SIAL Paris 2022 indica tendências do mercado global de alimentos

Iogurte desidratado em formato de bolinhas, erva mate em pó, pérolas de tapioca, dadinhos de alga marinha são alguns exemplos do que as empresas estão levando para exibir na maior vitrine de produtos alimentícios da Europa.

Ao perambular pelos extensos corredores da SIAL Paris 2022, maior feira de bebidas e alimentos da Europa, entre os mais variados produtos de oito setores e cerca de 200 países, é possível identificar alguns elementos em comum entre eles. O consumidor parece bastante preocupado em saber a origem dos produtos e exigir das empresas o controle de cada etapa da produção, desde o tipo de solo onde se cultiva a matéria-prima até o envasamento e industrialização do produto pronto, a escolha da embalagem e entrega ao consumidor. Isso é o que se chama “rastreabilidade”.

Em qualquer estande que se pare, os vendedores já vão logo destacando que são donos das fazendas onde cultivam o produto e também os responsáveis por confeccionar o design e a estratégia de vendas, apresentando seus múltiplos selos que garantem uma produção sustentável, livre de agrotóxicos, e comércio justo. Tem selo até que garante que o alimento é biodinâmico, ou seja, seu plantio é realizado seguindo as fases da lua — o que parece superstição, mas tem selo de garantia criterioso e toda uma explicação científica.

A cooperativa brasileira dos Costas, por exemplo, que hoje reúne 240 produtores de café de Boa Esperança (MG), atribui seu sucesso à credibilidade dada a ela por meio da certificação “fair trade” e “orgânico”, além do sabor diferenciado do café. “Como temos plantações no alto e embaixo da Serra, temos desde grãos com gostos mais achocolatados até grãos mais amargos”, explica o diretor administrativo da cooperativa, Rander Almeida, que estava em um dos estandes montados pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), responsável por organizar os espaços brasileiros da SIAL Paris.

A Costas entrou no mercado internacional como cooperativa em 2009, inicialmente com 49 produtores, vendendo café cru. Atualmente exporta para países do Oriente Médio, França, Inglaterra entre outros. Segundo Almeida, 82% do seu café vem da agricultura familiar. “O pequeno agricultor não tem muita força sozinho, não é valorizado. A união do grupo em uma cooperativa nos deu mais poder de compra e valor agregado: força para negociar prazos, descontos, preços acessíveis de compra de insumos para a produção. Com os selos, ganhamos força para negociar e fizemos 32 reuniões de negócios com compradores interessados de diversos países”, revela.

O valor da rastreabilidade também aparece no discurso do vendedor de clara de ovo saborizada Egg Pro, um produto feito no Brasil com foco em esportistas. A empresa é também a proprietária da fazenda que cria as galinhas que fornecem os ovos matéria prima da bebida – e também quem processa o produto industrializado e envasado.

Para vidas corridas — Comidinhas fáceis de carregar e de preparar revelam as demandas do mundo corrido de hoje. Por isso, a erva mate, matéria-prima da bebida tradicionalmente gaúcha Chimarrão, está sendo transformada em extrato (a folha em pó) pela marca brasileira Triunfo. Assim, não é preciso deixar a folha por vários minutos em infusão na água quente para a bebida ficar pronta para consumo, basta dissolver o pó e imediatamente já se pode beber. A Triunfo também acompanha o processo da origem (plantação da folha) ao fim (processamento industrial para transformá-la em extrato) e atua na exportação. Havia dez anos que já exportavam a folha quando decidiram construir a fábrica para produzir por conta própria o extrato, quatro anos atrás. E há dois anos passaram a vendê-lo. A empresa já exporta para Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Noruega e França e está prospectando México e República Tcheca.

— Alguns compradores começaram a desenvolver novos produtos usando o extrato de erva mate, como a balinha gelatinosa gummy bear (em formato de ursinho), cosméticos para proteção da pele contra a poluição — pesquisas científicas chinesas comprovaram que a erva mate tem propriedades de proteção de partículas que depois facilita a limpeza da pele. Outro produto que tem sido desenvolvido a partir da erva mate é o perfume. A perspectiva agora é que as vendas do extrato aumentem ainda mais — explica a vendedora do estande da Triunfo na SIAL Paris, Louise Magron.

Outra marca de erva mate, do Uruguai, estava expondo seu produto em um espaço da SIAL que reuniu apenas empresas premiadas internacionalmente pela inovação. A novidade da Yerba Mate Taragui é a venda do “kit erva mate”: eles vendem em uma só embalagem a erva, o copo e o canudo de plástico para tornar mais fácil a vida do consumidor que quer preparar o chimarrão. “O consumo desta bebida tem sido popularizado entre os jovens de diversos países por conta de alguns jogadores de futebol famosos que bebem o drink em campo, como o argentino Leonel Messi, que atualmente joga no time francês Paris Saint German. A Polônia tem sido um grande comprador por conta de um apresentador de televisão famoso que faz o programa consumindo a erva mate”, conta Marcelo Goikawa, fundador da Qualitá, outra marca brasileira de erva mate presente na feira em Paris.

O diferencial desta é o certificado de “orgânico” e “biodinâmico”. O primeiro selo é a garantia da rastreabilidade do produto pela empresa, que não usa agrotóxicos na plantação. Já a característica biodinâmica se refere à produção que segue o calendário lunar, um resgate de um costume antigo de plantar e colher conforme as fases da lua. “Plantando assim, a erva cresce com mais força”, explica Goikawa.

O que também não faltou na SIAL Paris 2022, em estandes qualquer nação, foram exemplos de alimentos desidratados: de frutas a frutos do mar, passando por insetos comestíveis. Uma empresa da Tailândia estava expondo o “Crispy Yogurt”, um iogurte em forma de bolinhas. Além disso, a empresa desenvolveu o “bubble milk tea”, bolinhas de tapioca (ou “pérolas de tapioca”, como anunciam na embalagem) para serem dissolvidas em qualquer tipo de bebida, como leite ou chá, com o intuito de adocicá-la.

Comidinhas decorativas também chamaram a atenção na feira. Como a marca de chocolates decorativos Barbara Decor, que investe no design das formas e cores para transformar o chocolate em verdadeiras peças decorativas que remetem a joias e a flores. Especiarias para enfeitar drinks de bebida alcoólica, como o gin ou a champagne também chamaram a atenção no estande de uma empresa dinamarquesa, que vende kits de purpurina e flores comestíveis com este intuito. E ainda uma impressora coreana para decoração de comida da marca “Seet Box”, que faz desenhos em biscoitos e outros tipos de alimento.

Plânctons — Com a escassez e o alto preço de proteína animal em alguns países, além da preocupação com a vida dos animais, há empresas buscando alternativas no mercado de proteína vegetal. No espaço dos produtos inovadores premiados, a medalha de ouro foi para uma empresa francesa que desenvolveu o dadinho de alga marinha, indo buscar no mar sua matéria-prima. A empresa tailandesa Thai Coconut Public desenvolveu um novo alimento chamado wólffia, uma espécie de ervilha de água congelada, rica em proteínas e nutrientes de plantas.

A preocupação com o meio ambiente também aparece na marca francesa que ganhou o prêmio de inovação por sua embalagem de material 100% reciclado para embalar o leite. Todos estes produtos fazem da SIAL Paris uma provocação aos olhos, ao olfato, ao paladar e também aos estilos de vida. Ao mesmo tempo que mostram ao visitante propostas de novos jeitos de se alimentar e de viver, revelam para que lado o mundo está andando.