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27/07/2022 - 07:54

O novo momento das startups, que precisam ser mais realistas, sustentáveis e rentáveis

Há alguns anos, as startups têm sido as queridinhas dos mercados e dos investidores, no Brasil e no mundo, já havendo vários casos de surgimento de unicórnios realmente impressionantes, especialmente quando conseguem identificar áreas e modelos de negócio de fato inovadores, com efetiva capacidade de crescimento. Mas como costuma ocorrer em períodos de crises e incertezas mundiais, os mercados estão revisando alguns parâmetros e os investidores estão mais cautelosos.

No caso brasileiro, algumas novidades legislativas relativamente recentes ajudaram a melhorar o ambiente normativo para as empresas, especialmente as que incluam novas tecnologias; e em vários campos, o aumento da economia digital, dos aplicativos e do comércio eletrônico deram um maior impulso ao tema.

De fato, a economia digital e o comércio eletrônico vieram para ficar, de maneira que a fase de cautela não precisa gerar pânico, mas sim ajustes.

Ao que tudo indica, o que está ocorrendo, é que a longa lua-de-mel, onde que não existia falta de dinheiro para startups, que reinou até há pouco, pode estar chegando ao fim, trazendo incertezas, preocupações e até mesmo demissões em grande escala; ampliando o debate sobre o alcance da sustentabilidade das empresas que precisa ser também financeira.

Ainda no caso brasileiro, um grande complicador nesse aspecto (que se soma a movimentos em outros países, como nos EUA) é o aumento das taxas de juros, que de um lado deixam as operações das empresas mais caras e de outro podem seduzir alguns investidores que prefiram aplicar seu dinheiro em outras modalidades do mercado financeiro mais seguras.

O momento tem sido de profundos ajustes e de revisões de planos de investimento, que, de certa forma, são comuns e necessários, na expectativa de que as empresas efetivamente viáveis sejam fortalecidas, mas que chamam a atenção.

O que de toda forma parece claro e que se soma aos pontos já comentados, e que vem ocorrendo há algum tempo (trazendo certa preocupação aos mercados e ao setor), é a mudança de perfil de grande parte dos investidores, e de sua relação com os riscos – inclusive geopolíticos. Além, da redução da paciência pela comprovação da viabilidade e pelo retorno.

Temos visto o aumento da busca por grande parte dos investidores por empresas que sejam efetivamente sustentáveis em todos os aspectos, inclusive no ponto financeiro, e que consigam gerar retorno e lucro mais rapidamente.

Praticamente todas as startups são criadas do zero, com pouca estrutura, baseadas em uma ideia que se pretende que seja vitoriosa, precisando muito de investimentos e de vendas/crescimento. E muitas levam anos e muito dinheiro para encontrar o equilíbrio e gerarem lucro.

Na maioria dos casos, as empresas gastam muito dinheiro por longos períodos, na esperança de que consigam depois o equilíbrio e, na sequência, o lucro. Mas é isso que talvez esteja chegando ao fim, ao menos por enquanto.

Essa lógica de mercado foi aceita por investidores que entendiam a necessidade de investir sem retorno por um tempo, aplicando em negócios deficitários, na expectativa de que o crescimento aos poucos fosse gerando equilíbrio e depois retorno e rentabilidade. Em muitos casos, a espera durou longos anos e em outros, nunca houve o retorno.

Tudo indica que, como parte do profundo reajuste econômico mundial, na esteira de crises, como a provocada pela pandemia e seus reflexos, os desafios de logística, guerras e conflitos, escassez de produtos, além de alta inflação, ajustes no câmbio, aumento de taxas de juros, entre outros fatores. Além da crescente conscientização sobre a necessidade de sustentabilidade plena nas empresas, a necessidade de caixa das startups esteja sofrendo muito.

Já são vários os anúncios de redução ou mesmo de retirada de investimentos em startups por parte de grandes grupos investidores, que já não concordam em aplicar dinheiro apenas para aumento de visibilidade ou de vendas, sem retorno e sem lucro.

Especialmente empresas que tinham em seu modelo de negócios uma fase muito longa de investimento, que alguns chamam de “queima de caixa”, para movimentos de marketing e ganho de visibilidade, sem conseguir retorno e vivendo muito tempo no vermelho.

Por exemplo, empresas que antes comemoravam o aumento de cliques, visualizações e seguidores, ou mesmo vendas sem lucro, já estão precisando mudar essa visão, que já não se sustenta e pode estar provocando um grande ajuste no conceito de atratividade das startups como modelo de investimento.

Ainda que muitos analistas indiquem que as startups estão em crise, é preciso que se tenha em mente que crises sempre trazem oportunidades e indicam a necessidade de ser criativo, o que pode ser, inclusive, benéfico para o setor e para os mercados.

Essa nova realidade se soma ao movimento que já vinha ocorrendo, com vistas à sustentabilidade, notadamente a mentalidade ESG, que felizmente parece estar sendo compreendida de forma mais ampla e geral, pois os próprios modelos de negócio das empresas precisam ser sustentáveis, nos aspectos sociais, ambientais e de governança, mas também econômicos. A sustentabilidade precisa ser plena.

Diversas startups, especialmente as mais focadas em tecnologia e automação, demoraram a entender que precisam sim, ser sustentáveis, independentemente do tamanho, do setor, do segmento e do estilo de gestão, e em todos os aspectos.

Algumas chegaram a acreditar que por atuarem apenas em TI, por exemplo, não precisavam se preocupar com questões ambientais ou sociais, e outras, acreditaram que por serem iniciantes e ainda em organização não precisavam se preocupar com a governança e a segurança jurídica das operações.

Os “puxões de orelha” dos mercados às vezes doem, mas costumam ser benéficos, ao ajudar as empresas a entender a necessidade de aplicarem maior foco ao que precisa mesmo ser enfrentado, melhorado e ajustado.

Todas as empresas precisam ser sustentáveis, em todos os pilares e em todos os aspectos da operação e do modelo de negócios, todas precisam encontrar o equilíbrio, inclusive econômico e financeiro.

Espera-se que grande parte das startups que sofrem agora com a retratação dos mercados e a redução do dinheiro que antes era fácil, consigam se reorganizar, e saiam da crise ainda mais fortes.

Recomenda-se, cada vez mais, a investidores, empresários e executivos, que revejam seus planos e projetos, e que consultem especialistas, advogados e consultores especializados, a todo momento, e não apenas quando os problemas já surgiram.

Seguir o caminho mais correto, mais organizado e seguro, costuma ser inclusive, mais barato e mais sustentável.

. Por: Leonardo Barém Leite, sócio sênior do escritório Almeida Advogados, especialista em Direito Societário, M&A, Governança Corporativa, ESG, Contratos, Projetos e novos negócios, “Compliance” e Direito Corporativo. E é também arbitro corporativo.

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