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08/10/2022 - 08:56

Não era amor: a dor da violência que começou na adolescência


Não são raros os relatos de mulheres que, assim como eu, sofreram e ainda sofrem com a violência praticada por um companheiro ao longo da vida. São anos convivendo com as dores física e psicológica provocadas por abusos que não parecem ter fim. Costumo dizer que a violência contra a mulher começa na cabeça, no psicológico, quando somos desmerecidas, ofendidas e desacreditadas, como se o pesadelo com o qual convivemos fosse, de fato, necessário ser vivido. A partir do emocional abalado, que por si só já é grave, somos atingidas por um tipo de dor até então não vivenciada por nós: a dor física, a lesão corporal, o tapa e a violação.

Esse meu relato é de uma mulher que conheceu a violência ainda na adolescência, aos 14 anos, e que convive com as marcas de tamanha covardia até hoje. A minha história é parecida com a de tantas outras mulheres espalhadas pelo Brasil. A maioria delas ainda não tem voz e, por isso, decidi falar sobre essa dor que não é só minha, mas do retrato da violência que assola nosso país.

Em dados nacionais, disponíveis no Anuário Brasileiro de Segurança Pública deste ano, vemos estatísticas que dizem respeito aos casos de feminicídio, estupro, abuso e outros tipos de agressão à mulher. No dia 10 de outubro, Dia Nacional de Luta contra a Violência à Mulher, quero falar dos crimes que são considerados “novos” pela polícia e que nos ajudam a entender o quão vulneráveis as mulheres se encontram.

Se compararmos o anuário de 2022 com o do ano anterior, percebemos um aumento de 13,6% no número de medidas protetivas concedidas a mulheres vítimas de violência doméstica no Brasil. Como bem esclarece a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa no livro Mentes Perigosas, “o psicopata mora ao lado”. Aqui, entra (ou pelo menos deveria entrar) a justiça, que tem como dever proteger a mulher que convive com seres incapazes de sentir empatia pelo outro e agem de forma tão violenta.

Além dos dados sobre as medidas protetivas, só no último ano foram contabilizadas mais de 27 mil denúncias referentes ao crime de stalking, ou seja, uma espécie de perseguição sofrida pela vítima em algum tipo de relacionamento abusivo. Completando o panorama, são cerca de 8.390 casos registrados de violência psicológica, assunto para o qual dou enfoque neste artigo. A agressão verbal pode adoecer uma mulher na mesma medida que uma lesão corporal machuca, pois os traumas psicológicos existem e causam estragos inimagináveis.

Muitas vezes, os casos de perseguição e violência psicológica são negligenciados pela sociedade, o que acaba corroborando para o agravo de estatísticas ainda piores, como o feminicídio. É nessa etapa que a mulher não consegue mais ser salva, não há mais o que fazer. O “pior” é justamente o fato de estarmos de mãos atadas a partir do momento em que a vida não existe mais ali. A filha, mãe e esposa se vai e o que fica é a revolta por não conseguirmos enquanto sociedade fazer com que a lei seja cumprida e que a mulher esteja protegida.

. Por: Melissa Paula, apresentadora do Programa Saber Viver.

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