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08/07/2008 - 08:55

A Copa do Mundo de 2014 será a oportunidade para os metrôs

Certo de que nos próximos anos o transporte sobre trilhos terá um crescimento expressivo, mas com a participação mais atuante da iniciativa privada, o presidente da Trensurb, Marco Arildo, vê com satisfação as perspectivas e desafios do setor metroferroviário. "Eu não tenho a menor dúvida que estamos construindo um novo marco regulatório para o sistema". Segundo Marco Arildo, para se ter transporte de passageiros sobre trilhos em outras cidades brasileiras é fundamental que haja, por parte do administrador, a escolha efetiva do metrô, e o metrô custar menos do que custa hoje, na implantação e manutenção.

A Trensurb é uma empresa vinculada ao Ministério das Cidades e estruturadora do transporte de passageiros sobre trilhos da Região Metropolitana de Porto Alegre e que, segundo o presidente, em janeiro deste ano, 74% das despesas foram pagas com a receita própria. "Aumentamos as tarifas para 13% e a demanda aumentou 6%, então foi o melhor momento da história da empresa", destaca.

Em sua entrevista à Série "Perspectivas Metroferroviárias - O Transporte e as Cidades", enquanto participava do Seminário Metroferroviário da Associação Nacional de Transporte Público - ANTP, em 28 de março deste ano, Marco Arildo, apontou diversas questões que, em sua visão, são relevantes para o transporte público, inclusive assegurou que a Copa do Mundo de 2014 será a oportunidade para os metrôs. "Em 1992, a Olimpíada em Barcelona deixou um legado para a cidade monumental: linhas de metrôs, novas avenidas". A seguir, veja a entrevista na íntegra realizada pela Companhia Brasileira de Trens Urbanos - CBTU:

CBTU A Cidade nos Trilhos: Qual é a sua visão sobre o transporte urbano de passageiros nas cidades brasileiras?

. Marco Arildo: Ele é fundamental para atividade econômica, mas o transporte na cidade tem que ser atualizado. Nós temos hoje algumas experiências importantes como Recife, a Fundação do Consórcio Metropolitano, e Curitiba, que diferentemente do conjunto das cidades brasileiras, tem uma cultura de planejamento. Nós temos que construir redes integradas de transporte que articule todos os modais. Precisamos facilitar o acesso ao transporte e para isso a questão da 'integração tarifa' é fundamental. Curitiba tem hoje uma tarifa para toda a região metropolitana. Qualquer cidade da região metropolitana de Curitiba que você acessar o sistema, vai para qualquer lugar com a mesma tarifa. Isso é importante por baratear muito. Curitiba, por exemplo, a tarifa dominical é um real e trouxe um benefício real e concreto: conseguiram elevar o número de passageiros no domingo por causa do valor da tarifa.

Estamos vivendo um momento novo, onde temos que construir. Acho que a tarefa para os administradores das cidades e das empresas é articular os sistemas e construir redes de transporte integradas. No Brasil, não tem previsão legal nas regiões metropolitanas de gestão compartilhada. Agora, tem a figura do consórcio público que pode suprir essa lacuna. Mas, mesmo assim, ainda depende muito da vontade política e o que vemos são partidos diferentes no estado e na prefeitura e disputa política em coisas que não tem que fazer disputa política, tem que ter integração institucional. Os projetos de transporte precisam ter convergência de apoio para poderem acontecer. A cultura pouco republicana no estado brasileiro acaba emperrando o projeto, dificultando o planejamento.

Em Porto Alegre, estamos tentando, com muita dificuldade e muita disputa política. É preciso o governador respeitar o prefeito que não é do mesmo partido e transferir a verba, e o mesmo deve fazer o presidente. Cada um faz a sua parte e todos saem com uma "mãozinha" de cada um. Um projeto não é do fulano nem do beltrano. Com essa desarticulação política do setor público no setor de transporte, o setor privado acaba impondo os seus interesses em cima do interesse público. Por isso, no Brasil, o setor privado deve estar submetido ao interesse público, ou seja, ser uma concessão pública. Até defendo as concessões. Tenho feito muito essa crítica da ineficiência do setor público. Na minha visão, o transporte público tem papel fundamental, mas, no Brasil, para ficar ruim tem que melhorar muito. A situação de Porto Alegre, por exemplo, existe a rede Municipal, o trem, a rede intermunicipal e ainda as integrações do trem, que é uma outra rede. Todas sobrepostas. Só tem integração no trem, o resto é tudo desarticulado.

CBTU A Cidade nos Trilhos: Quais são as perspectivas e desafios para os transportes sobre trilhos nas cidades brasileiras nos próximos anos?

