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25/03/2023 - 07:12

AEB promove o 3º Emex: um debate do papel da mulher no comércio exterior


O evento foi realizado em parceria com o Hub Mulheres no Comex.

A força de trabalho nas atividades de comércio exterior no Brasil é majoritariamente feminina: 58%. Porém, na participação das exportações, somente 20% das empresas são lideradas por mulheres. Os dados são do Hub Mulheres no Comex, uma rede apoio às profissionais do segmento fundado pela empresária Monnike Garcia. —as mulheres têm um papel muito importante no mercado, mais do que podem supor, e devem apoiar umas às outras na jornada das empreendedoras à exportação — atestou a coorganizadora do 3º Encontro Nacional de Mulheres no Comércio Exterior (Emex).

Realizado pela Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), o evento aconteceu no dia 22 de março (quarta-feira), no auditório da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), no Centro do Rio de Janeiro. O presidente da AEB, José Augusto de Castro, destacou o momento especial proporcionado pelo Emex, o primeiro de forma presencial, já que foi criado durante a pandemia. —É uma satisfação ver que a semente plantada por nós em encontros anteriores está dando resultados e, talvez, até contribuindo para estimular outros eventos voltados para mulheres— completou.

José Augusto de Castro, presidente da AEB

O presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), José Roberto Tadros, disse que a valorização do papel das mulheres na área empresarial não é apenas uma questão de justiça, mas o reconhecimento de que a competência e o talento femininos fazem a diferença no mundo dos negócios. —Na CNC, temos apoiado iniciativas e promovido ações baseadas no crescente protagonismo feminino —afirmou o executivo -—também presidente de honra da AEB —, lembrando que a Confederação inaugurou a Câmara das Mulheres Empreendedoras do Comércio no ano passado.

José Roberto Tadros, presidente da CNC

Desafios para exportar —Empresas que exportam pagam melhores salários. Para as mulheres que, em geral, recebem remunerações menores do que as dos homens, os ganhos são maiores nas exportadoras—. A afirmação é da diretora de negócios da Apex Brasil, Ana Paula Repezza, palestrante do painel número 1. Ana Paula explicou que, atualmente, apenas 8% das empresas exportadoras apoiadas pela Apex Brasil são comandadas por mulheres, o que seria resultado de uma série de obstáculos a serem superados, como as dificuldades nas negociações e no acesso a linhas de créditos. Nos últimos dias, a Apex lançou o compromisso de equidade de gênero para garantir que sempre haja equiparação nos cargos de liderança da entidade. Paralelamente, a Apex se mobiliza para dar apoio às empresas lideradas por mulheres que queiram começar ou aumentar as exportações.

Mulher e Amazônia — Os desafios e as oportunidades comerciais da Amazônia para o mundo foram apresentados no painel 2, pela professora Olinda Marinho, empresária amazonense que lidera programas de qualificação e fomento ao empreendedorismo, inovação e comércio exterior na região. Hoje, 275 empresas no Amazonas e 25 em Roraima estão qualificadas para exportar, a maioria atua nos segmentos de alimentação, bebidas, agronegócios, turismo e artesanato. Ao todo, 68 comunidades indígenas, caboclas e quilombolas participam de associações e cooperativas.

— As mulheres indígenas estão à frente de grandes projetos, comandam a economia da tribo, lidam com ferramentas digitais para promover produtos e serviços e têm olhar estratégico para oportunidades externas. Temos muitas graduadas, mestres e doutoras que fazem a diferença por conhecerem a natureza, o clima, as sazonalidades e singularidades locais que, unidas à formação e capacitação, permitem uma transformação sustentável — garantiu Olinda.

Eficiência no comex — O painel 3, foi apresentado por cinco executivas da GE Celma, que aposta na eficiência operacional para competir no mercado internacional. A empresa leva apenas cinco dias para trazer peças e motores de qualquer parte do mundo ao Brasil, desde a implementação do Operador Econômico Autorizado (OEA), em 2018. Até 2002, apenas 38% dos clientes da empresa eram estrangeiros, mas a partir do trágico acidente aéreo no complexo do World Trade Center, as portas para o exterior se escancaram.

Atualmente, 96% das companhias áreas atendidas pela GE são de fora do Brasil. Àquela época, eram necessários 14 dias para fazer o transporte dos motores até os Estados Unidos e, com um trabalho de redesenho e melhorias de processos, esse prazo caiu pela metade, o que também resultou em uma diminuição no custo logístico. Para a gerente de Comércio Exterior, Claudia Teixeira, entender bem os trâmites dos processos de exportação, a legislação e requisitos é fundamental para dar celeridade à saída.

Trabalhadoras informais — Maioria na sociedade brasileira, as mulheres ainda têm participação menor no mercado de trabalho formal em comparação com os homens, como mostrou o painel 4. Proporcionalmente, elas estão em maior número nos trabalhos informais — sem vínculo de emprego, trazendo volatilidade para a renda feminina. Segundo a economista da CNC, Izis Janote Ferreira, o comércio exterior tem um grande potencial para oferecer estrutura para trazê-las ao mercado formal, aumentar suas rendas e integrá-las à sociedade.

Outro desafio a ser enfrentado é a pouca participação das mulheres em setores onde o comex tem maior representatividade, como agropecuária e indústria — apenas 15%. A grande maioria trabalha com serviços. —A mudança desse cenário passa pela igualdade de oportunidades, tanto no mercado de trabalho, quanto nas atividades historicamente atribuídas a elas, como as tarefas domésticas. As mulheres são mais representativas nos ensinos médios e superior, é mais qualificada do que os homens — garantiu Izis.

