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25/07/2008 - 13:37

Uma pedra de aço no caminho do crescimento industrial

Não há dúvida de que grande parte das indústrias brasileiras vive hoje o seu melhor momento. A demanda aquecida, principalmente na área automotiva, que sempre foi a ponta de lança para os demais segmentos produtivos e que impulsiona o desenvolvimento de outros elos da cadeia - direta ou indiretamente ligados a ela -, assim como as perspectivas promissoras trazidas com o anúncio do Plano de Desenvolvimento Produtivo, anunciada em maio último pelo presidente Lula, são elementos que trazem certo otimismo para a classe empresarial. Mas como tudo sempre tem dois lados, a “pedra no sapato” da vez é a questão do aço.

Presente como insumo básico em vários segmentos industriais, nunca se consumiu tanto aço no mercado interno, em suas diferentes classificações, como nos últimos tempos. Se de um lado, as siderúrgicas comemoram o fato, acreditando que o setor vive seus anos de ouro, como bem disse Rinaldo Campos Soares ao se despedir da presidência do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS) e passar o cargo para Flávio Roberto de Azevedo, no início de junho, os industriais em geral, e os do setor de ferramentas em particular, mostram certa apreensão. Incomoda e pesa nos custos destas empresas a elevação da ordem de 34% no preço dos aços planos laminados a frio, verificada no primeiro trimestre deste ano, assim como o aumento de 38,6% do preço dos aços planos laminados a quente, de 85,2% dos aços fio-máquina laminados a quente e de 28% do aço rápido, nesse mesmo espaço de tempo. Preocupa também a previsão de que haverá novos aumentos nos próximos meses.

Essas elevações de preço causam grande impacto no setor de ferramentas uma vez que o peso do aço na fabricação desses produtos varia de 25% a 35%, sendo que em alguns tipos de ferramentas, como é o caso das serras manuais, chega a ser de até 70%. É uma das principais matérias-primas para o setor e, portanto, se o seu preço aumenta, não há como deixar de repassar esse custo aos produtos finais. Mas, por incrível que pareça, dos males, esse é o menor. O derradeiro e grande temor dos industriais é a possibilidade de o aço vir a faltar, em decorrência do aumento excessivo da demanda. Se não houver um bom planejamento da parte das siderúrgicas, isso fatalmente poderá ocorrer.

Já há casos de fabricantes de ferramentas que viram os pedidos de aumento da quantidade de aço serem negados por seus fornecedores habituais, pela incapacidade de atendimento, apesar de muitas siderúrgicas estarem diminuindo as exportações em cerca de 36% para conseguir responder à demanda interna. A alternativa para os usuários, nesses casos, é recorrer à importação, o que igualmente não garante sucesso, uma vez que países como China, Índia e Japão, tradicionais fornecedores de aço, também aumentaram a demanda interna e estão reduzindo seus volumes destinados à exportação.

O setor visualiza um futuro nublado e controverso, com pressão nos custos causado pelos aumentos de preço dos insumos e da mão-de-obra. Se de um lado a economia está aquecida e apresenta crescimento da demanda, de outro, a supervalorização do real favorece e entrada de produtos com valor menor, criando patamares de preços que a produção nacional, pressionada pelo aumento de custos, não consegue atingir, perdendo com isso a sua competitividade.

Esse cenário é alarmante porque impede que o setor de ferramentas possa aproveitar a boa maré da economia e crescer nas mesmas proporções de outros segmentos. Apenas a título de exemplo, a indústria de ferramentas deverá fechar 2008 com crescimento da ordem de 6% a 8%, enquanto a indústria automotiva estima algo próximo a 30%.

No horizonte em que, apesar de haver um sol radiante, também se aproximam nuvens carregadas, resta aos empresários a esperança de que os bons ventos afastem as mais ameaçadoras. Espera-se que todos os planos anunciados pelas companhias siderúrgicas e pelo IBS, que prevêem grandes investimentos para aumentar a produção de aço de forma a atender a demanda interna a curto, médio e longo prazos, sejam concretizados de fato. A indústria brasileira precisa disso para crescer e manter-se competitiva tanto internamente, como no exterior.

. Por: José Duílio Justi é presidente da Cooper Tools e do Sinafer – Sindicato da Indústria de Artefatos de Ferro, Metais e Ferramentas em Geral no Estado de São Paulo.

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