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01/03/2023 - 08:37

Combate aos “alimentos ultraprocessados” não é solução


A população mundial não para de crescer, sendo urgente a busca por sistemas alimentares mais seguros, saudáveis e sustentáveis. Nesse contexto, chamam a atenção as limitações do termo “alimentos ultraprocessados” e a necessidade de bani-los da alimentação, questões que têm embasado estudos do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, desde a adoção da classificação pelo Guia Alimentar para a População Brasileira. Nesse início de 2023, essas preocupações mereceram destaque em carta de posicionamento da FoodDrinkEurope, entidade europeia que reúne dezenas de associações e federações das áreas de alimentos e bebidas.

O senso comum de que há correlação entre maior quantidade de processamento e menor valor nutricional dos alimentos é a primeira incoerência apontada pela instituição internacional, já que são vários os exemplos em que o processamento e a formulação de produtos alimentícios melhoram a qualidade, como o aumento de fibras e a fortificação com micronutrientes. Através da ciência e tecnologia, também é possível produzir alimentos que atendam à crescente demanda do consumidor por dietas que contribuem com a redução do impacto ambiental.

Outro ponto destacado é a contradição e a falta de lógica das classificações que adotam o termo “alimento ultraprocessado”. Após análise de mais de cem documentos técnico-científicos, pesquisadores da Universidade de Surrey e do Conselho Europeu de Informação Alimentar (EFIC) concluíram que a maioria (incluindo a Nova introduzida pelo Guia Alimentar) não é embasada em evidências ligadas à nutrição e ao processamento de alimentos.

A FoodDrinkEurope também pontua que a terminologia não é clara nem para especialistas em nutrição humana e tecnologia de alimentos, que se confundem classificando alimentos saudáveis como ultraprocessados e ultraprocessados como saudáveis. É o que constatou recente estudo francês embasado na classificação Nova, que é a mais referenciada mundialmente.

Mais um tópico destacado pela instituição europeia refere-se às consequências negativas do alerta contrário ao consumo de “ultraprocessados”, pois muitos alimentos que se enquadram nessa classificação são saudáveis, enquanto alimentos feitos em casa não necessariamente o são. Esse contexto pode levar a retirada de produtos saudáveis do mercado, redução da ingestão de fibras e micronutrientes e menor aceitação de inovações que permitem sistemas alimentares mais sustentáveis. A garantia da segurança do alimento produzido pela indústria é outro ponto levantado pela FoodDrinkEurope, já que empresas das áreas de alimentos e bebidas precisam atender rigoroso regulamento de autoridade sanitária para colocar seus produtos no mercado.

Por fim, a entidade europeia lembra que classificações por si só não melhoram a saúde nem protegem o meio ambiente, sendo necessárias, portanto, soluções melhores como o estímulo ao estilo de vida saudável, a inovação com foco em saudabilidade e sustentabilidade, a educação para o consumo consciente, a acessibilidade e o marketing com ética e a transparência.

Começar o ano com esse incisivo posicionamento da FoodDrinkEurope (e de seu diretor geral Dirk Jacobs), conceituada entidade com a qual o Ital interage desde 2015 através de eventos técnico-científicos e visita institucional, é uma grande motivação para a continuidade dos estudos estratégicos e de tendências que o Instituto desenvolve há mais de uma década alinhado à missão de contribuir para a evolução das áreas de alimentos, bebidas e embalagem em benefício do consumidor e da sociedade.

. Por: Luis Madi, membro do CCAS (Conselho Científico Agro Sustentável) e Diretor de Assuntos Institucionais na ITAL - Instituto de Tecnologia de Alimentos. | CCAS — O Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS) é uma organização da Sociedade Civil, criada em 15 de abril de 2011, com domicilio, sede e foro no município de São Paulo-SP, com o objetivo precípuo de discutir temas relacionados à sustentabilidade da agricultura e se posicionar, de maneira clara, sobre o assunto. O CCAS é uma entidade privada, de natureza associativa, sem fins econômicos, pautando suas ações na imparcialidade, ética e transparência, sempre valorizando o conhecimento científico. Os associados do CCAS são profissionais de diferentes formações e áreas de atuação, tanto na área pública quanto privada, que comungam o objetivo comum de pugnar pela sustentabilidade da agricultura brasileira. São profissionais que se destacam por suas atividades técnico-científicas e que se dispõem a apresentar fatos, lastreados em verdades científicas, para comprovar a sustentabilidade das atividades agrícolas. A agricultura, por sua importância fundamental para o país e para cada cidadão, tem sua reputação e imagem em construção, alternando percepções positivas e negativas. É preciso que professores, pesquisadores e especialistas no tema apresentem e discutam suas teses, estudos e opiniões, para melhor informação da sociedade. Não podemos deixar de lembrar que a evolução da civilização só foi possível devido à agricultura. É importante que todo o conhecimento acumulado nas Universidades e Instituições de Pesquisa, assim como a larga experiência dos agricultores, seja colocado à disposição da população, para que a realidade da agricultura, em especial seu caráter de sustentabilidade, transpareça. | Website: http://agriculturasustentavel.org.br e, redes sociais:

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