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26/06/2008 - 11:28

Inovação a serviçoda sustentabilidade

A discussão sobre os caminhos da humanidade para vencer o aquecimento global, reduzir a poluição atmosférica, suprir a demanda de alimentos e produzir combustível renovável e mais limpo não pode prescindir do amálgama da inovação, tecnologia e design. Estes valores devem estar cada vez mais presentes no processo industrial. É inegável, como ficou claríssimo, em Roma, na reunião de cúpula da FAO (Fundo das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), na Semana do Meio Ambiente, que o Brasil é o país que apresenta o melhor conjunto de requisitos para fazer frente àqueles desafios. Suas virtudes, reconhecidas como jamais ocorrera antes pela própria FAO e outros organismos, são a maior área agricultável disponível do mundo, clima e solos propícios, manufatura e agronegócio avançados e, em especial, a capacidade de destilar altos volumes de etanol sem afetar a produção de alimentos.

Em meio a tantos atributos, é importante notar um detalhe: o fator que transformou o etanol de cana-de-açúcar na solução mais viável para suprir a demanda de combustível renovável e menos poluente foi a tecnologia dos motores flex. Ou seja, não nos basta cruzar os braços e aproveitar o “berço esplêndido” de nossa natureza para que se cumpram os prognósticos do século passado de que seríamos “o celeiro do mundo” e as expectativas do presente, de que poderemos ser “a turbina do Planeta”. Já passou da hora de confirmarmos as previsões contidas no livro “Brasil, país do futuro”, escrito na década de 40 pelo austríaco Stefan Zweig, romancista mais lido na Europa naquele período. Para isso, há muito a ser feito. Muito!

Uma das principais vertentes de nossas lições de casa é a inovação no design e engenharia industrial, transcendendo à mecânica e eletrônica. Talento humano! Capacidade criativa! Arte! Tais virtudes, patenteáveis e de inigualável valor, também viabilizam soluções, na mesma proporção em que os motores flex viabilizaram o etanol como combustível e alternativa para reduzir a poluição (a cultura da cana seqüestra carbono da atmosfera e o álcool produz 8,5 vezes menos dióxido de carbono do que a gasolina). Uma boa resposta, aliás, à meta da União Européia, de reduzir as emissões de veículos novos para 120 gramas de Co2 por quilômetro, até 2012.

A utilização de materiais plásticos, mais leves, também deve contribuir para diminuir a emissão, pois quanto menor o peso dos carros, menos combustível consomem. O mesmo aplica-se ao design, na busca de taxas cada vez melhores de penetração aerodinâmica, o que pode ser definido de modo mais amplo como design for environment. Da mesma forma, não devem ser descartadas inovações como a produção de plástico de etanol. O “carro verde”, contendo componentes feitos desse material, como a carroçaria “colhida” nos canaviais, poderá ser viável.

Porém, é preciso um espírito irreverente, que sintetize tecnologia em projetos de alta inovação criativa, buscando-se formas não convencionais, que explorem as possibilidades de novos materiais e meios. Estar atento a esses “novos/velhos” movimentos é estar lúcido e consciente de que a única coisa certa é a mudança, como diz um ditado chinês: “Somente em contínua evolução é que poderemos estar imersos na realidade”.

O pressuposto da inventividade, enfim, coloca-se como fator capaz de potencializar as vantagens competitivas do Brasil na luta pela sustentabilidade. Que o governo, portanto, solucione os gargalos da infra-estrutura, garanta a soberania e a integridade ecológica da Amazônia, tenha melhores políticas de investimento agrícola, industrial e em P&D e continue o empenho em romper as resistências às soluções brasileiras para o desafio da alimentação e energia, além de facilitar o acesso ao credito, inclusive aos que já se dedicam à inventividade. À iniciativa privada, como já vem fazendo com maestria, cabe consolidar a inovação como fator do desenvolvimento. Porém, há um explícito descompasso entre o seu ritmo e a letargia no setor público.

Os desafios a serem vencidos pelo Brasil podem ser definidos por um pensamento do designer italiano Bruno Munari: “Saber ver o mundo de modo mais profundo e imaginativo significa saber pensar com maior elasticidade e liberdade”. Tal consciência, infelizmente ainda ausente em muitos, é imprescindível.

. Por: Esther Faingold, administradora de empresas, pós-graduada em Historia da Arte pela FAAP, é CEO da Mueller — fabricante de conjuntos de material plástico para indústria automotiva e de informática.

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