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21/07/2022 - 09:11

Os comitês de sustentabilidade nas empresas


E como estão atuando na construção da cultura ESG.

O mundo corporativo vem lidando com a pauta da sustentabilidade de diversas maneiras, com cada empresa buscando a sua forma e o seu caminho - e isso é bom.

Se de um lado o conceito e a urgência na construção dessa nova mentalidade e cultura organizacional (e empresarial) precisam de atitude, de outro é importante conhecer (e reconhecer) a individualidade das empresas, para que o programa de sustentabilidade seja possível, eficaz, realista e transformador. E principalmente para que funcione.

Um dos grandes aprendizados do momento é aquele que ensina a absoluta inadequação da busca de modelos prontos, padrões e até de produtos de prateleira, pois simplesmente não existem e não funcionam.

Fórmulas prontas que procurem impor padrões, costumam ser inadequadas, inviáveis e muito mais caras do que as que são construídas caso a caso.

Todas as empresas precisam rever seus modelos de negócios, melhorar suas práticas, ajustar condutas que não sejam mais aceitas, e que desafiem a sustentabilidade, buscando a efetiva inovação (e não mera automação) na maneira de operar. Mas é igualmente necessário, que o tema seja abraçado com verdade, compromisso, coerência e responsabilidade, conforme a realidade de cada empresa, em cada momento.

Diversas indústrias (segmentos e setores) já sabem que precisam se reinventar, pois, estavam amparadas em premissas e em modelos de negócios que não podem mais prosperar, que já são ultrapassados e precisam ser abandonados. Mas cada uma fará a transformação da sua maneira, do seu jeito, conforme a sua estratégia e com vistas em seus planos para o futuro.

Vários modelos de negócios, já ultrapassados, tendem a morrer, ao passo que outros precisarão ser totalmente reformulados. Mas também, existem exemplos de empresas que enfrentando a questão de frente, conseguirão fazer os ajustes e a transição de forma quase natural.

Um equívoco frequente e que parece iludir alguns empresários, e que com isso os leva a uma análise muito apressada e superficial, é o que está tudo bem, que não há nada a melhorar, ou ainda que a sustentabilidade seria uma pauta focada em empresas grandes, tradicionais, ricas e estruturadas. É um grande erro.

Partamos da sábia premissa de que sempre se pode, e deve, melhorar, inovar e evoluir, em todos os aspectos.

Esse engano ignora tanto o fato que a sustentabilidade é literalmente para todos, quanto o fato que (como dito acima) sempre se pode e deve melhorar, mas ignora, ainda, o fato que no ESG, deve-se considerar não apenas as operações da própria empresa, mas também as suas externalidades e consequências, graças ao seu poder e dever de influenciar positivamente toda a sociedade e o planeta.

A governança corporativa ensinou que o foco unicamente no stockholder já ficou no passado e que aprendemos que os stakeholders precisam ser considerados e participar do processo decisório das organizações. Ao passo que o ESG ensina que a maturidade atual já contempla os noholders, que mesmo mais distantes do centro da empresa, são por ela influenciados.

Por anos, a sustentabilidade e o ESG foram (erroneamente) considerados por alguns como modismos passageiros, mera ideologia, ou ainda como ferramentas de marketing. Também já foram mais voltados aos estudos acadêmicos, por vezes cercados de meros discursos, papers. Realidade essa que felizmente já ficou para trás.

A hora é de se enfrentar o tema com verdade e, na prática, no dia a dia, comprovando que o modelo de negócio e os parâmetros de tomada de decisão são sustentáveis.

Adicionalmente, por algum tempo foram verificados exemplos de empresas e de empresários que, equivocadamente, acreditaram que a pauta da sustentabilidade fosse meramente voluntária e opcional, e que decorria de mera ideologia (ou idealismo) de alguns executivos que se preocupavam apenas com o retorno financeiro e o lucro. Erraram.

Graças ao amadurecimento do tema, à consciência de que as empresas não operam no vácuo, que tem a sua responsabilidade, e que seguir a lei é pouco, assim como graças à constatação de que o chamado capitalismo selvagem chegou à exaustão e que precisa ser corrigido (na busca de limites, e de ajustes profundos, no que já não se aceita em termos sociais e ambientais), atualmente já se sabe que não se trata de modismo, que já não é um plus, que não se trata de ideologia, que não pode ser marketing, e que não se trata mais de algo optativo.

