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02/09/2008 - 11:20

E o medo, venceu a esperança?

Para um brasileiro medianamente informado, é até natural que nos EUA haja um certo desconforto com o presente, devido às políticas genocidas adotadas pelo governo Bush ao longo de oito anos de mandato. Tais atitudes abalaram decisivamente a boa imagem do país - construída a partir da Segunda Guerra Mundial - e trouxe perspectivas negativas para o futuro da população, principalmente depois das recentes crises imobiliária e de credibilidade do sistema financeiro.

Por esse motivo, é compreensível que os estadunidenses estejam de "baixo-astral"; um sentimento distinto do que se percebe no Brasil, por exemplo, onde "a esperança venceu o medo".

Assim como nos EUA, porém, se percebe uma mesma sensação de desilusão com o futuro entre a população européia. Prova disso está registrada em dois livros recentes e de grande repercussão no exterior: um de Jacques Attali (Uma breve história do futuro) e outro de Fareed Zakaria (O Mundo Pós-americano), ambos caudatários do ideário neoliberal e que apresentam cenários pouco sedutores.

O último capítulo da obra de Attali, intitulado "E a França?", apresenta recomendações destinadas aos candidatos ao pleito presidencial de 2006 para "reformar" o país com clichês do neoliberalismo, como menos Estado, reforma da previdência, entre outros. Curiosamente, esse é o mesmo discurso utilizado na América Latina durante a década de 1990, com os resultados já conhecidos entre esses países, que, acriticamente, seguiram as recomendações neoliberais servíveis apenas ao sub-continente, mas não à terra do Tio Sam.

Não por acaso, Nicolás Sarkozy nomeou o autor de Uma Breve História do Futuro para dirigir a comissão encarregada do crescimento econômico da França, conforme Matilde Azerot (Politis Magazine, ps. 1012-1014, Julho/agosto de 2008).

Nessa mesma linha, a obra de Fareed Zakaria faz recomendações ao próximo presidente dos EUA para "libertar o país do medo", lembrando ser estranho que a nação mais poderosa do mundo também seja a mais amedrontada: lá se teme os terroristas, os imigrantes, os muçulmanos, o livre comércio internacional, as empresas estrangeiras, as organizações internacionais, etc. etc.

Já em artigo publicado no Le Monde Diplomatique (agosto de 2008), Hubert Védrine apresenta Zakaria como "um dos pensadores neoconservadores que vêm influenciando decisivamente o pensamento de Obama".

O que se percebe é que na Europa se respiram aqueles mesmos ares de desesperança e perplexidade frente ao futuro vivenciados pela América Latina nos anos 90, época em que era uma "falta de educação" falar publicamente em intervencionismo, regulação do mercado e proteção social, de tão determinante que era a ideologia neoliberal, então sinônimo de uma inevitável globalização que hoje sabemos não ser o único caminho a ser seguido pelos governos no mundo.

Onde foram aplicadas tais idéias, só aumentaram os índices de exclusão social. Ou seja: é uma teoria que deu errado na prática. Mas ao que se parece, o ideário neoliberal ainda resiste - e com força - na Europa e EUA, apesar de seu fracasso.

Diferentemente do Brasil, no Velho Mundo o medo parece ter vencido a esperança.

. Por: Wilson Ramos Filho, doutor em Direito e professor de Direito do Trabalho da Univerisdade Federal do Paraná (UFPR) e da UniBrasil. Atualmente, cursa pós-doutorado na École de Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris.

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