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29/08/2008 - 11:55

Cititer, altiter, fortiter

Algumas palavras sobre as Olimpíadas.

À la minceur dês épluchures, on voit la grandeur des nations (Jacques Brel).

Concluída a Olimpíada de Pequim, sobrou um vasto material para devaneio. Sem pretender ser o dono da verdade, vamos selecionar alguns tópicos.

Obviamente, o governo fez o possível para que Nossopresidente possa entoar seu refrão preferido: "Nunca antes neste (agora já diz neste) país houve semelhante fartura de medalhas". Faltou combinar com os outros.

De fato, houve algumas decepções: nossos 3 campeões mundiais de judô conseguiram apenas uma medalha de bronze, nossa seleção feminina de futebol não derrotou os EUA, a "família Bernardinho" teve que se contentar com a prata, o vôlei de praia feminino não freqüentou o pódio e por aí vai.

E daí?

Se tudo tivesse dado certo, o Brasil seria um país melhor? É possível, é razoável, está na cara não haver engano ao postular que não.

Nosso presidente deixou de faturar esses dividendos, mas fora isso, nada prova que nossa caminhada rica em tropeços, na ausência dessas desilusões, teria mostrado o Brasil diferente do que ele é. Federações, Confederações, Comitê Olímpico juntaram seus esforços para bem pouco.

Alguns conceitos terão de ser revistos? Com certeza.

Entre outras coisas, ficou provado que o papel de treinador é de cimentar um grupo e não colocar seu precioso ego acima de tudo. Gerente gerencia, deputado deputa etc. Possivelmente, o senhor Bernardo , levantador reserva em 1984 e treinador bem sucedido a seguir, faturará menos com suas palestras sobre motivação. Possivelmente sua gesticulação frenética já não servirá de modelo para seu sucessor. O gerente emérito conseguiu o grupo que desejava, descartando um elemento que , dizem, fez falta. Analogamente, o treinador do time feminino de basquete, descartou o maior talento – Iziane – em nome de algum princípio avançado de administração. Dirão eles: "Assumo a responsabilidade". Isso significa o quê? Oferecerão seus bens à penhora?

Houve fatalidades? Claro que sim. Diego Hypolito comprovou de forma triste a universalidade da lei da gravidade. A gravidade da lei, quando um habeas corpus teria ido tão bem!

A cobertura jornalística foi sofrível. Manchetes para Phelps, Bolt, "nossosmedalhistas". E o resto? Para encontrar os resultados era preciso recorrer a Internet.

Esse gênero de cobertura nada mais faz a não ser sepultar de vez o quase inexistente espírito olímpico. Quem souber que uma pentatleta brasileira tinha algumas chances de medalha levante a mão. Páginas e mais páginas dedicadas ao Dungateam, seu temores e tremores e pouco, muito pouco para os demais.

Na natação, Cielo brilhou e como seus familiares deixaram bem claro, seria inútil procurar a origem desse maravilhoso feito num hipotético, mas inexistente apoio oficial. Aos que acham que o importante são medalhas só resta colocar as mãos nas ilhargas e reclamar. Thiago fez bonito, Gabriele Silva também. A nenhuma mente vagamente iluminada poderia ocorrer que os Jogos Olímpicos seriam uma cópia carbono dos jogos Panamericanos.

Sem Baloubet de Rouet, Rufus não colocou nossa equitação onde devia. Chupa Chup dopado! Parece que no silêncio da cocheira, ele consentiu que uma misteriosa pomada o tirasse da luta por medalhas.

Por falar em cavalos, nosso Dungateam mostrou prudência ao evitar o confronto com os perigosos nigerianos. Uma vez já basta! Melhor perder de quem temos medo!

A cobertura televisiva foi um episódio a ser esquecido. Com tanta gente entendida, tivemos que aturar comentaristas de uma chatice que beirou o insulto. É verdade que sempre que surgia o horário eleitoral, a preferência recaía sobre os chatinhos. Dá para entender. Bem feito para nós. Agora temos de aturar essa indignidade gratuita e obrigatória. Ainda bem que existe TV a cabo.

Uma última palavra sobre a maratona.

Dos três participantes, apenas Telles concluiu a prova. Justamente o mais desconhecido. Os heróis Frank e Marilson abandonaram, desapontados com o próprio desempenho. – Não há notícia de alguma contusão grave. Lamentável. Lamentável que não tenham concluído, não que não houvesse contusão. Ninguém queria que seguissem o exemplo de Fidípedes e morressem ao cruzar a linha de chegada, mas terminar, sem morrer, teria sido mais digno. Essa gente corre diariamente distâncias da mesma ordem de grandeza que a maratona. Faltou-lhes o quê exatamente? Aquilo que sobrou à suíça Gabrielle Andersen, na sua chegada cambaleante na maratona de Los Angeles 1984.

Agora, vamos ouvir falar no PAC esportivo com recursos do pré-sal e podemos desde já ficar preparados para a inútil, para não dizer nociva, campanha RIO 2016. Se bem que, se até lá superarmos todos os nossos problemas por que não? Desde que não se use o superávit primário para tanto, até que seria bom. Já estamos mudando as rotinas contábeis. Falta mudar a realidade.

. Por: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, é autor de ´Almanaque Anacrônico`, ´Versos Anacrônicos`, ´Apetite Famélico`, ´Mãos Outonais`, ´Sessão da Tarde`, ´Desespero Provisório` , ´Não basta sonhar` e o recente livro/peça ´Um Triângulo de Bermudas`. (Ed. Totalidade). Confira nas livrarias Cultura (www.livrariacultura.com.br), Saraiva (www.livrariasaraiva.com.br), Laselva (www.laselva.com.br) e Siciliano (www.siciliano.com.br).| E-mail do autor: [email protected]

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