharam destaque na imprensa, em empresas e entre profissionais de inúmeras áreas por causa do alto valor aplicado em algumas artes digitais. A título de curiosidade, a obra The Merge, do artista Pak, tem uma valorização atual, em março de 2021, de US$ 91 milhões (R$ 434 milhões). Esta NFT, com fundo preto com uma grande bola branca no centro, é, atualmente, a obra de arte mais cara de um artista vivo.

Do ponto de vista mais técnico, seguindo a trilha de livros e artigos de Tatiana Revoredo, especialista e estrategista de blockchain, respectivamente, pelo MIT e Universidade de Oxford, NFT é a abreviação em inglês de Non Fungible Tokens. Para não complicar o que já é complexo, vamos por partes. Primeiro, não fungibilidade representa algo que não pode ser substituído, seja em quantidade ou qualidade. Diferente do dinheiro, por exemplo, que é um bem fungível e que pode ser trocado por outro dinheiro, cada NFT é um arquivo digital único, tendo seu valor singular.

Você pode até dar um print screen na tela do seu computador ao ver uma NFT — uma arte digital que tem um valor milionário, por exemplo —, porém essa cópia não tem valor algum, uma vez que a peça original de NTF carrega em si um código — um token, que explicaremos mais à frente. Para exemplificar o que são as NFTs, pense que você tem um objeto físico de grande estima e que seria possível digitalizar essa peça sem que artefato original perdesse seu valor. Assim, por mais que possam ser parecidos, você teria dois objetos únicos, um físico e outro virtual. Desse modo, no universo das NFTs, tudo pode ser digital ou digitalizado, ou melhor, “tokenizado” — e aqui entra a segunda parte da nossa explicação.

Tokens nada mais são que representações de arquivos digitais. Contudo, essas representações recebem uma criptografia, um protocolo único em formato de números e/ou símbolos. A maioria de nós reconhece o uso de tokens nos aplicativos de bancos e e-mails, a fim de reforçar a segurança e a privacidade dos nossos dados e acessos. Isso pode ser feito de maneira preventiva ("enviamos um código para o seu e-mail") ou como sinal de alerta ("alguém acessou a sua conta. Enviamos um código para o seu celular para confirmar a identidade").

Neste sentido, cada dono de NFT tem consigo um token (um código simbólico e numeral) que representa aquele arquivo digital. Em outras palavras, ao comprar uma NFT você recebe um código (token) que atesta que aquela obra é de sua propriedade. Esse código nada mais é que uma certificação digital registrada num banco de dados global extremamente seguro (uma plataforma blockchain). Na prática, é possível utilizar tokens para representar praticamente tudo, desde um simples lápis, contrato, fotografia, logo, avatar, até uma obra de arte digital. Ou seja, é possível que num futuro muito próximo a gente possa ver a tokenização de tudo.

NFTs na educação - uma ponte em construção

Imagine a seguinte situação: você é um professor (a) e dedica mais horas do que deveria no seu dia a dia. No final do ciclo anual, como recompensa pelo seu esforço, você ganha uma NFT. Essa já é a realidade para professores da Preply, uma edtech ucraniana que conta com ​​140 mil tutores ensinando 50 idiomas em 203 países. Os professores podem fazer especulações financeiras, guardando ou vendendo as suas NFTs para terceiros. O próximo passo da edtech será utilizar NFTs como recompensa para alunos e professores que ganham destaque na jornada de aprendizado e ensino. De forma semelhante, em fevereiro deste ano, a Seton Hall University premiou seus ex-alunos com NFTs na cerimônia Entrepreneur Hall of Fame.

Agora imagine outra situação em que, você, é um empregador. Em sua caixa de e-mail, existe um currículo para ser avaliado e, muito provavelmente, esse candidato pode, quiçá, preencher uma vaga na sua empresa. Como saber se a pessoa realmente concluiu os cursos que descreveu no documento? Pedir e verificar cada um dos diplomas seria um trabalho enfadonho para você e o candidato. Contudo, e se os diplomas fossem tokenizados em formato NFT? Nesse contexto, vale ressaltar que a decisão de monetizar uma NTF é exclusiva do seu dono, ou combinada entre o proprietário e terceiros. Assim, em essência, o valor de um token não precisa ser financeiro, destinado para uma relação comercial de compra e venda, por exemplo.

Esse conceito foi utilizado no uso de diploma em formato NFT, implementado pelo educador da Pepperdine University, Beau Brennan, em seu curso de finanças pessoais. O objetivo do documento “tokenizado”, é o de provar que o aluno foi formado no curso, contendo na NFT os detalhes do desempenho do estudante e informações sobre a capacitação. Uma proposta semelhante foi colocada em prática na histórica Universidade de Duke (EUA), que passou a emitir NFTs como credenciais educacionais no mestrado de engenharia em tecnologia financeira, evitando, assim, qualquer tipo de fraude com diplomas.

O uso de NFT de certificações traz vantagens para o mercado de trabalho, aos estudantes e professores, tendo em vista que todos os diplomas, o histórico escolar e até mesmo as microcredenciais de cursos técnicos, livres e de disciplinas específicas, podem ser registradas numa carteira digital. Como dono dessas informações, o aluno pode guardar ou compartilhar seus dados, de acordo com o seu interesse ou mediante a uma solicitação prévia de um empregador ou centro de ensino.

Para os professores, universidades e edtechs, os materiais didáticos, como livros, ementas, cursos adicionais, e outros recursos, como banco de horas, podem ser tokenizados. Os centros de ensino podem utilizar tokens para que estudantes tenham acesso a crédito estudantil, para financiar pesquisas, garantir um desconto em cursos e em programas de mentoria.

Em síntese, é ainda incipiente o uso de NFTs no setor educacional, mas, sem dúvida, a ampliação no emprego dessa tecnologia trará ainda mais benefícios utilitários e estratégicos aos programas tradicionais de universidades. Se temos um longo caminho a percorrer no Brasil? Sim, temos. Mas, se até pouco tempo atrás era impensável chamar um serviço de táxi e entrar em um carro de um desconhecido, pedir comida por apps, investir em criptos, pensar em open education e na tokenização da educação é questão de tempo.

. Por: André Dratovsky, CEO e fundador da Elleve, fintech educacional de fomento e impulsionamento de carreiras. É formado em Administração de empresas pela ESPM.

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