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06/08/2008 - 08:43

País terá alternativa segura para o amianto em 2009

A Radici Fibras, de São José dos Campos, já iniciou os investimentos para produzir fibra acrílica de alta performance, voltada para o uso na construção civil.

Dentro de oito meses, em março de 2009, o Brasil terá à disposição uma alternativa técnica e economicamente viável para o amianto, cuja proibição de uso no Estado de São Paulo acaba de ser referendada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Trata-se da fibra acrílica (PAN) de alta perfomance, que vem sendo desenvolvida em São José dos Campos (SP) pela empresa de capital italiano Radici Fibras, com apoio da Finep – Financiadora de Estudos e Projetos, do governo federal. A indústria já investiu R$ 4 milhões no projeto e planeja iniciar a produção em março próximo, oferecendo ao mercado brasileiro, já em 2009, 10 mil toneladas/ano do produto, volume equivalente a 50% da demanda anual de amianto para uso em fibrocimento.

Embora proibido em mais de 40 países há pelo menos duas décadas e apontado por organizações internacionais como cancerígeno, o amianto continua sendo usado em diversos estados brasileiros, especialmente na construção civil.

A insistência na utilização do produto se deve ao seu baixo custo e características técnicas favoráveis, mas há um crescente movimento de oposição a ele na sociedade brasileira. Diversas construtoras, por exemplo, já se recusam a utilizar em suas obras telhas, caixas d’água e outras peças de fibrocimento que contenham amianto, pois sabem que, se não o fizerem, vão enfrentar a resistência dos compradores dos imóveis. Da mesma forma, é cada vez maior o número de governos estaduais e municipais que vêm adotando restrições legais ao uso do amianto.

Até agora, as aparentes vantagens econômicas e técnicas do amianto vinham se sobrepondo aos seus efeitos negativos sobre a saúde pública e impedindo, por falta de demanda, o desenvolvimento de alternativas seguras. A situação, no entanto, já começou a mudar.

Diversas pesquisas para o desenvolvimento de fibras naturais ou sintéticas que possam substituir o amianto estão em andamento. Universidades importantes como a USP e a Federal de São Carlos tem equipes envolvidas com a pesquisa de alternativas economicamente viáveis e tecnicamente eficientes. Essas pesquisas têm também o apoio de fabricantes de fibras sintéticas, mesmo sem uma legislação que favoreça a pesquisa, uma vez que é grande o potencial de negócios representado pelos produtos em desenvolvimento.

Meio ambiente - Para a Radici Fibras, a decisão de investir na produção da fibra acrílica de alta performance é uma conseqüência natural da própria história da empresa. “A Radici tem tradição no uso de tecnologias limpas. Somos uma empresa familiar, criada pelo meu avô, na Itália, e sempre acreditamos que nosso primeiro compromisso é com o meio ambiente, o que inclui o bem estar e a saúde das pessoas. Só depois analisamos a viabilidade econômica de um projeto”, afirma Luciano Radici, diretor superintendente da empresa.

Certa de que a nova fibra irá contribuir para resolver um problema de saúde pública e que também é um bom negócio, a diretoria da Radici já deu os primeiros passos para o início da produção de PAN de alta performance. Uma linha de produção piloto já está em funcionamento na fábrica de São José dos Campos e R$ 4 milhões estão sendo investidos este ano para a aquisição de equipamentos. “Depois, vamos investir mais R$ 1 milhão por ano até 2010”, conta Luciano Radici.

Presença mundial - Criado em 1946 como uma indústria têxtil, o RadiciGroup tem sede em Bérgamo, na Itália, e está hoje presente também nas indústrias química, de plásticos e fibras, além de têxteis. Mantém 60 fábricas em diferentes países e emprega 4.132 pessoas. A empresa chegou ao Brasil em 1997, instalando a sua planta de plásticos de engenharia e, em 1998, adquiriu a carteira de ativos de outro player local. No mesmo ano, o grupo adquiriu a planta de fibras acrílicas da Rhodia em São José dos Campos. Em 2007, o grupo faturou, em todo o mundo, € 1,9 bilhão. Está presente na maioria dos países europeus, nos Estados Unidos, na Ásia e na Argentina, além do Brasil.

Decisão do supremo - No Estado de S. Paulo, o uso do amianto em qualquer produto havia sido proibido pela lei estadual 12.684, de 2007. Os efeitos da lei, no entanto, haviam sido suspensos por liminar concedida pelo ministro do STF Marco Aurélio Mello em ação direta de inconstitucionalidade impetrada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria (CNTI). No dia 4 de junho passado, porém, por sete votos a três, o STF considerou a lei constitucional, validando a proibição.

Joaquim Barbosa, um dos ministros que votaram pela proibição, citou estudos científicos que comprovam a existência de doenças relacionadas ao uso do amianto e afirmou que a lei paulista está respaldada pela Convenção 162 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), um compromisso assumido pelo Brasil, no âmbito internacional, para resguardar os trabalhadores do contato com o produto.

Ataque à saúde - A mortalidade por doenças causadas pelo amianto no Brasil foi tema de uma pesquisa conduzida pelo Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh), da Fiocruz, com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O trabalho mostrou que, de 1980 a 2003, mais de 2.400 pessoas morreram em decorrência do mesotelioma, câncer quase exclusivamente causado pela exposição ao amianto.

Ao longo dos 23 anos estudados, a mortalidade por mesotelioma foi crescente: houve 50 óbitos em 1980, contra 179 em 2003 – e os números podem estar subestimados, principalmente devido à dificuldade de diagnóstico. O maior número de mortes foi registrado nas regiões Sul e Sudeste. São Paulo e Rio de Janeiro foram os estados com mais óbitos no período estudado: 691 e 422, respectivamente. “Isso já era previsto, devido à concentração populacional nessas regiões”, conta o médico Francisco Pedra, um dos responsáveis pela pesquisa. Com o atual boom da construção civil, esse problema deverá ser amplificado no futuro.

Preço baixo - Apesar de todos os problemas, o amianto continua dominando o mercado em razão de seu baixo preço e da resistência de algumas indústrias de fibrocimento a trocar sua matéria-prima. No entanto, de acordo com Alessandro Coelho, gerente do Departamento Técnico da Radici Fibras, o preço pode ser uma vantagem apenas aparente do amianto.

“Apesar de seu baixo custo unitário, menos de US$ 0,75/kg, o amianto chega a compor até 8% da matriz de fibrocimento, enquanto as fibras sintéticas em geral são usadas em quantidades abaixo de 2% e tem preço que varia em torno de US$ 3,5 a US$ 20/kg. Feitas as contas, se percebe que a vantagem não é tão grande para o amianto”, explica.

Coelho lembra ainda que outro fator importante a ser considerado é o passivo ambiental gerado pelo uso em larga escala do amianto. “No futuro, quando for necessário fazer reformas ou demolir os imóveis construídos com materiais que têm amianto em sua formulação, teremos um grande problema. Dependendo do estágio da legislação nessa ocasião, a disposição desse material pode representar um custo financeiro significativo, como ocorre atualmente com produtos tóxicos que eram largamente usados no passado e hoje representam um grande problema na hora de eliminá-los”, conclui. | www.radicifibras.com.br

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