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16/06/2008 - 11:08

É preciso utilizar todas as formas de transportes disponíveis de maneira inteligente, argumenta o profesor Rômulo Dante Orrico Filho

Doutor em Urbanismo e Ordenamento Territorial pela Universidade de Paris XII, Rômulo Dante Orrico Filho, admite que para se ter um transporte urbano integrado nas metrópoles brasileiras, a primeira questão é colocar o transporte urbano na agenda política dos governantes: "Em geral, ele só entra na agenda política quando é visto como algo que está atrapalhando o tráfego dos automóveis ou quando representa um ótimo lugar para cortar fitas de inauguração".

Oprofessor Rômulo argumenta que é necessário utilizar todas as formas de transportes disponíveis de maneira inteligente. "As cidades grandes, por exemplo, devem ter sistemas estruturais, seja sobre trilhos ou sobre pneus, dependendo do porte e da capacidade, mas é a mistura inteligente deles que vai indicar o que é mais econômico", diz em entrevista entrevista à Companhia Brasileira de Trens Urbanos e enviada ao Portal Fator Brasil.

Quando perguntado sobre o que se deve mudar para que o transporte urbano seja acessível a todos, Rômulo esclarece que "as redes que desenhamos nos anos 70, que objetivaram trazer as pessoas da periferia para o centro, de maneira rápida e mais barata, já não servem mais. As cidades se tornaram multipolares, o que faz com que tenhamos que repensar essas redes".

A entrevista concedida faz parte da Série "Perspectivas Metroferroviárias - O Transporte e as Cidades", a aconteceu enquanto participava do XXI Congresso da ANPET - Associação Nacional de Pesquisa e Ensino em Transportes, no Rio de Janeiro.

CBTU A Cidade nos Trilhos: Qual é o transporte urbano mais adequado à conservação do meio-ambiente?

. Rômulo Dante Orrico Filho: Na verdade, devemos utilizar todas as formas de transportes disponíveis de maneira inteligente. Sabemos que os sistemas sobre trilhos são sistemas de grande economia, mas eles são úteis onde há grande demanda. Então, temos que pensar em utilizar, de forma inteligente, todos os modos disponíveis. A tecnologia está aí a nosso favor, e não contra. As cidades grandes, por exemplo, devem ter sistemas estruturais, seja sobre trilhos ou sobre pneus, dependendo do porte e da capacidade, mas é a mistura inteligente deles que vai indicar o que é mais econômico.

CBTU A Cidade nos Trilhos: Na sua visão, o que é preciso para se ter um transporte urbano integrado nas metrópoles brasileiras?

. Rômulo Dante Orrico Filho: A primeira questão é colocar o transporte urbano na agenda política dos governantes. Em geral, ele só entra na agenda política quando é visto como algo que está atrapalhando o tráfego dos automóveis ou quando representa um ótimo lugar para cortar fitas de inauguração. Assim, a entrada na agenda política somente deveria acontecer tendo-se clareza de que o transporte público é um elemento dinamizador da economia, facilitador da vida das pessoas, promotor da produção e acumulação de benefícios. A Copa do Mundo, por exemplo, está na agenda política. Temos que criar algo que deixe claro que a vida das pessoas depende do transporte público e, por isso, ele tem que estar na agenda política.

CBTU A Cidade nos Trilhos: O que se deve mudar para que o transporte urbano seja acessível a todos, sem exclusão social?

. Rômulo Dante Orrico Filho: É uma continuidade disso. O transporte público é uma conjugação de pelo menos dois fatores, um ligado à produção do transporte em si, e outro ligado à produção das atividades para as quais ele vai servir. Então, a inclusão social significa pelo menos três atuações. A primeira é repensar a rede de transporte, a partir dessa ótica, considerando que existem pessoas que não têm acesso a ele, mas que cabe ao poder público permitir esse acesso. A segunda é uma leitura extremamente dura, no sentido de compreender que o transporte público gera benefícios para muito mais pessoas além de seus usuários diretos. A conseqüência da situação atual é que existem muitas pessoas que se beneficiam do transporte público, mas não contribuem para ele, o que faz com que muitas pessoas que precisariam usar o transporte público não o usem. Assim, a segunda ação é a reformulação dessa contabilidade, um reexame da parcela de benefícios que é gerada, de modo a fazer com que as pessoas contribuam na medida do benefício que auferem, mas também na medida da sua capacidade de pagamento. Claramente, em bom português, fazer com que os automobilistas que se beneficiam das ruas mais vazias, contribuam também para o transporte público e, com isso, facilitando a vida daqueles que não podem pagar pelo transporte público. Por fim, a terceira atuação é produzir uma nova rede, repensada em função dos novos conceitos das cidades. As redes que desenhamos nos anos 70, que objetivavam trazer as pessoas da periferia para o centro, de maneira rápida e mais barata, já não servem mais. As cidades se tornaram multipolares, o que faz com que tenhamos que repensar essas redes.

CBTU A Cidade nos Trilhos: O VLT seria uma solução?

. Rômulo Dante Orrico Filho: Sem dúvida, o VLT seria uma solução para muitas situações de atendimento a camadas médias de demanda.

CBTU A Cidade nos Trilhos: Inclusive no caso da classe mais pobre, mais carente? Poderia ser também?

Rômulo Dante Orrico Filho: Em muitas situações, sim!

CBTU A Cidade nos Trilhos: Você acredita que poderia ser feita alguma ação emergencial para melhorar o trânsito e o transporte urbano nas cidades?

. Rômulo Dante Orrico Filho: Creio que poderiam ser feitas duas ações emergenciais. A primeira é uma política de estacionamento, já que a facilitação do estacionamento que ora está ocorrendo no Rio de Janeiro, com a criação de grandes estacionamentos privados na área central, somente pode atrair mais automóveis. Assim, a política de estacionamento deveria se reorientar no sentido de transferir os estacionamentos para fora do centro, ou seja, não facilitar a vinda de automóveis para o centro. Não é por causa dos ônibus que o trânsito está ruim. Uma pessoa que está esperando em um ponto de ônibus ainda não entrou no congestionamento, mas já está sofrendo as conseqüências dele. Então, o congestionamento é causado pelo excesso de automóveis, não pelo excesso de ônibus. Assim sendo, a primeira ação emergencial é disciplinar o estacionamento, ou melhor, encarar o estacionamento como um regulador do fluxo de automóveis para o centro. A segunda é repensar a rede de transportes coletivos que, como disse anteriormente, em geral estão focadas numa lógica de cidade que já não existe mais.

CBTU A Cidade nos Trilhos: O setor metroferroviário seria uma solução?

. Rômulo Dante Orrico Filho: Sistemas metroferroviários não são solução de curto prazo. A decisão sobre sua implantação precisa começar a ser decidida em curto prazo, mas como solução em médio prazo. Não se constrói uma linha de metrô em dois anos. || www.cbtu.gov.br

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