Quando nasce um grande líder?

Talentos ou habilidades em comum não explicam o sucesso de grandes líderes. A chave para decifrá-los está na infância, nas histórias de vida de cada um. Essa é a principal conclusão de Bill George e Peter Sims depois de analisar o passado de 125 executivos, empreendedores e empresários.

“Tudo que você precisa para ser um grande líder já está dentro de você”, concluíram Bill George e Peter Sims depois de entrevistarem 125 estrelas do mundo corporativo americano, sejam executivos, empreendedores e empresários. Suas revelações estão no livro “Confie em você – sua história de vida define sua liderança”, que acaba de ser lançado no Brasil pela editora Saraiva em parceria com a editora Versar.

Publicado em 2007 nos Estados Unidos, “Confie em você” analisa uma questão fundamental nos negócios: de onde vem o estilo de liderança de cada um? Primeiro, os autores descobriram de onde não vem: da escola, da faculdade, dos amigos, de MBAs. Segundo, afirmam que todos os livros que tenham atribuir características comuns (perseverança, automotivação, audácia, apreço ou ímpeto por correr riscos, por exemplo) para traçar um perfil e explicar as peculiaridades e o sucesso de grandes líderes estão errados.

De onde vem então? De acordo com “Confie em você”, a única coisa que une os maiores e melhores líderes é que eles confiaram em si mesmos a ponto de seguir seus princípios, mesmo que eles divergissem das diretrizes da empresa. Esses líderes encontraram em seu passado, nos acontecimentos da infância ou da juventude, em suas histórias de vida enfim, o senso de missão de suas carreiras. Ao olhar para dentro de si, encontraram o propósito do presente e o sentido do futuro. Encontraram a direção a seguir para alcançar objetivos, superar metas e conquistar grandes realizações.

Os entrevistados incluem nomes ilustres como Howard Schultz, fundador da Starbucks; Daniel Vasella, presidente do conselho de administração da indústria farmacêutica Novartis; Andréa Jung, presidente mundial da Avon; Jeff Immel, sucessor de Jack Welch no comando da multinacional de serviços e tecnologia, General Electric; personalidades como a apresentadora Oprah Winfrey do The Oprah Winfrey Show; entre outros líderes que não são tão conhecidos aqui no Brasil, mas que têm feito importantes contribuições em diferentes segmentos.

“Confie em você” traz uma nova perspectiva sobre o estilo de liderança, um dos assuntos mais estudados e menos compreendidos do mundo dos negócios.

Sobre os autores: Bill George e Peter Sims poderiam, sem dúvidas, estar na lista de entrevistados. Bill, enquanto presidiu a Medtronic, líder mundial em tecnologia médica, o valor de mercado da empresa teve uma média de crescimento de 35% ao ano, saltou de 1,1 bilhão para 60 bilhões de dólares.

Também é autor do best-seller Authentic Leadership (fez parte da lista dos livros mais vendidos dos EUA), é consultor, professor de práticas de gestão na Harvard Business School e foi nomeado um dos “25 Principais Líderes de Negócios dos Últimos 25 Anos” pela PBS (Public Broadcasting Service).

Já Peter Sims foi um dos fundadores do escritório londrino da Summit Partners, líder em investimentos globais. Idealizou a disciplina “Perspectivas em Liderança” na Stanford Graduate School Business, além de contribuir para várias publicações, como a Harvard Business Review.

Alguns líderes inspiradores: 1. A rede de cafeterias Starbucks, fundada por Howard Schultz, foi a primeira grande empresa americana, talvez do mundo, a estender benefícios (médicos, por exemplo) a todos os seus funcionários, inclusive os temporários. De onde nasceu essa iniciativa ousada, que, ao contrariar os manuais de administração, gerou uma legião de funcionários com um grau de satisfação praticamente sem precedentes? (A Starbucks, com essa medida, teve uma das menores taxas de turn over do mundo, para uma empresa do seu tamanho). A semente da idéia, ou sua motivação, está na história de vida de Schultz. Quando era garoto, seu pai, que era caminhoneiro, escorreu no gelo e quebrou a perna. Numa tacada só, perdeu o emprego e os respectivos benefícios. Sem dinheiro e com muitas dívidas, a família passou frio e fome. “As dificuldades de meu pai estão intimamente relacionadas à cultura e aos valores da Starbucks. Eu queria criar uma empresa na qual meu pai nunca teve chance de trabalhar, onde você possa ser respeitado e valorizado, não importa de onde veio, da cor da pele ou do grau de instrução”, diz Schultz.

2. Aos oito anos, Dan Vasella, presidente do conselho e CEO do laboratório Novartis, teve tuberculosa seguida de meningite. Para tratar-se, passou um ano sozinho, internado num sanatório. Sofreu com a solidão, com a ausência dos pais, com a dor das injeções aplicadas por médicos rudes e, sobretudo, com a brutalidade das enfermeiras que o imobilizavam para que ele tomasse as injeções sem se mexer. Certa vez, no entanto, um novo médico, em vez de apelar para a força, explicou calmamente a Vasella o que iria fazer, para que servia a injeção, como ela iria ajudá-lo. Permitiu que Dan segurasse a mão da enfermeira, em vez de ser imobilizado por ela. Pela primeira vez, a injeção não doeu. Em gratidão, deu um abraço no médico, que lhe retribuiu o gesto. “Esses gestos tão humanos de interesse e compaixão me tocaram profundamente e me ajudaram a definir o tipo que pessoa que eu queria ser quando crescesse”, diz Vasella. Já presidente da Novartis, Vasella descobriu nos laboratórios da empresa um medicamento para um tipo de leucemia que estava praticamente jogado às traças. Apesar dos ótimos resultados nos testes clínicos, estava encostado devido às baixas projeções de vendas. Vasella mandou retomar o projeto, fazendo o máximo para baixar seu preço. Hoje o Gleevec é um dos principais medicamentos para o tratamento de leucemia mielóide crônica. “No final das contas, a única coisa que importa é o que fazemos ou deixamos de fazer pelas outras pessoas”, diz Vasella, ainda ecoando o gesto do médico que o tratou com compaixão quando era garoto.

Editoras: Versar e Saraiva, com lançamento em junho de 2008, 264 páginas, por R$ 39,00. Contém: Apêndice A e B, com informações sobre a pesquisa e os pesquisadores, além do nome, cargo e idade dos 125 entrevistados.