Negócios internacionais —Em economias emergentes, as mulheres representam 33% da força de trabalho em empresas exportadoras contra 22% em empresas que não exportam. A informalidade de mulheres em setores exportadores é de 13%, enquanto em segmentos de baixa exportação, 20%. Os dados do Banco Central apresentados no painel 5, reforçam como o comércio exterior favorece as profissionais.

A gerente de competitividade da ApexBrasil, Clarissa Furtado, disse que entre os principais problemas que as mulheres enfrentam no mercado, estão a concentração em trabalhos de baixa especialização, a desigualdade salarial e a violência e o assédio. No Brasil, pesquisam indicam que há disparidades na participação de mulheres nos negócios internacionais; só 20% dos acionistas majoritários de empresas exportadoras são mulheres.

Biquínis made in Brazil — Sharon Azulay tinha 17 anos quando o pai morreu de infarto fulminante. O criador da rede de moda praia carioca BlueMan, David Azulay, começou a exportar informalmente, embarcando para a Europa com a mala cheia de biquinis. A sua herdeira enfrentou muitos desafios, profissionalizou as exportações e reestruturou a marca criada há 50 anos. —Temos que lançar coleções a cada seis meses, manter os valores da marca, inovar, olhar para os mercados estrangeiros que mais se identifiquem com a moda brasileira e investir neles. Cada vez mais, mulheres de outros países querem vestir os nossos biquinis, já não precisamos de modelos próprios para exportação. Mas o esforço é grande, é preciso persistir até dar certo —contou Sharon, CEO da BlueMan, durante o painel 6.

Dados globais de gênero — A paridade global de gênero para a participação na força de trabalho tem diminuído lentamente desde 2009. O dado foi apresentado no painel 7 pela gerente de comércio exterior da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Constanza Negri. O quarto trimestre de 2021, apresentou uma taxa de desemprego para as mulheres (7,8%) superior à taxa dos homens (6,5%) em todo o mundo.

Por outro lado, Constanza afirma que a proporção de mulheres que fundou o seu próprio negócio dobrou nos últimos cinco anos. —A parcela de mulheres em cargos de liderança foi em média de 31% no ano passado. Os setores que se destacam são de organizações não-governamentais, educação e serviços pessoais e de cuidados — atestou.

Sobre o índice global de diferença de gênero, que mostra o desempenho comparado entre participação econômica e oportunidades, nível educacional, saúde, sobrevivência e empoderamento político, o Brasil ocupa a 20ª posição na América Latina e Caribe, ficando na frente apenas da Guatemala e Belize. No ranking global, o nosso país é 94º de 146 países.

Propriedade intelectual — Pioneira na luta pela igualdade de oportunidades para as mulheres no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), a pesquisadora Rafaela Guerrante apresentou os próximos passos do recém-criado Comitê Estratégico de Gênero, Diversidade e Inclusão (CEGDI). —Estamos desenvolvendo iniciativas de inclusão desde 2021 e pretendemos que esses projetos ganhem corpo com a criação do comitê — afirmou.

Entre as atividades futuras, o CEGDI pretende promover mentorias para mulheres investidoras, pesquisas nacionais e internacionais com usuárias do sistema de propriedade intelectual e cooperações internacionais para projetos sobre mulheres, entre outros. Em relato pessoal, Rafaela frisou que encontrou muita sororidade e acolhimento quando entrou em uma rede de afinidade, em 2018. “Quem não participa desse tipo de comunidade deveria aderir para ontem! Sempre quis fazer algo pela causa e encontrei mulheres que passaram por desafios similares aos meus, que me fizeram usar como modelo”, completou.

Rede de apoio — A fim de formar uma rede de apoio entre as mulheres, o Hub Mulheres no Comex foi criado em 2017 e já gerou mais de R$ 2 milhões em negócios em prol do empreendedorismo feminino. A vice-presidente, Carolina Marchioli ressaltou durante o painel 9 que a comunidade atua em 16 núcleos no Brasil, além de Alemanha, Portugal e Bélgica, acolhendo mulheres que trabalham com comércio exterior. Atualmente, cerca de 14 mil pessoas participam e consomem os conteúdos nas redes sociais, dividindo dúvidas, trocando experiências e atualizações técnicas.

Por ser um grupo com tanta diversidade de perfis (profissionais e pessoais), é comum que empreendedoras, profissionais e estudantes se encontrem e interajam nas atividades umas das outras, fomentando os negócios da rede. O Hub também atua fazendo pesquisas estatísticas de comex, dando palestras, cursos e promovendo encontros presenciais.

Cases de sucesso — A realidade da Deep Seed Solutions foge ao habitual quando se trata de igualdade de gênero e trabalho no Brasil. Segundo a gerente de Operações da empresa, Priscilla Machado, 57% dos cargos de liderança são ocupados por mulheres, enquanto a média brasileira é de apenas 38%. Os números chamam ainda mais atenção se olharmos para as suas áreas de atuação. Nos setores de tecnologia, energia e ciência, a média de participação feminina em funções de liderança é de somente 11%, 6% e 2%, respectivamente.

Na rotina da analista de Negócios Internacionais de IGT Motors, Rafaella Giulia, o desafio de trabalhar com exportação soma-se ao mercado automotivo ser taxado como um setor masculino, apesar dos números dizerem o contrário. —O percentual de mulheres que compram carro é superior ao dos homens e, quando eles compram, as mulheres influenciam na decisão— ponderou. Segundo Rafaella, a expectativa do trabalho da mulher no comércio internacional é baixa por causa do machismo enraizado na sociedade e pelas culturas mais conservadoras de outros países.

O protagonismo de Rafaella e das outras mulheres na empresa de conversão de veículos em GNV se deve aos avanços tecnológicos. O desenvolvimento trouxe oportunidades de capacitação e promoção nesses cargos predominantemente masculinos e melhoraram a comunicação entre as profissionais e com as redes de apoio.

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