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27/01/2023 - 08:27

Quebra de confiança: a crise reputacional do Grupo Americanas


O caso do Grupo Americanas tem recebido a máxima atenção do mercado e de profissionais da área de insolvência nos últimos dias. Algumas questões contribuíram para esse apetite, com destaque para o apelo comercial das devedoras, o tamanho da dívida, a composição do quadro societário, a forma como as informações estão chegando ao mercado.

Não pretendo especular sobre aquilo que não se conhece a fundo (onde reside a verdade, até porque cada um tem a sua), mas é fato que se criou uma guerra de narrativas: de um lado, a devedora, seus gestores e acionistas, sustentando a normalidade; de outro, os credores, patrocinando ataques virulentos, empurrando temperatura e pressão para as alturas.

Há muito tenho sustentado que, ao lado da crise de liquidez, típica das empresas em dificuldade que recorrerem aos instrumentos da Lei de Recuperação de Empresas, existe a reputacional. Meu ponto é: quanto menor a capacidade do devedor de convencer seus credores de que ainda é confiável (e confiança não se lastreia unicamente em patrimônio, mas sobretudo em comportamentos), menos chances de se recorrer a uma recuperação extrajudicial.

Maior será a dependência do Poder Judiciário, para controle da atmosfera. Isso porque a recuperação extrajudicial pressupõe a preservação da capacidade de diálogo do devedor com, pelo menos, a maioria de seus credores sujeitáveis ao plano.

Sem analisar a estrutura de endividamento das Americanas, é fato que a forma como as partes interessadas tomaram conhecimento de que havia “algo” para ser notado (propositalmente, não estou fazendo nenhum juízo sobre “algo”, porque ainda há muita opacidade) contribuiu enormemente para a que o pedido de proteção (tutela antecedente) tivesse tomado a forma de uma recuperação judicial antes mesmo de terminar o prazo de suspensão das dívidas por 30 dias, que havia sido garantido inicialmente.

O caso ensina, portanto, que os instrumentos legais (as recuperações) precisam ser dosados não apenas pela capacidade de geração de caixa, mas também pelo relacionamento com o mercado, e transparência é um valor inegociável para manutenção de laços.

Enfim, para buscar soluções menos invasivas (recuperação extrajudicial), à companhia em dificuldade persiste o mesmo encargo que coube, milênios atrás, à Pompeia Sula, mulher de Cesar: não basta ser honesta, é preciso parecer!

. Por: Juliana Biolchi, advogada, mestre e especialista em revitalização de empresas. É empresária com mais de 25 anos de experiência e palestrante de congressos nacionais e internacionais na área de insolvência empresarial. Diretora da Biolchi Empresarial, Juliana ajuda empresas em dificuldade a se reestruturarem, especialmente através da recuperação extrajudicial. O trabalho é desenvolvido com foco em caixa, revisão de plano de negócios, negociação de endividamento e planejamento.

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