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11/08/2022 - 06:53

Gestão e arte no trabalho: a “liga” que faltava


A cada dia, a arte tem ocupado um papel mais importante no universo das organizações. As escolas de gestão e negócios estão desenvolvendo concepções metodológicas de novas formas de aprendizagem nas quais a arte surge como um elemento inovador.

Alguns estudiosos têm explorado esse universo, como James G. March (Stanford) que trabalha a “Ideia como Arte” e Joseph Badaracco Jr. que tem utilizado a literatura de Sófocles e Shakespeare. Ambos criaram ambientes conversacionais sobre a temática da liderança, do poder, da gestão e da confiança, fazendo paralelos em introspecções produtivas sobre a Arte da Gestão nas empresas.

Já Henry Mintzberg (McGill University-Canadá) tem incentivado os executivos a novas disposições mentais que incluem reflexão, análise e contemplação. Muito se tem falado sobre as experiências do High Concept, como a capacidade de ver novas oportunidades, criar beleza artística e emocional. Trata-se de ir além do superficial e construir narrativas de sentido, produzir diários de bordo em busca de novas experiências que nos dêem mais competência para trabalhar nesta era da repetição e da falta do novo.

Sabemos que o arcabouço conceitual disponível, ainda assentado na modernidade, perdeu sua capacidade de criar campos de significação. É preciso “re-inventar” novas formas de encantar o mundo! A arte não seria, portanto, um novo agregador de valor ao trabalho? Não há aqui uma coincidência entre a era conceitual na arte e no trabalho?

O que se busca hoje nas organizações, é a expressão da subjetividade como fator de produção, atestando de forma “concreta” que jamais podemos, em nenhuma atividade humana, excluir a subjetividade e a intersubjetividade, pois toda obra humana se destina a ser reconhecida (pelo outro). Sendo assim, quais são os novos dispositivos criativos que precisamos colocar em cena para, efetivamente, fazer a “arte da gestão humana no trabalho”? O que a relatividade do olhar tem a ver com antecipar novos produtos, criar um novo olhar/nicho de mercado?

Sabemos historicamente que a indústria cultural transformou o feio em belo, como no Campbel Soup, de Andy Warhol. Vemos aí implicações concretas para a nascente disciplina de marketing: a indústria casa com a arte. O caminho está aberto. A arte e as empresas compartilham hoje a mesma questão que se coloca para o mundo contemporâneo – desafiar classificações e antecipar tendências para sobreviver no aguerrido “Senhor Mercado”.

As tendências indicam uma mudança de temporalidade no espaço da gestão, evocando uma “liderança com arte”. Podemos conceber a Arte da Gestão como um tipo distinto de savoir-faire (saber fazer) que não pode ser dissociado de um savoir-vivre (saber viver). Saber viver com arte ainda é o grande exercício da liderança e por meio do qual obtemos o reconhecimento social.

Chamaremos de um opus técnico, estético e ético, o “bem realizar” do trabalho humano. Esta não seria a verdadeira estrada real se o ouro contemporâneo é o conhecimento? Afinal, o estético também pode (e, muitas vezes, deve) ser ao mesmo tempo, útil e belo. Aqui pensamos a gestão como uma realização humana, compartilhada de forma indissociável nas dimensões técnica, ética e estética da atividade de trabalho.

Na nossa experiência de aprendizagem e conhecimento, em que tentamos transversalizar a Arte pela Gestão, podemos citar algumas iniciativas ensaiadas com êxito: o Museu Interior, na sede do Banco Itaú em São Paulo; a Casa do Saber, no Banco Real em São Paulo; o Museu de Artes e Ofícios, em Belo Horizonte; e o Centro de Arte Contemporânea Inhotim, em Brumadinho (MG). Na Fundação Dom Cabral, realizamos o Varal de Ideias, associando à arte, a linha do tempo dos acontecimentos empreendidos pela humanidade.

Nessa mesma perspectiva, as escolas de gestão deveriam construir e sistematizar experiências retratadas pela arte, estabelecendo hipóteses de co-relação que serviriam de cases para o mundo empresarial.

Devemos nos interrogar como humanidade – se é principalmente no mundo do trabalho que procuramos transmitir significados e valores, por que ainda não fomos capazes de produzir mais experiências estéticas, se o belo é um bem social?

. Por: Ricardo Carvalho, professor e pesquisador em antropologia social, arte e gestão, gestão de pessoas, cultura organizacional, cultura brasileira, comportamento organizacional e liderança na Fundação Dom Cabral. O Professor Carvalho é pós-doutorado em Gestão pela Reims Business School (França), Ph.D. em Sociologia das Mutações pela Université de Paris VII (França), mestre em Psicologia Social e Clínica pelo Conservatoire National des Artes et Métiers (França) e mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (Brasil). Leciona em programas de mestrado, especialização e customizados na FDC. Já lecionou em empresas como Unilever, Embraer, Basf, Allianz, Itaú Unibanco, Anatel, Assodeere, Monsanto, Solar BR Coca Cola, Samarco, Luxottica, Hucam, CCR, Prefeitura RJ, entre outras. Ele também é professor convidado na HEC Montreal (Canadá) e na Reims Management School (França). O professor Ricardo Carvalho é ex-professor da Universidade Federal de Minas Gerais, Fundação João Pinheiro e Centro Universitário UNA. Foi consultor da Unesco/PNUD e Gerente de Avaliação e Acompanhamento de Pessoas e Técnico de Planejamento e Pesquisa da Secretaria de Estado do Trabalho de Minas Gerais. É membro do Criteos da HEC Montreal (Canadá) e autor de livros, artigos técnicos e científicos, publicados no Brasil e no exterior.

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