. Marco Arildo: Eu acho que são positivos porque estamos entrando em um novo ciclo, um ciclo positivo na economia, de crescimento econômico. Tenho um exemplo da TRENSURB: em janeiro de 2008, aumentamos as tarifas para 13% e a demanda aumentou 6%, então janeiro foi o melhor momento da história da empresa; nós pagamos 74% das nossas despesas com a receita própria. Mais um pouquinho, a gente consegue até se auto-sustentar, ainda falta, mas esse também é um dos objetivos que perseguimos. Então, aliado ao crescimento econômico, eu não tenho dúvida que nós vamos ter um crescimento expressivo do transporte sobre trilhos, não no modelo que temos agora, isso eu também tenho muita clareza, vamos ter mais participação da iniciativa privada, tanto no investimento, quanto no controle das operações da empresa. O Estado vai investir dinheiro e a iniciativa privada vai operar o sistema através das PPPs e das concessões. Isso, obviamente, para o sistema é muito positivo, porque, no caso da Trensurb, nós consumimos no ano passado cem milhões de reais do Governo Federal para sustentar a empresa. Se nós não precisássemos do Governo Federal para sustentar a empresa, como o Metrô do Rio, com esses cem milhões poderíamos estar cavando buraco lá em Porto Alegre, aumentando a rede metroviária. Então, eu não tenho a menor dúvida que estamos construindo um novo marco regulatório para o sistema. Já temos no Brasil mais de 95% do transporte na mão da iniciativa privada. O que o poder público tem que exercer é o seu papel, que é um papel fundamental de planejar e organizar as redes. Mas a operação, eu defendo, tem que ser exercida pela iniciativa privada, pela sua eficiência.

Eu não entro no debate de um estado mínimo ou de um estado máximo. O estado tem que ser eficiente para aquilo que se propõe para aquilo que foi criado. E o que é ser eficiente? É cumprir os seus objetivos da melhor forma, com o menor custo possível. Então, eu não tenho dúvida de que vai ter uma expansão nos próximos anos no transporte metroviário, principalmente. Por quê? Porque tem a Copa de 2014, isso é outra coisa que vai pressionar os governos, as prefeituras e os estados. A Copa do Mundo de 2014 é a oportunidade para os metrôs. Em 1992, a Olimpíada em Barcelona deixou um legado para a cidade monumental: linhas de metrô, novas avenidas. Foi um momento que eles usaram para reorganizar a cidade, que tinha seu centro histórico degradado, mas a partir dali Barcelona é outra. Se tivermos inteligência e capacidade, vamos fazer o mesmo nas cidades brasileiras. Preparar a cidade para não só receber bem as pessoas que vem de fora, mas construir um conjunto de serviços, como o metrô, que possam qualificar dali para frente a vida naquela cidade e ser um modelo.

Mas, primeiro, precisamos rever a forma desintegrada de fazer as coisas no Brasil. Em Porto Alegre, estamos a quatro anos sentando na mesa e elaborando os estudos juntos: a prefeitura de Porto Alegre, PMDB; o governo do estado, PSDB e nós, na TRENSURB, representando o Governo Federal, PT. Para nós, tem sido uma experiência importante e, assim, a gente vai acertando as questões do lado público. Mas precisamos atrair investimentos do setor privado. Hoje, mais de 80% das pessoas no Brasil vivem nas cidades. Então, eu não tenho nenhuma dúvida de que os próximos anos serão de muito trabalho para os metrôs: construção, ampliação, modernização.

CBTU A Cidade nos Trilhos: O que falta para termos transporte sobre trilhos nas cidades brasileiras?

. Marco Arildo: Acho que duas coisas fundamentais: que haja, por parte do administrador, a escolha efetiva do metrô, e o metrô custar menos do que custa hoje, tanto para implantação, quanto manutenção. Hoje, por exemplo, a TRENSURB, que é uma empresa pequena, talvez a menor do Brasil de metrô, consome 100 milhões de reais por ano. É preciso custar mais barato para o poder público, ser muito mais eficiente e ter redes integradas e articuladas com o sistema de transporte da região.

CBTU A Cidade nos Trilhos: Quais são os projetos atuais e futuros para o transporte urbano no âmbito de sua administração para o ano de 2008, a médio e longo prazo?

