Quando começa a brincadeira?

Em Barangandão Arco-Íris o arte-educador Adelsin mostra que a brincadeira começa com a vontade de brincar.

Durante dez anos o arte-educador Adelsin viajou por Minas Gerais e pela Bahia observando, brincando e aprendendo com centenas de crianças a construir ‘brinquedos encantados’ com quase nada. Dessa experiência nasceu o livro Barangandão Arco-Íris – 36 brinquedos inventados por meninos e meninas, lançado pela Editora Peirópolis. “Um dia, passado o susto de estar adulto, a gente descobre, outra vez, a maravilha de brincar”, relata o autor.

O processo de criação destes 36 brinquedos fortalece a premissa de que a brincadeira começa quando há vontade de brincar. A simplicidade do processo de criação, dos materiais utilizados, do modo de fazer e do próprio ato de brincar, reflete o que a professora Lídia Hortélio aponta no prefácio: “Quanto mais menino / tanto mais poético / Quanto mais poético / tanto mais verdadeiro”.

“É preciso fazer uma reflexão renovada sobre o valor da infância. A criança espera sua hora. Vivemos um momento de muita inquietação. Tamanha complexidade e aceleração dependam talvez de um gesto pequenino, mas decisivo o bastante para mudar os destinos do mundo”, acrescenta Hortélio.

Barangandão Arco-Íris é esse gesto pequenino. O título remete a um dos brinquedos apresentados na obra, nascido em Salvador, que utiliza um objeto (pedra, caroço de manga, pau...) com uma extremidade amarrada em uma linha e a outra em fitas de papel crepom, as quais a partir dos movimentos realizados pela criança remetem ao adjetivo “Arco-Íris”.

Essa liberdade de improviso e de expressão criativa é a força motriz de todo o trabalho do arte-educador. Com o título, Adelsin não pretende apresentar um formato e sim um meio de diálogo entre a criança e a vida, que não pode lhe ser privado por questões educacionais, pedagógicas ou socioeconômicas.

Antes de cada um dos quatro blocos em que os brinquedos foram agrupados, por características comuns, há um Diário de Bordo. “Para que as descobertas não se perdessem, registrei num Diário de bordo o momento precioso em que aprendi cada brinquedo”, comenta Adelsin.

O autor (por Adelsin) - Nasci em outubro de 60. Já fiz muita coisa nesta vida, mas o que mais me dá alegria – aquilo de que mais me orgulho – é ter sido menino.

Menino da periferia de uma Belo Horizonte que tinha muito verde e quintais. Passava o dia construindo meus brinquedos, brincando com o mato, com os meninos e os cachorros.

Mas, aos 11 anos, fui morar em um apartamento na região central da cidade. Ainda me lembro do cheiro da primeira noite e de que chorei. Chorei naquela e nas outras que viriam. Saudade das árvores, dos amigos, do quintal onde enterrei meus segredos embrulhadinhos em plástico e da infância que ameaçava morrer.

Cheguei então à janela e, olhando o pouco céu de estrela nenhuma, decidi, naquele instante, que minha vida seria, enquanto eu vivo fosse, pelos meninos e pelos quintais.

Perfil da Editora Peirópolis - Criada em 1994, como unidade de sustentabilidade da Fundação Peirópolis – entidade sem fins lucrativos de interesse público federal, a Editora Peirópolis tem como missão contribuir para a construção de um mundo mais solidário, justo e harmônico, publicando literatura que ofereça novas perspectivas para a compreensão do ser humano e do seu papel no planeta. Suas linhas editoriais oferecem formas renovadas de trabalhar temas como a ética, cidadania, pluralidade cultural, desenvolvimento social, ecologia e meio ambiente – por meio de uma visão transdisciplinar e integrada. Além disso, é pioneira em coleções dedicadas à literatura indígena, à mitologia africana e ao folclore brasileiro. A editora está absolutamente afinada com os propósitos do terceiro setor, participando ativamente do crescente movimento de sua profissionalização.

Editora: Editora Peirópolis | Formato: 19 x 20 cm | ISBN: 978-85-7596-138-4 | Preço: R$ 27,00 | www.editorapeiropolis.com.br