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28/06/2008 - 09:28

Descontrole da Inflação?

Em termos financeiros não existe nada mais perverso para a sociedade do que elevadas taxas de inflação. De forma simplista, a inflação pode ser definida como a perda do poder de compra da moeda. Nos últimos meses de 1989 e início de 1990, num processo de hiperinflação, foi possível observar taxa mensal de inflação de 80%. O exato significado desse fato está na perda do poder aquisitivo do salário, ou seja, um salário de $1.000,00 no início do mês manteria ao final do mês capacidade de compra de $200,00. A população brasileira já experimentou esse veneno e conhece perfeitamente bem os efeitos de um surto inflacionário – descontrole que pode colocar a perder todas as conquistas econômicas de um país.

Existem vários índices de inflação calculados no país, dentre os quais destaco o IPCA, ou Índice de Preços ao Consumidor Amplo. Isso porque ele é o índice pelo qual o Banco Central monitora o processo inflacionário. O Bacen adota o padrão de "Metas Para a Inflação". Define-se uma Meta (%) e uma Banda (p.p) com Limite Inferior e Superior. Desde sua implantação, em 1999, a inflação superou o Limite Superior em 2001 (era de 4%, mas atingiu 7,67%), 2002 (3,5%/12,53%) e 2003 (4%/9,3%). Para 2008, a meta é de 4,5% - igual aos três últimos anos.

O IPCA é calculado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e reflete o custo de vida para famílias com renda mensal de 1 a 40 salários mínimos. A pesquisa é realizada em 9 regiões metropolitanas, observadas as ponderações entre parênteses: São Paulo (28,46%); Rio de Janeiro (12,52%); Belo Horizonte (11,36%); Salvador (9,10%); Porto Alegre (7,83%); Recife (7,10%); Brasília (6,92%); Fortaleza (5,61%); e Belém (4,20%).

A questão que se coloca é relativa às providencias que poderiam ou poderão ser adotadas com o objetivo de conter o surto inflacionário, sabendo-se, ainda, que o mundo experimenta um processo de alta de inflação decorrente de vários componentes. Em comum, pode-se destacar a crise dos Estados Unidos (princípio de inflação e de recessão), o choque do petróleo, os preços das commodities em geral e, em especial, das agrícolas.

Tem-se, assim, uma percepção global de descontrole inflacionário. A vantagem é que os Bancos Centrais nunca estiveram tão bem instrumentados para medir, acompanhar e combater a inflação. Cabe a eles agir com o rigor técnico que é de competência, através das suas políticas monetárias. No Brasil, o Bacen utilizou e utiliza o "remédio" à sua disposição (pelo menos o mais eficiente), elevando a taxa de juros até preventivamente.

Da ata do Copom de 03 e 04 de junho de 2008 - quando definiu-se o aumento de 0,5 p.p para 12,25% ao ano - cabe destacar que "o Copom avalia que a persistência de uma atuação cautelosa e tempestiva da política monetária tem sido fundamental para aumentar a probabilidade de que, mesmo diante de pressões inflacionárias em escala global, a inflação no Brasil siga evoluindo segundo a trajetória de metas". Importante ressaltar também que "o Comitê acredita que a atual postura de política monetária, a ser mantida enquanto for necessária, irá assegurar a convergência da inflação para a trajetória de metas."

Pode-se perceber nos comentários constantes da ata em questão, a decisão do Copom em não esmorecer no intuito de conter a inflação nos limites das Bandas e convergente para a Meta de Inflação. De modo geral, os principais analistas têm feito uma leitura que o Banco Central não abrirá mão da ortodoxia na política monetária. Ou seja, o Bacen manterá o aperto monetário enquanto for necessário. Pode-se concluir por elevações das taxas de juros de forma contínua, ou seja, elevações de 0,5 ponto percentual até a devida convergência para a meta. Não se deve esperar, assim, uma elevação abrupta da taxa de juros e muito menos acomodamento do Bacen antes de uma clara convergência das taxas de inflação para dentro da faixa aceitável para 2008.

Por outro lado, pode-se perceber clara intenção de se adequar a estratégia da política monetária às circunstancias. Ou seja, tão prontamente haja alteração no perfil de riscos que impliquem modificação no cenário, a política monetária será adequada e ajustada às novas expectativas. Tudo indica que o Banco Central está solitário nessa luta de combater a inflação. O Copom e o Bacen somente podem tomar medidas de Política Monetária e nesse caso tem que recorrer a elevação da taxa de juros "para esfriar a economia", não tem outro jeito.

Seria necessário que o resto do Governo entrasse "nessa briga" para que a taxa de juros não fosse o único instrumento disponível. As reformas estruturais que poderiam reduzir o tamanho do Estado e ao mesmo tempo dar mais eficiência à "Máquina Administrativa" foram totalmente abandonadas e precisam ser retomadas. É absolutamente necessário que o Governo reduza suas despesas elevando mais significativamente o superávit primário. Desta forma as pressões inflacionárias pelo lado da demanda poderiam ser amenizadas e, consequentemente, aperto monetário, necessário para controlar a inflação, menor.

Se o Estado fosse uma empresa privada, o seu gestor certamente iria procurar equilibrar suas finanças gastando menos do que recebe; procuraria melhorar seu EBITDA e seu Fluxo de Caixa; alongaria e reduziria seu endividamento negociando suas dívidas a taxas mais baixas. Ainda mais como Investment Grade, o governo poderia fazer isso tudo. Parece faltar disposição política.

Nos tempos atuais o governo agiu corretamente em relação às Reservas Internacionais. Em 1998 as reservas montavam US$44,6 bilhões e a Dívida Externa, US$223,8 bilhões. Uma estratégia política de intervenção no Mercado de Dólar, assim como redução, também estratégica da dívida externa levou em janeiro de 2008 a um volume de reservas de US$196,5 bilhões para uma Dívida Externa de US$181,23 bilhões, gerando um superávit de US$4,73 bilhões. Tratamento similar pode e deve ser dispensado à dívida interna, propiciando condições para redução consistente das taxas de juros. É preciso, conforme já destacado, gastar menos!

Como nada acontece, o mercado já trabalha com sucessivos aumentos da taxa Selic, 0,5% a cada reunião, projetando uma taxa básica de 14,25% ao final do ano. É o fim da picada!

. Por: Paulo Ângelo Carvalho de Souza, Presidente Apimec-MG (www.apimecmg.com.br ).

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