. Marco Arildo: Temos três projetos para redefinirmos o futuro da empresa. O primeiro é a conclusão da linha que operamos na região metropolitana de Porto Alegre. Cruzamos cinco municípios, vamos chegar ao sexto e último município, são mais 9,3 km todo em elevado, completando assim o projeto original do trem. O segundo é começar a construção do metrô dentro de Porto Alegre, subterrâneo, um metrô leve que estamos projetando. O metrô de Porto Alegre, depois de concluído o anel, será um metrô circular; estaremos transportando mais de 1 milhão de pessoas. O nosso primeiro objetivo é a Copa de 2014, então conseguir terminar esse primeiro tramo do metrô que vai ligar o centro da cidade aos estádios, já integrado à linha atual - Linha 1 no centro de Porto Alegre. O terceiro projeto é testar o Aeromóvel. Temos o projeto há quase 30 anos parado em Porto Alegre e que não passou por um teste que pudesse dizer que o sistema funciona, que é bom, então estamos construindo, com garantia de recursos, uma linha de 800m desse sistema inovador do terminal de passageiros do aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, até nossa estação Aeroporto. Com essa ligação do metrô ao aeroporto, você desce do trem e em 1 minuto está no aeroporto, ele funcionará como um elevador horizontal, todo automático: você aperta um botão, abre a porta, entra e sai no aeroporto. É um sistema inovador. Nessa linha o custo é R$23 milhões, o nosso estudo de viabilidade, aponta que em seis anos investimento estará pago só com o incremento da demanda que vai proporcionar o Aeromóvel. Para ter uma idéia, temos no aeroporto 6 mil pessoas trabalhando, só as que trabalham no aeroporto, dessas 6 mil, apenas 2 mil vão para o aeroporto de trem porque tem 800 metros para caminhar, então tem a questão da segurança, desconforto, o clima - inverno frio e verão quente - caminhar no sol, na chuva, no frio é difícil. Eu não tenho dúvida que só com essa demanda, dos trabalhadores do aeroporto, pagamos esse investimento em 6 anos. E eu não me canso de dizer: esse projeto, logo, logo, vai ser um dos primeiros itens da pauta de exportação do Estado do Rio Grande do Sul, trazendo renda para o estado, consolidando e movimentando a indústria. Nós vamos certificar esse sistema e não tenho dúvida que vai se tornar uma opção muito atraente, pelo baixo custo de implantação e pelo irrisório custo de manutenção. É um sistema de ventilação, com um túnel de vento, como se fosse um barco com a vela invertida e tem um túnel onde sai ar comprimido que sobe. Motores estacionários geram esse vento que impulsiona o Aeromóvel. Não tem tração nas rodas, não acelera e não freia nas rodas, o que significa: não tem desgaste roda X trilho. O único equipamento que ele tem embarcado é a maquina de abrir e fechar portas, só, mais nada. O que o move é a vela dentro do túnel. Todo o mecanismo de freiar e acelerar é com o vento embaixo. Vai ser o maior sucesso!

CBTU A Cidade nos Trilhos: E quanto ao sistema de bilhetagem na TRENSURB?

. Marco Arildo: Estamos testando máquinas que vendem bilhetes e dão troco e como o nosso sistema de bilhetagem eletrônica está bem moderno, conseguimos atualizar agora no último período, vamos ter convênios com a Caixa e em qualquer loteria esportiva o usuário pode carregar o seu cartão. Vamos ter uma política tarifária diferente, nosso bloqueio tem leitor de entrada e saída, então vamos poder ter tarifa por trecho, por horário. A idéia é ter, no pico, uma tarifa mais cara e no vale, uma mais barata; e uma tarifa municipal. Mas isso só é possível no cartão, no bilhete não dá, é uma única tarifa. Para se ter esses benefício só migrando para o cartão.

CBTU A Cidade nos Trilhos: E a modernização dos trens da TRENSURB?

. Marco Arildo: Estamos trocando os freios, colocando freios ABS, eletroprocessado, muito mais eficientes e comprando o tacógrafo. Vamos trocar os motores dos trens, com isso vamos reduzir em 40% o custo da nossa energia, esse investimento se paga em oito anos e teremos motores novos, pois os que existem, tem mais de 20 anos de uso.

CBTU A Cidade nos Trilhos: Para a TRENSURB, vale a pena comprar trens novos?

. Marco Arildo: Vale, pois melhora o serviço. Os trens que estão com os freios novos fazem o percurso em dois minutos mais rápido. É muito mais eficiente, pois você chega com mais velocidade na estação e pára, o outro vem freando, pneumático velho. Vamos comprar trens, mas precisamos tomar uma decisão: vamos ter dois tipos de trem, os velhos e os novos? Ou vamos ter uma oficina só?

A minha esperança é que a decisão, que não é uma decisão do presidente da TRENSURB, seja por ter uma frota nova, com uma única manutenção, ganhar escala, ter um único pátio, senão terei um pátio velho e um pátio novo podendo otimizar tudo. Essa é uma decisão que deverá ser tomada logo adiante, se manter a mesma frota ou se vai substituí-la e fazer o mesmo equipamento nas duas linhas.

Hoje se usa o conceito das bacias, sempre chega numa estação subindo e sai da estação descendo, ou seja, se usa menos freio pois a gravidade ajuda parar o trem e ao sair, utiliza menos energia. Então, sempre de uma estação para outra tem uma bacia.

Sugeri que pegassem a direção da TRENSURB, CBTU e todas as operadoras e levassem para conhecer o sistema do Chile, é estatal e eles tiveram 17 milhões de dólares ano passado. Será que nós somos tão burros assim que não conseguimos nem copiar os outros? Vamos lá olhar! O meu pessoal eu vou levar para conhecer a experiência e trazer para cá. Afinal, não podemos nos acomodar. || www.cbtu.gov.br

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