Das ações concretas para lidar com o meio ambiente de forma sistêmica, integrada e consciente, às práticas de inclusão plena efetiva, as organizações precisam sim, encarar o desafio de forma firme, urgente, coerente, consistente e responsável. Além de é claro, de forma efetiva e sustentável.

Muitas organizações, aprenderam, ainda, que grande parte dos investidores e dos financiadores, dos colaboradores, dos parceiros comerciais e dos clientes/consumidores, já não aceitam práticas não sustentáveis, em nenhum mercado, nenhum segmento e nenhuma empresa.

Logicamente, e reforçando o conceito central deste artigo, é importantíssimo que se encontre a sustentabilidade plena, inclusive econômica, pois o objetivo maior é a construção de empresas melhores, mais sustentáveis, mais modernas, mais responsáveis, e que também valham e ganhem mais.

A sustentabilidade não quer acabar com a empresa e nem gerar complicadores ou custos absurdos, mas quer corrigir erros, equívocos e práticas ultrapassadas.

Os objetivos e os retornos financeiros não são (e não podem ser) afastados, muito pelo contrário, pois a sustentabilidade vale muito dinheiro, mas são agora vistos como parte do objetivo maior do mundo corporativo que visa mais do que somente lucro, inclusive em função da constatação de que várias das antigas práticas, além de erradas e ultrapassadas, criavam lucros efêmeros ou passageiros (não sustentáveis), ao ignorar a forma de gerá-los.

Empresas sustentáveis precisam ter proposito, considerar o seu legado e o seu papel, melhorar a vida das pessoas (interna e externamente), cuidar do meio ambiente e do planeta, e gerar mais do que lucro financeiro.

Assim, como a questão é séria, urgente e fundamental, e, ao mesmo tempo, não existem (melhor que não existam) fórmulas, práticas ou maneiras padrão e generalizadas de se lidar com o tema, é preciso que cada empresa encontre, e construa, o seu caminho. Surgindo, assim, os importantíssimos comitês de sustentabilidade.

Mais e mais empresas tem percebido que precisam dar o primeiro passo, mas que não adianta, e não funciona, realizar a contratação de grandes consultorias (o mesmo se aplica a eventuais certificações) que por vezes buscam aplicar metodologias, modelos, formatos e listas de ajustes, que sejam massificadas, organizadas por segmentos e por setores e que tenham uma maneira única de se lidar com o tema. Definitivamente, isso não funciona.

Cada empresa é única, tem o seu jeito de atuar, tem a sua cultura e a sua realidade, tem as suas peculiaridades, as suas demandas, e a sua individualidade, o seu orçamento, e as suas características, de maneira que tentar aplicar em uma, o que funciona para outras é mais que um erro. Não funciona.

Do mesmo jeito, tentar estimar o alcance do programa, sua velocidade e ritmo, sua duração, suas etapas e os custos totais, rapidamente se mostra inadequado, inclusive por ignorar (nesses casos) que cada empresa está num momento e num estágio evolutivo, com seus acertos e erros, com exemplos do que já se faz de bom e correto, e exemplos do que precisa ser melhorado, ajustado ou mudado.

Adicionalmente, há empresas que já vinham buscando inovação efetiva (e não apenas automação, ou uso de tecnologia de informação), e outras que ainda não estavam nesse caminho, além de que as realidades, mesmo que se considere organizações do mesmo setor/segmento, num contexto de liberdade econômica e de concorrência, são diferentes e únicas - tanto pelo modelo de gestão, quanto pela estrutura de capital, pela consciência dos gestores e pela realidade da região em que operam.

O caminho que mais tem funcionado, e gerado resultados efetivos a médio prazo, é o da criação de comitês de sustentabilidade, em formato, medida e sistema que funcione para cada empresa, no seu momento.

