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21/06/2008 - 18:17

Questão da estabilidade social Argentina

A falta de um diálogo aberto e sincero entre a Casa Rosada e o setor agropecuário levou a nação Argentina a uma situação de conflito marcada por enfrentamentos das forças da ordem com manifestantes indignados que, aos gritos, pediam que Cristina Fernández de Kirchner reconsiderasse sua decisão de aplicar impostos sobre as exportações de grãos.

Entendemos que Cristina assumiu a missão de governar um país politicamente dividido, que ainda não conseguiu recuperar-se totalmente das conseqüências sociais das crueldades cometidas pelo regime militar contra os próprios argentinos. Mas também torna-se ambíguo tentar justificar como um país que possui um povo culto e escolarizado se manter dentro de um ciclo de calma e intranqüilidade, do qual esta difícil de sair.

"Quero convocar todos sem rancores, sem ódios. Nós merecemos um país melhor"; dita assim que os resultados das urnas a consagraram como presidente pareceu ser entendida mais como um desabafo que como uma intenção. Advogada de caráter forte e de comportamento temperamental, Cristina se tem mostrado pouco disposta a dialogar, negociar e ceder com as forças políticas que a criticam; assim como com as organizações de classe que representam os trabalhadores.

Este comportamento agressivo, que geralmente se mostra útil quando se está no Senado defendendo projetos partidários, pode vir a gerar um desastre político quando se administra uma nação, especialmente na Argentina, que já conta com uma considerável parcela da população descontente com o desenvolvimento do país e desconfiada das ações políticas do Estado, por terem sido enganados em governos passados. Uma falta de diálogo, com certeza, agrava situações delicadas que poderiam ser suavizadas, e os contornos de discrepância melhor administrados, o que seria altamente benéfico para todos, em particular, para as famílias que nestes dias de caos sofreram com o desabastecimento de produtos alimentícios.

O governo que recém tomou posse, em 10 de dezembro de 2007, já apresenta um sério desgaste político que seguramente será revertido nos próximos meses pela presidente, através de ações que beneficiem a sociedade e o setor industrial, que urgentemente precisa de investimentos externos para crescer e atualizar a defasada base tecnológica que tira competitividade de seus produtos nos concorridos mercados internacionais. Uma falta de dialogo entre Governo e sociedade também costuma afastar os investidores estrangeiros, tornando-os mais cautelosos nas suas decisões de investimentos de capital e de transferências de recursos.

Por sua vez, a inflação vem corroendo com expressiva rapidez os salários de trabalhadores, levando-os a perder seu poder de compra. Os números oficiais indicam uma inflação em torno dos 10%, o que é bastante inferior ao que se registra no mercado. Se a massa trabalhadora vir a exigir correções salariais, é bem provável que a Casa Rosada se veja impedida de atender este tipo de reivindicação por falta de recursos, agravando ainda mais a crise interna.

No plano internacional, a proximidade do presidente venezuelano Hugo Chávez com o governo argentino incomoda a Casa Branca, que vê com maus olhos o comportamento agressivo e prepotente de Chávez na América do Sul, cabendo a Cristina Kirchner a difícil tarefa de equilibrar seus interesses entre Estados Unidos e Venezuela.

A imagem da Argentina no exterior também não é uma das melhores, em decorrência das repetidas crises pelas quais o país tem passado nesses últimos anos. Isso leva uma boa parte da comunidade internacional a pensar que Argentina se encontra em um “beco sem saída”. Idéia amparada também no crescente número de cidadãos argentinos que saem ao exterior em busca de melhores condições de vida.

A movimentação de grandes massas de trabalhadores sempre tem sido uma das características mais marcantes adotada pelo Partido Justicialista, atendendo as idéias populistas do peronismo. Mas este recurso de elevado impacto na luta partidária começa a perder seu efeito a partir do instante que a sociedade sente no bolso a falta de recursos para se sustentar.

Cristina Kirchner tem o grande desafio de reduzir o tamanho do Estado, proteger a agonizante indústria nacional, desregulamentar as operações de comércio, reduzir a carga tributária e criar um clima favorável para investimentos externos. Tarefa nada fácil para quem deseja impor sua vontade e não negociar.

. Por: Rodrigo Herman Ruiz,consultor do Núcleo de Negócios Internacionais da Trevisan Consultoria e professor da Trevisan Escola de Negócios.

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