Os comitês têm sido formados de várias maneiras, mas os que mais tem funcionado são os que congregam pessoas comprometidas, em posição de média gerência, que conheçam a empresa e que tenham acesso aos planos e aos projetos do negócio, bem como que estejam atentas aos clamores dos colaboradores, da região, e ao que se espera como propósito. Precisam, ainda, serem valorizados e ouvidos.

Tais órgãos costumam ter número reduzido de pessoas como membros efetivos (entre 3 e 5), para que as agendas sejam mais realistas, e para que consigam realizar reuniões semanais, comprovando que o programa (e não projeto, pois é permanente) é consistente, realista, permanente, e que tem o apoio da alta gestão.

A maioria desses comitês tem contado com ao menos uma pessoa externa e independente, com experiência e vivência prática no tema, que ajude tanto com visão geral e do mercado, quanto para trazer sugestões, exemplos e ideias que por vezes os colaboradores internos não consideram.

Esse membro externo/independente, ajuda também, a manter a pauta ativa, pois parte do seu papel é exatamente esse.

Nesse formato, advogados e consultores especializados, têm sido convidados a integrar o comitê, e a ajudar a construir um programa individual, efetivo, realista e adequado ao momento e à empresa, tanto trabalhando para a construção de uma mentalidade mais sustentável, quanto adequada à realidade e à cultura da organização.

A experiência tem mostrado, que essa conscientização de que o comitê precisa ser adequado à empresa, ajuda, inclusive, a realizar mapeamentos, ouvir sugestões, avaliar fluxos e práticas, considerar exemplos, considerar demandas internas e dos parceiros, além de demonstrar que dentre as várias ações a serem realizadas muitas deles são rápidas, e nem envolvem custos, enquanto outras precisam ser implementadas a médio ou até a longo prazo, e podem requerer investimentos maiores.

Quanto mais preparada e sustentável a empresa já seja, mais rápidos, menores, naturais, e menos custosos serão os ajustes necessários, embora o Programa de Sustentabilidade, do qual o Comitê é o guardião e o embaixador, seja permanente e pressuponha evolução e melhoria contínua.

A identificação dos profissionais internos que devem participar do comitê depende de vários aspectos, e leva em conta vários fatores, momento em que o membro convidado externo pode ajudar bastante, ajudando a pensar e a criar o comitê. Esses comitês, geralmente congregam colabores (em geral, gerentes) das áreas de recursos humanos, operações, jurídico, compliance e governança corporativa (quando existentes).

Comitês muito grandes, que se reúnam de maneira muito espaçada e que envolvam diretores ou conselheiros, ou que queiram tentar inovar de maneira muito grandiosa, tendem a perder agilidade, mas podem funcionar caso forem os mais adequados ao estilo e à realidade da empresa.

Como o importante é começar, e cada empresa está em um momento, costuma ser importante que o comitê inicie o seu trabalho realizando mapeamentos, fazendo pesquisas, ouvindo ideias e sugestões, revisando iniciativas anteriores que não tenham sido possíveis ou que não tenham gerado os resultados esperados, e organize aos poucos uma pauta de prioridades.

Rapidamente, os comitês costumam identificar o que faz mais sentido, o que já está maduro, o que pode ser implementado rapidamente com os menores investimentos, o que os noholders estão clamando e também o que demanda um plano de transição, pois nem tudo pode (e nem deve) ser mudado em um primeiro momento.

Tanto o programa quanto o comitê devém ser eficazes e permanentes, mas é fundamental que sejam, também, realistas, adequados ao caso concreto e que efetivamente ajudem a empresa.

Empresários, investidores, executivos, comecem de imediato, e com verdade, a verificar o que precisa ser revisto e melhorado, a construir a cultura e a prática da sustentabilidade na sua organização, pois além de ser o certo, já é uma exigência de todos os mercados, e logo pode custar a sobrevivência da sua empresa.

Nessa construção, e como parte das primeiras ações, criem o comitê de sustentabilidade interno, com a participação de membro externo independente – da maneira que funcione na sua organização.

. Por: Leonardo Barém Leite, sócio sênior do escritório Almeida Advogados, especialista em Direito Societário, M&A, Governança Corporativa, ESG, Contratos, Projetos e novos negócios, “Compliance” e Direito Corporativo. E é também arbitro corporativo.

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